Aos 18 anos, Bruna Bellini realizou o sonho de passar na Universidade Federal Reginald Pearson, uma das maiores faculdades de Direito do Rio de Janeiro. Desde o primeiro segundo na faculdade, ela percebe que não será nada como havia planejado - e tu...
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BRUNA BELLINI Eu definitivamente não sei como acordei e levantei tão rápido da cama, se é que eu dormi.
Já ouvi falar sobre animação de calouro no primeiro dia, mas achava que era bobeira, até porque isso nunca aconteceu no ensino médio, muito menos no fundamental. Acordar cedo nunca era animado. Mas hoje, sem dúvidas, era a realização do meu maior sonho, que eu conquistei depois de muito estudo e muitas noites sem dormir, não tinha como não estar ansiosa.
Mas eu não estava SÓ animada, eu tava anestesiada, orgulhosa. Passei na Universidade Federal Reginald Pearson (UFRP), a melhor e mais disputada faculdade de Direito do Rio de Janeiro.
Na verdade, ela era a melhor em todos os cursos, isso não tinha como negar.
Eu sempre fui muito determinada a alcançar o que eu queria, já que o senhor Carlos Bellini era um cara que me inspirava muito, todos os dias. Meu pai criou eu e Rodrigo, meu irmão mais novo, com muito amor e puxão de orelha. Claro que eu respeitava mais ele, já que Rodrigo era o cara/moleque mais implicante e insuportável que eu conhecia. Mas eu gosto dele, é meu irmão né e eu sou muito apegada a esses dois embustes.
Quando levantei já fui logo para o banho, tomei uma ducha gelada para ver se me acalmava, vesti uma lingerie de renda e uma blusa de manga e gola alta que me deixava com muita cara de advogada, além de uma calça cintura alta com um vans preto que eu usava pra tudo.
Também passei um pouco de rímel e gloss, pra enganar, já que sabia que não seria assim todas as manhãs.
Eu morava um pouco bastante longe da faculdade, então só quando saí do quarto que estava começando a amanhecer. Meu pai já tava de pé pra me levar pra faculdade depois de muita oração e choro. Claro que argumentei dizendo que era o meu primeiro dia e não sabia o caminho direito - era mentira, eu já tinha andado com o maps por esse trajeto centenas de vezes, mas eu fui convincente.
Mandei mensagem pra Camila avisando que eu já estava pronta pra sair e que meu pai passaria lá pra dar uma carona. Morávamos relativamente perto, a faculdade que era longe demais da gente.
Eu juro por tudo, se eu estava animada pro primeiro dia, ela tava no mínimo sete vezes mais que eu. Essa menina é sempre uma bateria carregada, não importa a hora do dia.
Fomos pelo caminho conversando sobre como seria o primeiro dia enquanto meu pai estava calado. Chegando na porta da faculdade o carro ficou em silêncio esperando a despedida. Me virei pra pegar a mochila e dar um beijo no velho, que já estava me encarando com os olhos marejados e eu já sabia que vinha uma declaração:
– Eu tô tão orgulhoso de você, minha filha – suspirou e rapidamente voltou a olhar pra frente – mas vê se tenha juízo, quero você viva. Em casa até às 18:37. - falou pausadamente e com um ar mais seco.
Ri da sua precisão de hora e beijei a sua bochecha, me despedindo dele.
A Cami deu um abraço todo agitado no meu pai e gritou já de fora do carro - Pode deixar, tio Carlos! Vou tomar conta dela!
Ri mais ainda
Também me despedi da minha amiga, já que ela iria pra um lado e eu pro outro. Afinal, odontologia e direito não tinham nada haver. Cami tinha uma fascinação por ser dentista desde pequena que eu não sei de onde ela tirou a ideia.
– Divirta-se com as loiras odonto! - gritei enquanto ela tava correndo para o prédio a fim de não se atrasar – e boa sorte, vai precisar!
– Vai se fuder, Bruna - falou enquanto me apontava o dedo médio - me espera pra ir embora, tá?!
Balancei a cabeça de forma que Cami visse mesmo de longe e a partir daí eu vi tudo desmoronar. Segurei meu cordão de lua que era o que me acalmava no momento.
Nem eu, nem Camila, nem nenhum calouro naquele dia e naquela semana teria aula ou sonharia em conhecer os professores.
Era a Semana de Trote, ou de "Integração". Como eles chamavam, já que o tal trote era proibido por questões passadas da Universidade.
Por que não me avisaram antes?! Eu não gastaria o meu look séria nem fudendo. Principalmente se soubesse que voltaria pintada pra casa.
