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BRUNA BELLINI
Existem dois tipos de fogo.
Os que avançam sem espera e destroem tudo o que encontram pelo caminho, tornando tudo pó em tons de cinza com um cheiro forte de carbono; e o fogo de um isqueiro, que é controlado desde quando começa até quando termina, que ao invés de destruir e reduzir tudo ao redor, te ajuda acendendo um cigarro, ou causando um incêndio - um auxílio para uma destruição desejada.
A faculdade te apresenta a diferentes realidades e personalidades, te ensina que todos carregam um isqueiro no bolso, mas nem todos fumam, o que só pode significar que alguns só estão ali para causar combustão. E ser observadora nesse ambiente completamente hostil e que ignora o pouco de saúde mental e física que seus alunos têm, faz com que você aprenda a cada dia apenas olhando, examinando cada faísca que ameaça se acender.
Mesmo assim, não sei se sou igual a todos os outros que andam pelos corredores ignorando o redor e esperando que algo acenda para correrem atrás do calor.
Na verdade, entre sextas agitadas e segundas monótonas, estou familiarizada com a nova rotina que criei, com exceção ao meu cabelo que aderiu um coque despojado e se manteve assim desde então.
A Bruna dos primeiros dias que se arrumava para as aulas nunca acreditaria nas roupas nada selecionadas que escolhi no meu armário apenas afundando a mão na gaveta - Afinal, entre dormir e qualquer outra coisa, prefira sempre minutos de sono a mais.
Odeio pegar ônibus, principalmente quando eles estão lotados de pessoas suadas às 06:30 da manhã - algo que me faz duvidar da higiene de todos no transporte público -, por isso os melhores dias são os que o horário de plantão do meu pai colidem com o meu, me permitindo dormir um pouco mais no banco do carona ao som das conversas entre meu pai e Camila que se acomoda no banco de trás.
Meu sono parece sumir assim que entro na sala de aula, talvez por amar o que escohi dedicar o resto da minha vida ou pela energia diferente que as carteiras geladas carregam, te lembrando que sua dedicação diária define o seu futuro profissional. Depois de horas exaustivas de conteúdo, geralmente almoço com Bela e Dan no refeitório, menos quando a comida é peixe, porque Bela odeia frutos do mar e, nesses dias, a acompanhamos comendo alguma besteira pelo prédio.
Assim que o turno da tarde acaba, eu e as garotas criamos o hábito de frequentar a casa de Lipe para estudar, fazer nada, beber ou descansar. E, sem perceber, a casa cinza se tornou nosso ponto de encontro.
Nosso.
Engraçado, nos últimos 2 meses e meio, acabei me aproximando dos amigos de Vinicius e isso chega a soar estranho, mas não me lembro como meus dias eram sem o equilíbrio atenuante deles.
Felipe, mesmo sendo o mais calado e misterioso entre os garotos, foi o primeiro a ser receptivo com a minha aproximação e a das meninas.
Seu jeito espontâneo, mulherengo e muitas vezes silencioso me alucina sobre o quanto sei do loiro, mas ele me mostrou ser alguém diferente do que qualquer pessoa julgaria ou se atreveria a pensar. Sua mania de se importar com todos mas não demonstrar funciona como uma capa para a personalidade delicada e fechada do homem; uma autodefesa que ele criou ao longo de sua vida.
Guto é o mais bobo e maduro dos três. Suas maçãs do rosto sempre estão avermelhadas e levantadas devido ao sorriso largo estampado na face do engenheiro. Ele nunca consegue deixar de lado seus compromissos, mesmo que seja tomar um refrigerante numa quarta-feira à tarde. Por isso, nunca falte um compromisso com ele, porque do contrário, ele estará lá te esperando.
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A Lua que carrego
RomanceAos 18 anos, Bruna Bellini realizou o sonho de passar na Universidade Federal Reginald Pearson, uma das maiores faculdades de Direito do Rio de Janeiro. Desde o primeiro segundo na faculdade, ela percebe que não será nada como havia planejado - e tu...