Ignorado

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Uryuu em seu quarto, tomou os remédios receitados por Isshin e deitou para dormir. Não encontrou com o seu pai aquela noite e nem foi obrigado a isso. O que o ofereceu alguma paz e a chance de tentar ignorar sua volta. Lembrando-se do dia que tivera e ainda vestido com as roupas de Ichigo, por que elas traziam um cheiro muito bom dele, o remédio logo o derrubou.

Com o passar dos dias se restringiu a ficar somente em seu quarto comendo qualquer coisa que o traziam, ficou sabendo assim que seu pai nem na mansão estava desde domingo. Na quarta o medico já conhecido apareceu na mansão para o consultar a mando de seu pai, mas Uryuu só permitiu ir com ele para tirarem seu sangue e fizesse os exames de raio x e ultrassom só para confirmar que tudo estava ok.

Ichigo se manteve preocupado, e os dias passando sem notícia alguma apenas piorava tudo. Considerava muito ir á mansão procurar por ele, já que o mesmo não respondia pelo celular, mas ele já havia sido bem claro dizendo que não poderia jamais fazer isso.

Ah, que se ferrasse todo seu egoísmo! Ichigo gritava em seu próprio quarto e quase por pouco, muito mesmo, não ia naquele lugar. Só não foi na quinta, que era o dia que já tinha esgotado toda sua paciência, porque seu pai o aconselhou a não o fazer.

Precisava ter mais calma, parecia que sempre tinha que ter com o moreno e Ichigo odiava isso. Esperou, Uryuu estava apenas se recuperando, sabia, mas não o ver, não confirmar suas melhoras com seus próprios olhos e ainda ele estando com o homem que o agredia debaixo do mesmo teto! Era demais pedir que se acalmasse!

Afinal, foi sincero ao dizer aquelas palavras que não tiveram resposta nem sequer reação.

Mesmo assim não ficou com raiva, nunca chegou a pensar que Uryuu se jogaria em seus braços de primeira, não que também estivesse planejando conquista-lo, sua vontade no momento era apenas de repreendê-lo muito por fazê-lo pensar tanto nele. Também já era complicado por si mesmo.

A semana passou lenta, de agonia para o ruivo e na segunda, de pé na porta da classe com rosto de sono estava Uryuu, com suas roupas de sempre, o moletom mais que bem colocado por cima das calças sociais.

As marcas no pescoço já estavam bem mais apagadas o que poderia ser explicado por alguma alergia se alguém se interessasse em perguntar, havia um band aid na bochecha, mas não parecia ser algo que despertaria muito o interesse dos outros colegas.

Ele pediu licença por estar chegando atrasado e depois de permitida com surpresa pelo professor de matemática, entrou se dirigindo à mesa de sempre. Sem oferecer sequer um olhar para Ichigo mais atrás.

Aquilo fez o sangue do ruivo ferver! Ele todo preocupado orquestrando mil formas de se invadir uma mansão protegida até demais e aquele egoísta - passou a se referir assim ao garoto na última semana - voltava com caras e bocas o ignorando completamente! Mesmo assim somente fechou o punho resignado e esperou.

Porém chegou em seu limite quando passado aquele dia não conseguiu nenhum momento para falar com o Ishida, que o evitava de tal forma que deveria ser invejado e elogiado. Então percebeu que realmente o desejo do outro era cumprir a maldita mensagem, na verdade já estava cumprindo, mas o ruivo estava obstinado a fazer Uryuu desistir disso. Então quando deu o intervalo pôde vê-lo de longe pela janela da biblioteca sentado em uma mesa com um livro nas mãos, não perdeu tempo.

A biblioteca tinha um cheiro agradável que acalmava, era grande, cheia de mesas e com estantes maiores que qualquer pessoa daquele colégio abarrotadas de livros. Ichigo se aproximou da mesa perto da janela maior, puxou uma cadeira de frente ao moreno de óculos e se sentou de braços cruzados.

Uryuu nem o olhou somente arrumou os óculos sobre o nariz com os olhos ainda no livro grosso aberto.

