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Eu não acredito, o meu cordão! Como eu só percebi agora?!

Raiva, medo, insegurança. Subiu um mix de sentimentos horríveis no meu corpo.

Calma Bruna, você deve ter deixado no banheiro quando foi tomar banho, impossível ter perdido.

Quem eu tô tentando enganar, não tiro ele nem pra tomar banho.

Me desanimei por completo e voltei na sala avisando para Pedro e Camila que não daria pra ir pra lanchonete porque teria que procurar meu cordão.

- Nada disso, a gente te ajuda a procurar e aí vamos para a lanchonete comer, tá bom? – Pedro disse me deixando mais calma, mas a procura foi em vão, reviramos a casa e não achamos nada.

Mesmo assim fui lanchar porque Camila me convenceu e disse que isso poderia me fazer melhor, o que não era mentira. Mesmo que eu não tivesse contado nada, eles sabiam da importância que aquele objeto tinha pra mim. Essa era a melhor parte da nossa amizade: nós três nos entendíamos e nos conhecíamos tão bem, mesmo sem saber tudo sobre o outro. Nós não precisamos questionar a decisão de alguém, apenas apoiá-la e esperar o momento certo que a pessoa queira contar.

Indo para a lanchonete, vimos uma casa com alguns rostos conhecidos da UFRP, cheia de luzes saindo pelas janelas e a música dava pra ser ouvida há quilômetros de distância.

Parecia que tinha gente bem animada nesse sábado à noite enquanto eu só queria um açaí com bastante leite em pó e amendoim para me afundar.

Eu adorava dançar e curtir, não vou negar, principalmente com meus amigos. Mas esse sábado, além de ter perdido um bem muito valioso pra mim, meu corpo tava implorando por paz – sem contar que não conhecíamos quase ninguém da faculdade para nos enturmamos assim.

- Meu deus a gente precisava tá aí – Camila retruca apontando com a cabeça.

- Tá doida, a gente nem conhece ninguém. – disse ainda desanimada.

- Nem precisa conhecer – riu maliciosamente

- Eu to com fome e ainda tô derrubado de ontem, nem vem Camila – Pedro disse revirando os olhos e fazendo nós duas rirem.

Chegando na lanchonete pedimos o que queríamos e sentamos. Acabou que decidi comer um hambúrguer também para acompanhar os dois. Não pedi batata porque sabia que o Pedro ia pedir e é claro que tudo que o que é dele é nosso (mas não ao contrário, ninguém toca na minha comida).

Enquanto estávamos na mesa jogando conversa fora e tentando lembrar qual foi a última vez que vi o maldito cordão, ouço o sino da porta tocar. Eu estava de costas para a porta, mas não me virei para ver quem era, até porque já tinha entrado alguns clientes antes. Só que dessa vez foi diferente, todos ficaram olhando vidrados o que me fez virar também pra ver quem era. Provavelmente era um grupo de pessoas ou alguém muito bonito entrando pra chamar a atenção assim.

Me surpreendi quando vi que era uma junção dos dois: Um grupo de garotos com algumas meninas grudadas, provavelmente saindo da festa que estava tendo ali perto, e também estava o maldito cara que arrancava suspiro das meninas da lanchonete, incluindo as garçonetes e infelizmente eu.

Tinha logo que ser ele?

Voltei o rosto fazendo quase que uma mímica pra Camila e Pedro que pareceram segurar o riso enquanto entendiam o recado de "Meu Deus ele não pode reconhecer a gente, vamos logo embora daqui, eu imploro!" que eu ilustrava com o rosto. Pagamos tudo e eu acabei pegando meu açaí para a viagem ainda com o pensamento no cordão.

Quando saí do caixa, bati de frente com ninguém menos que Vinicius Walker com uma cara de surpreso, me fazendo quase derrubar o açaí.

- Você não consegue olhar pra frente?! – digo me ajeitando.

- Que eu saiba quem anda esbarrando por aí não sou eu – disse com um sorriso ladino.

Eu queria falar algo, enfrentá-lo ou até enfiar minha mão na cara dele, mas sabia que chamaria mais atenção e eu já estava perturbada demais pra enfrentar olhares curiosos.

- Adeus garota misteriosa - foi o que ele disse enquanto eu saía com o pé firme puxando o Pedro e a Cami. Eu não sei como ele conseguia me deixar com raiva e arrepiada ao mesmo tempo, mas naquele momento a raiva prevalecia, ou o arrepio, sei lá.

- Eu não sei vocês, mas eu chamo isso de tensão sexual – Camila disse rindo. Por sorte já estávamos do lado de fora da lanchonete.

- Camila, vai à merda. Vir aqui só piorou meu dia.– falei olhando para o chão - e ainda não achei meu cordão.

- Calma, a gente vai achar. Pensa que agora você tem um açaí pra te ajudar. – Pedro foi fofo, como sempre.

Já era tarde e nos despedimos indo cada um pra sua casa, cheguei me jogando no sofá e ligando a TV na Netflix procurando alguma série pra me consolar. Acabei colocando Suits, como sempre.

O episódio foi passando e acabei me distraindo nos problemas que eu tinha que resolver.

Fiquei pensando no meu colar que por tudo eu tinha que achar, mas essa não foi a principal coisa que ficou na minha mente.

Me peguei lembrando do sorriso do Vinicius. Aqueles dentes brancos e alinhados me passando um ar de sinceridade e desejo, mesmo em um momento de raiva. Botei mais uma colher de açaí na boca pra ver se mudava a linha de pensamento. Nada tirava ele da minha mente.

Nesse instante ouvi o barulho da porta abrindo, olhei e sorri fraco para o meu pai, que entrou estranhando o meu gesto.

- O que foi meu amor? Aconteceu alguma
coisa? – assenti enquanto ele sentava do meu lado.

- Eu perdi o meu cordão, pai – senti uma lágrima descer do meu olho e todo o meu corpo pesar caindo em seus braços. Ele me apertou ainda mais no seu abraço.

- Ela sabe que você se importa, meu bem. Você a carrega todos os dias, com ou sem um pingente no pescoço. - Aquilo me fez sorrir e chorar ainda mais em seu peito.

Ninguém além do meu pai e meu irmão sabe sobre a importância daquele cordão pra mim.

Mesmo confiando na Cami e no Pedro, não sei como reagiriam a tudo e como levariam esse peso que levo todos os dias no pescoço. Não vejo problema deles saberem disso, só acho que ainda não tive o momento certo para isso.


🌙

A Lua que carrego Onde histórias criam vida. Descubra agora