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BRUNA BELLINI

Quarta-feira, depois de uma longa porém interessante palestra de cidadania sobre as Políticas públicas e seus entraves econômicos e sociais, ando sob o mármore do corredor do prédio central da Reginald Pearson, em direção à saída acompanhada de Daniel.

Dan é um dos caras mais simpáticos da turma de Direito, uma das excessões aos idiotas do curso que se acham politizados o suficiente a ponto de se sentirem a própria Annalise Keating de How To Get Away With Murder. Mas o que mais gosto nele é, sem dúvidas, a sua lenta revirada de olhos que acontece toda vez que algum dos alunos interrompe a fala do professor durante a aula para apenas inflar o próprio ego.

No corredor, ele me passa algumas anotações dos minutos iniciais da palestra que perdi, relaxando todos os meus músculos quanto ao conteúdo recuperado, já que as anotações de Dan são três vezes melhores e mais detalhadas que a minha.

De forma estabanada devido aos dois livros e o bloco de anotação na mão, pego sua folha e agradeço mentalmente por tê-lo na turma. Ao fitar o papel, repassando o que havia perdido, meus olhos se distraem e sobem para uma outra visão masculina que observava a vitrine da doceira da faculdade. Vinicius estava com a bolsa lateral do que acho ser os eternos e caros materiais de seu curso –como Camila descrevia-os – e uma roupa completamente branca – que Camila também não aguentava esperar pela experiência de ser obrigada a usar.

Estranhei ao vê-lo sozinho na faculdade, já que sempre estava com seus amigos, mas o que mais me causou dúvida foi seu semblante neutro que nunca se encontrava assim. Ele parecia aéreo até mesmo ao escolher o que comeria e isso me lembrou da despedida de sábado, depois do episódio que Vinicius passou de um rosto relaxado para angustiado em questão de segundos. Meu corpo tensiona ao lembrar do momento, mas algo me diz que deveria falar com ele.

- Bruna, 'cê tá me ouvindo? – de relance, volto a encarar Dan e assentir com pressa o menino de cabelos levemente avermelhados, me dando conta que o menino havia falado sozinho pelos últimos minutos.

- Claro, claro. – sorrio em agradecimento para ele – Obrigada mesmo, Dan, você salvou minha vida, mas agora preciso ir, beleza?

Me despeço do meu parceiro de sala e direciono-me ao moreno posto frente à bancada de brownies.

Desde sábado não o vejo pelos corredores ou pátios da faculdade. Perguntei para Bela se ele estava vindo às aulas e, depois de zombar da minha cara, ele afirmou mas disse que ele andava com pressa devido à quantidade de trabalhos que o curso estava solicitando. Acreditei na fala da minha amiga, mas isso não impediu que o pensamento de Vinicius estar me evitando tenha passado na minha cabeça.

Me aproximo, mas ele ainda não repara na minha presença. Aperto os livros contra o braço, me preparando para falar algo que faça seus olhos escuros voltarem para me fitar. Nesse instante, reparo em um pequeno corte no supercílio de Vinicius, causando um aperto no peito por não saber o que tinha acontecido devido ao sumiço dos últimos dias.

- 'Cê tá bem? – olho diretamente para a ferida atravessada na sobrancelha escura e sinto um ar de preocupação sair de mim sem que eu queira. Vinicius me olha surpreso e com sorriso de canto, mas eu não tiro os olhos do machucado esperando uma resposta.

- Boa tarde, Bruna – seu torso agora estava completamente virado para mim em uma pose despretenciosa de braços cruzados – quanto tempo.

- O que aconteceu com sua testa?

Vinicius direciona dois dedos, passando-os por cima do corte quase todo cicatrizado.

- Longa história – solta um riso debochado enquanto passa a mão pelos fios de cabelo soltos e aparentemente macios, com os olhos direcionados ao chão.

A Lua que carrego Onde histórias criam vida. Descubra agora