- Como você está?

Foi o que Ichigo conseguiu perguntar, não era o que planejava falar, na verdade queria dizer tudo que estava sentindo e o quanto o moreno era um filho da puta egoísta por não o informar de alguma maneira de seu estado ou responde-lo por mais que enviasse mensagens todos os dias.

Mas talvez fosse mesmo melhor não ter falado tudo isso, não queria afasta-lo mais.

Uryuu não o olhou.

- Estou bem. – Disse indiferente passando a página, Ichigo bateu de leve os punhos fechados na mesa assim ganhando mais atenção.

- Olha para mim. – Conseguiu o que “pediu” encarando as íris escuras. – Eu estava preocupado com você.

Uryuu não moveu sequer um músculo facial, apático.

- Eu posso me cuidar sozinho Ichigo.

- Mesmo assim, seus machucados, está conseguindo cuidar direito? – Sua voz abaixou ainda o olhando firme e Uryuu ficou um pouco nervoso olhando os lados vendo se havia mais alguém por perto.

- Eu posso cuidar disso Kurosaki, é sério, não se preocupe. Agora com licença. – Fechou o livro se erguendo, porém parou sentindo a mão em seu pulso. – Pare, não insista. Você não está colaborando com isso... Pare também de ligar senão eu vou trocar de número. Obrigado pelo que fez naquele dia, mas eu quero esquecer. – tentou se afastar, mas Ichigo não o soltou.

- Você é a pessoa mais egoísta e complicada que eu já vi. É tão difícil assim ficar perto de alguém e receber ajuda?!

Se encaravam seriamente, ambos não desejando sair de suas decisões.

Uryuu se desvencilhou da mão do ruivo se afastando mais e desviando o olhar, mas o murmúrio foi muito bem ouvido.

- Você não pode me ajudar.

...

Uryuu encostou no banco do pátio aberto da escola e suspirou. Ali poderia tentar ter alguma paz finalmente, abriu o livro para novamente tentar distrair a mente. Estava cansado de pensar tanto, de fingir, de tentar afastar Ichigo. E aquele só era o primeiro dia que voltou e já não via sentido em nada... o que estava havendo consigo? Isso era totalmente estranho e cansativo.

Precisava muito dos seus novos calmantes.

- Sabe, não é que eu esteja apaixonada, é que o Ichigo tem jeito, o que posso fazer? – O nome vindo de trás do banco despertou Uryuu que paralisou não olhando para trás.

- Isso aqui todo mundo com olhos sabe, mas eu te conheço amiga: você está caidinha por ele e sabe minha opinião sobre isso. – Outra garota disse. Elas estavam bem próximas, talvez sentadas no jardim de baixo totalmente ignorantes para o Ishida no banco mais em cima atrás de uma árvore.

- Que nada, vocês nem tem certeza... – A garota voltou a falar incerta e Uryuu tinha certeza que era a morena da qual Ichigo vivia fugindo.

- Todo mundo sabe, você vai se meter em furada, e se ele te bater ou sei lá, te viciar em drogas?

- Nada a ver, ele não é nada violento! – Defendeu sem graça.

Uryuu se remexeu incomodado e irritado.

- Só estou dizendo que seu nome vai para o lixo se você se envolver mais com ele. – Ela suspirou fundo e dramática. – Você é louca... Mas ele realmente é um gato.

- Demais infelizmente eu não estou vendo ele mais nas festas, ele não me escapa na próxima. Ichigo será meu, você vai ver... – Garantiu e elas riram.

Elas voltaram a falar, de Ichigo e de outros garotos e Uryuu não sabia se saia dali ou se escutava, se acreditava naquelas coisas, questionava ou as mandava calar a boca! Como Ichigo aguentava aqueles comentários? Por que as pessoas falavam dele assim?

Violento àquele ponto? Drogas?

Uryuu não entendia! O cara que ele conheceu não tinha nada a ver com aquele vilão.

Ele não era assim!

Ponta Solta [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora