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Alice

Ao leres isso vais compreender um pouco como me sinto por dentro, acabei de o escrever ontem. Peço-te que nunca contes a alguém sobre isto. – assenti, dando-lhe um pequeno beijo na testa e envolvi-o novamente nos meus braços.

Comecei a ler o texto, este tinha o nome de Escuridão.

"Olho à minha volta e nada vejo, pois a escuridão domina aqui. Já mal me recordo de como é o mundo repleto de luz, mal me recordo também das gargalhadas que não precisavam de ser forçadas, da alegria das festividades como o natal ou a páscoa, entre outras coisas que agora estão enterradas na escuridão, juntamente comigo.

Não sei quando é que tudo se tornou tão escuro, quando perdeu a sua magia e a sua alegria, tudo o que sei é que já não há diferença entre caminhar debaixo de um sol escaldante ou numa sombra fresca, apesar de tudo o sol escaldante apenas deixa algumas marcas na minha pele mas nada disso se compara à dor, ao peso e à pouca vontade de tudo que eu sinto. As manchas vermelhas que o sol outrora me proporcionou desaparecem mas as feridas que tenho são de tanta teimosia que não penso que irão sarar alguma vez.

Toda a gente diz que com o tempo tudo passa e que um dia já não sentirei nada mas, na verdade, sinto cada vez mais à medida que os dias passam, é como se tudo ficasse cada vez mais sob o domínio da escuridão e, sinceramente, parece um caminho sem volta. Não acho que alguma vez voltarei a ver as cores da vida, das quais mal me recordo. Enfim, sinto-me preso neste mundo escuro, incolor e coberto por grande manto de dor.

Estou cansado disto, parece uma rua sem saída ou um pesadelo do qual não consigo acordar. Embora que, por vezes, dê por mim a tentar entender se a única solução de sair daqui é pôr um fim a tudo.

Sinto-me exausto de tanta falsidade na minha suposta alegria, não gosto de fingir mas, no entanto, vivo a fazê-lo.

Por fim, digo, nunca pensei que a escuridão em que vivo se tornasse a minha "melhor amiga"."

Fiquei sem palavras, não sabia como reagir, apenas larguei o papel e abracei-o com toda a força que tinha.

Não estás mais sozinho, Aron. Eu estou aqui. – foi tudo o que lhe consegui dizer.

Ele olhou para mim, tinha a cara lavada em lágrimas, vê-lo assim dava-me um aperto tão grande no coração. Quem me dera conseguir tirar-lhe toda esta dor e ficar com ela.

Desculpa, Alice, tu não mereces nada disto. Se não me quiseres mais ter por perto, eu entendo. – ele estava tão vulnerável.

Ficámos abraçados o tempo necessário para que o rapaz se acalmasse. Queria perguntar-lhe o motivo de tanta fuga, o porquê de não se tratar realmente mas não o faria agora, ele estava demasiado frágil.

E que tal irmos espairecer um pouco? Nem que seja ficarmos deitados na relva de um jardim a olhar para o céu sem dizermos o que quer que seja, como da outra vez. – sugeri.

Aron sorriu e concordou com a minha ideia.

*

Ali estávamos nós, no mesmo jardim. Estava com a minha cabeça em cima das suas pernas enquanto ele brincava calmamente com o meu cabelo, a brisa leve daquele dia batia-nós na cara, sabia tão bem.

Aquela nuvem não te parece um porco? – perguntei apontando para a tal nuvem.

Mas tu estás a ver coisas? Parece um peixe chica! - desatou-se a rir.

Não, parece mesmo um porco. – acabei por me juntar ao seu riso.

Estás a ver mal! Olha lá bem. – o rapaz apontou para a nuvem de que falava.

Aron, estás a olhar para a nuvem errada. – tentei não rir.

Aproximei-me dele deitando-me ao seu lado. Coloquei a minha cabeça encostada à sua e apontei para a nuvem certa, porém o rapaz não estava lá muito focado para onde eu apontava mas sim, em mim.

Eu não pareço um porco, Aron. – disse virando-me para ele.

Agora pareces! – o moreno levou o seu dedo indicador até ao meu nariz e levantou um pouco o mesmo, fazendo um nariz de porco.

Começámos a gargalhar imenso os dois. Aron parou de rir e aproximou a sua cara da minha, o que me fez ficar bastante séria. O rapaz levou a sua mão até ao meu rosto, retirando uma madeixa de cabelo do mesmo e colocando-a atrás da minha orelha, dando-lhe uma pequena festa da bochecha de seguida, os seus olhos não deixavam os meus.

És tão linda, Alice. – quebrou o breve silêncio que se tinha instalado. As suas palavras pareciam tão sinceras. – Não sabes o quão sortudo me sinto por presenciar a tua existência. – senti o meu rosto a aquecer, nunca ninguém me tinha dito algo assim, muito menos enquanto me olhava fixamente nos olhos.

Começava a sentir um desejo diferente por este rapaz, embora a noite de ontem me tivesse feito pensar que seria bom afastar-me enquanto podia. No entanto, agora que tenho uma explicação para os acontecimentos do nosso serão do dia anterior, sentia que estava no sítio certo, ao seu lado era onde eu deveria estar, ajudá-lo em tudo o que conseguisse.

Quis cometer uma pequena loucura e beijá-lo, porém o que pensaria ele se eu o beijasse justamente no dia em que ele me contou algo tão íntimo sobre a vida dele?

Coisas boas, com certeza. – disse o meu subconsciente, mas eu não iria pensar muito bem sobre ele se o Aron me tivesse beijado no dia em que fui ter com ele.

Mas vocês não são a mesma pessoa, ele repara em ti desde o dia em que te viu e respeitou-te quando lhe contaste. – a este ponto a minha cabeça estava numa discussão estranha sobre o assunto.

Nós não somos, de todo, a mesma pessoa e isso é um facto que está muito bem explícito e eu só saberei as consequências disso quando o fizer, certo? Certo.

Beijei-o.

Aron parecia apanhado de surpresa mas rapidamente correspondeu. O beijo foi lento, no entanto, um pouco intenso.

Wow. – murmurou o rapaz.

Desculpa, eu não quero que penses coisas más sobre mim, eu devia ter respeitado o teu espaço e não o fiz. Desculpa. – o rapaz apenas sorriu.

Tu não tens mesmo noção, pois não? – retirou a sua mão do meu rosto, esfregando a sua cara de seguida com enorme sorriso nos lábios. – Tu realmente não sabes há quanto tempo eu queria que isso acontecesse.

Apesar de Aron dito isto eu não consegui evitar e voltei a pedir desculpa mais umas cem vezes.

Aron era um rapaz fantástico, esperava realmente não ter estragado tudo ou não me estar a meter numa grande espiral de problemas.

(...)
Sei que está um pouco pequeno mas eu queria muito publicá-lo ahah

Digam-me o que estão a achar!

𝐏𝐞𝐫𝐬𝐨𝐧𝐚𝐥𝐢𝐭𝐢𝐞𝐬 - 𝐀𝐫𝐨𝐧 𝐏𝐢𝐩𝐞𝐫Onde histórias criam vida. Descubra agora