Capítulo 01

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Pov. Rafa

Bip, bip, bip. Minha mão sai de baixo do casulo quente dos cobertores. Pego o celular da mesinha de cabeceira, desligo e coloco-o sob os cobertores comigo. Sete minutos depois, sinto-o vibrar debaixo do travesseiro entre as minhas mãos.

Levanto e jogo as pernas para fora da cama, desço as escadas, e vou direto para a cafeteira. Graças a Deus que esta máquina é programada, porque o café está pronto para eu beber.

Eu pisco os olhos algumas vezes ao acender a luz sobre o fogão. Com uma luz fraca, eu me inclino contra o balcão e olho para o relógio. Cinco e meia em ponto. Cheiro o café e tomo um gole lentamente para não queimar a língua. Meu cérebro acorda de repente quando a bebida quente e forte rola sobre a minha língua.

É a calmaria antes da tempestade. Em trinta minutos, terei que arrumar as crianças e prepará-las para o ônibus, que sempre passa aqui exatamente às sete e dez.

Eu olho para a sala de jantar, assimilando o furacão que são meus filhos. Mochilas abertas estão no chão, perto das cadeiras, papéis jogados sobre a mesa, a lição de casa que eles terminaram, mas não guardaram. Não importa o quanto eu diga para eles limparem a mesa antes de irem dormir, Gabriel que tem dez, e Rachel, que tem seis e meio, mas parece vinte, sempre esperam até o último minuto. Algo que eles herdaram do pai.

Eu olho em volta da casa, o conceito de plano aberto torna mais fácil ver os cômodos ao meu redor, observo as mudanças que a casa passou nos últimos seis meses. Não há mais tênis de homem na porta. Sem blazer pendurado no encosto da cadeira na mesa, misturando-se com as mochilas.

Não. Nada. Nada. Tomo outro gole do café e deixo a minha mente vagar para quando tudo mudou.

Vou até a escola das crianças para uma reunião de pais e professores, estou atrasada, é claro. Eu tive que pegar Gabriel na aula de futebol, enquanto corria com Rachel para ginástica, então comemos lanche do McDonald's no carro a caminho de casa. Por comer meu cheeseburger no carro tenho uma mancha de mostarda na camisa agora. Pego um lenço que encontrei no banco de trás, eu jogo-o sobre o pescoço na esperança de cobri-la.

Uma vez na escola, caminho para a sala de aula da professora de Gabriel. Organizo uma lista de coisas que preciso fazer quando chegar em casa. Penso nas festas de aniversário que as crianças estão convidadas para este fim de semana. Os presentes já estão no porta-malas esperando para serem embrulhados. Espero que Rodolfo esteja disponível pelo menos no domingo.

Ficar em casa e ser mãe. Esse é o meu trabalho, e eu adoro. Às vezes. Na maioria das vezes. Mais vezes do que não. Meu marido, Rodolfo, é um executivo da maior empresa de marketing da cidade. Ele passou os últimos oito anos trabalhando para ser promovido. Suas longas horas de trabalho são o nosso sacrifício até que ele receba o escritório do canto, então ele pode parar um pouco. Pelo menos, é o que ele continua dizendo. Eu ainda penso que ele é um viciado em trabalho.

Nós nos conhecemos quando eu estava saindo da faculdade; eu tinha acabado de começar a trabalhar na mesma agência que ele trabalhava. Não a que ele está agora, mas a primeira agência em que ele trabalhou depois da faculdade. Fui contratada como assistente pessoal temporária do escritório. Como era um escritório pequeno, com apenas cinco anos, era normal que passássemos o dia todo juntos. Essas longas horas juntos resultaram em uma boa amizade. Tornarmo-nos um casal foi o próximo passo natural. Eu acho que não surpreendeu ninguém quando entramos em uma manhã de segunda-feira de mãos dadas, nos olhando com o coração nos olhos.

Chegando à porta da Sra. Andrade, eu bato uma vez e entro. Olho em volta e fico chocada ao ver Rodolfo sentado em uma das cadeiras em frente à mesa, enquanto a Sra. Andrade está sentada na dela.

Chefe Cretina - Rafa / You G!pOnde histórias criam vida. Descubra agora