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VINICIUS WALKER

Segunda-feira. Depois desse fim de semana eu precisava de um tempo. Tipo até a próxima sexta.

Peguei meu celular na cabeceira da cama conferindo a hora e me levantando pra me arrumar. Tomei um banho rápido e fiz minhas higienes, vesti a primeira roupa que vi e desci para comer algo. Encontro Isabela e minha mãe na cozinha tomando café.

- Bom dia, querido

- Bom dia, mãe – digo enquanto dou um beijo nela e pego uma maçã na cesta – vai trabalhar hoje?

- Hoje não – suspirou alto nos chamando a atenção – seu irmão virá aqui e vou fazer um jantar para ele.

- E qual a chance do jantar virar uma guerra? – Isabela pergunta, o que faz minha mãe encará-la em repreensão – que foi? Só perguntei...

- Não sei, não vou estar para ver – Disse pegando a mochila e dando os ombros.

- Filho, não faz assim, por favor - Sei que minha mãe ficaria triste, mas eu já sei que meu pai conseguirá estragar o jantar.

Por mais que goste do meu irmão e mesmo que esteja afastado, posso sair com ele outra hora, mas encarar uma noite no mesmo cômodo que meu pai me causava angústia, algo que posso evitar simplesmente não indo.

Com ele, tudo tinha que girar em torno de perguntas que envolviam controlar a nossa vida. Ele não aceitava ser contrariado. Por exemplo, o simples fato de eu estar cursando o que gosto e não o que ele quer o irritava.

Porra, estudei pra conseguir a vaga em uma faculdade pública, pra ele não me dizer nem um parabéns e ainda falar que poderia pagar uma particular, se fosse cursar direito, obviamente.

Mas esse não era o ápice para não suportar o sr. Walker, eu seria muito bobo se fosse só isso. Meu pai sempre foi alguém muito temperamental e desde que o vi levantando a mão para minha mãe, nem eu nem meu irmão falamos com ele.

Ele nunca mais fez o mesmo – não que eu tenha visto - desde que Raphael deu um soco bem dado no olho dele e se mudou daqui. Eu teria dado outro, se Isabela não tivesse me segurado.

Só elas duas acreditam que ele tenha mudado, o que era uma mentira mal contada pelo maior mentiroso que eu conhecia. Entendo elas ainda confiarem nele, Isabela era muito nova, imatura e sonhadora pra entender a importância disso e minha mãe é cega pelo amor, ainda que eu diga pra ela que o amor não é doloroso, ela só não consegue ver que ele faz isso por pura soberba e autoritarismo.

Sem responder minha mãe, chamei Bela pra ir à faculdade, que ainda se mostrava bem animada para o primeiro dia de aula definitivo.

O dia foi como todas as segundas, chato. Disse que não poderia dar carona para Bela na volta, já que não iria pra casa. Pensei em fazer algo com os meninos, mas Guto diria que hoje é segunda e Felipe faria a segunda parecer sexta, dois extremos que não estou disposto a enfrentar.

Depois da aula decidi ir na lanchonete da faculdade comer alguma coisa. Ainda que seja um espaço repleto de vitrines expondo tortas e salgados deliciosos, acabei esquecendo o que fui fazer ali assim que abri a porta e dei de cara com ela. A filha da mãe que me tirava do sério e que por algum motivo desconhecido mexia comigo.

Todas as vezes que nos falamos foi sem querer e eu nunca consegui identificar uma queda por mim, o que eu percebia facilmente nas garotas. Comecei a lembrar da última vez que nos esbarramos e como ela foi embora. Não podia deixar isso assim, não de novo.

 Não podia deixar isso assim, não de novo

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BRUNA BELLINI

Fui liberada da faculdade mas estava morrendo de fome. Como Camila tinha que ir para casa fazer alguma coisa que ela não me explicou direito, fui fazer um lanche e ler o livro que o professor de filosofia tinha passado.

Incrivelmente nada me tirava a concentração da leitura, mesmo que tivessem conversas paralelas dentro da lanchonete.

Enquanto leio, percebo alguém se aproximar. Não tirei os olhos do livro, pois obviamente seria a garçonete indo atender uma mesa próxima. Era o que eu pensava.

- Primeira vez sem se esbarrar, estamos progredindo – fecho os olhos por um momento desejando que aquilo fosse um pequeno delírio.

Não era. Ele continua parado na minha frente. Fecho o livro e olho pra cima, sem dúvidas de que era ele.

- Posso? – me pergunta apontado para o lugar vazio na mesa.

- Eu tenho opção? – nega com a cabeça enquanto puxa a cadeira pra se sentar.

- Sozinha, na lanchonete, lendo? Brigou com a amiga?

- Não nasci grudada. – digo de forma irônica – e você, o que te leva a atrapalhar a minha tarde?

- Acho que não nos apresentamos formalmente. Você sabe meu nome e eu não sei o seu, não acha isso uma injustiça?! – diz pegando uma das minhas batatas. Bato na mão dele imediatamente para que não mexa nas minhas batatas e suas sobrancelhas se curvam em reação à dor nas costas da mão.

- Eu nunca perguntei o seu nome. - falei e puxei o prato de batatas para perto.

- Mas também não respondeu quando perguntei o seu.

- Não achei importante – olhei nos seus olhos por cima do livro e voltei meus olhos para as letras miúdas das páginas desgastadas.

- Perguntas sempre são importantes, senhorita.... – alongou a frase na esperança de que eu a completasse. Ignorei sua tentativa e bati as páginas da literatura, encerrando minha leitura.

- Fica tranquilo, Victor, meu nome não é a coisa mais importante sobre mim – Guardei o livro, passei a mão na última batata da bandeja e me levantei levando o copo comigo e vendo a cara de Vinicius ficar vermelha. Talvez de raiva, talvez de vergonha.

Quando já estou na calçada indo pra casa, ouço um carro se aproximando de forma lenta. Meu coração dispara e dessa vez eu prefiro que seja ele do que um completo desconhecido.

- Você não quer uma carona, dona misteriosa? - ele diz de dentro de um kia soul preto. Continuo andando como se não tivesse escutado, só que mais aliviada.

- Já está escuro, sei que não mora perto... – paro no mesmo instante me virando pra ele de braços cruzados.

- Como assim sabe?

- Ah claro, foi muito difícil descobrir que você e sua amiga pegam o ônibus que vai pro outro lado da cidade – Vinicius diz de forma debochada, ainda com o carro andando devagar.

- Você tá me perseguindo?

- Quantos filmes policiais você anda assistindo? Meu deus, eu só to tentando ser gentil!

Bufo com seu comentário. Não quero aceitar sua carona, mas ele tem razão, não moro perto da faculdade. Sem contar que me cuido muito bem, qualquer coisa que esse mimado tentasse era só chutar suas partes íntimas.

- Você vai me levar até a praça. Não quero nenhum psicopata sabendo onde eu moro. – dou a volta no carro e entro no carona.

- Sim senhora, o que você quiser – Ele me olha de forma maliciosa , o que me faz revirar os olhos, mas também me faz arrepiar os pelos da nuca.

Já me arrependi de ter aceitado a carona.

🌙

A Lua que carrego Onde histórias criam vida. Descubra agora