Capítulo 02

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Pov. Rafa

Eu me olho no espelho, aliso a frente da saia. Que diferença faz seis meses. O peso extra que não saía do meu corpo nos últimos seis anos se foi, graças a alguns exercícios aeróbicos na academia, e eu ter parado de comer. Você poderia pensar que ser largada pelo seu marido te faria afogar a tristeza em carboidratos, sorvete e queijo, mas, na verdade, foi exatamente o oposto comigo. Nas raras ocasiões em que eu realmente tinha um pouco de apetite, no segundo que eu colocava algo na boca, eu passava mal. Então, estou chegando lá lentamente, mas com segurança. Deixei meu cabelo crescer, fiz um corte em camadas, em vez do simples “curto prático”, que eu costumava usar. Eu retirei o dourado e coloquei cor de mel.

Estou usando uma saia lápis cinza, apertada na altura do joelho, e uma camisa de seda cor-de-rosa com babados no colarinho e manga curta. Eu adicionei meu favorito Manolo Blahnik Mary Janes preto, presente de dia das mães de três anos atrás. Sem nada mais, ele me deixou com duas lindas crianças e um armário cheio de saltos de designer.

Eu respiro fundo. É isso.

Meu celular toca novamente.

– Dez minutos, meninos, vamos lá. – saio do quarto, desço as escadas e observo meu filho de dez anos colocar sua tigela de cereais na pia e pegar todos os papéis da mesa, empurrando-os em sua mochila. – Rachel, não se esqueça de pegar sua agenda que está no sofá. 

Eu olho para minha irmã, que está tomando sua segunda xícara de café. Ela está sentada com as pernas cruzadas, observando tudo. Vestida em suas calças de ioga que moldam perfeitamente seu corpo magro de 1,53, e uma blusa solta que cai em um ombro.

– Como você se lembra dessas coisas? – ela pergunta.

– É mágica. Quando tiver filho, terá um cérebro. – digo a ela com um sorriso meloso.

– Então, o que aconteceu com Rodolfo? – ela sorri de volta e toma um gole.

– Ok, retiro o que disse. Depois que se tornar mãe, terá um cérebro. Quero dizer, eu não acho que todos os homens sejam idiotas. Olhe para o papai. – digo a ela enquanto coloco o leite na geladeira e pego a caixa de cereais, colocando de volta no armário. O alarme do telefone soa novamente. – Dois minutos, pessoal! – eu coloco o relógio no telefone para despertar em horários diferentes para nunca atrasar. Outra coisa que aprendi depois que me tornei mãe.

Eu olho para Manu (eu mudei, pq a Manuzinha vai combinar mais com a personagem), que agora está lendo o jornal.

– Você não vai se atrasar? – eu pergunto a ela enquanto pego as lancheiras e caminho até a porta com as crianças.

Ela dobra o jornal ao meio.

– Não, eu tenho cliente só às 10h30. Vamos fazer ioga no parque hoje. Conexão com a terra e essas coisas. – ela junta as mãos em namastê, e eu saio com as crianças para ir ao ponto de ônibus.

Eu seguro a mão de Rachel, enquanto caminhamos para o ponto de ônibus, seu cabelo castanho está preso em um rabo de cavalo lateral com uma enorme flor.

– Não esqueça, tia Manu vai estar lá quando você sair do ônibus esta tarde, porque a mamãe tem um novo emprego. 

Ela olha para cima e sorri para mim, um dente faltando.

– Eu sei, mamãe, você já disse isso. Duas vezes. – eu olho em frente e vejo que Gabe está falando com outra criança, que está esperando no ponto de ônibus. Quando as crianças entram no ônibus, aceno para eles e volto para casa.

A Sra. Ferraz, que é minha vizinha, sai com bobes nos cabelos e um cigarro pendurado nos lábios.

– Ei, Rafa, você está fantástica. Hoje é o dia em que você finalmente ficará livre daquele balde de merda? – ela pergunta enquanto pego a correspondência.

Chefe Cretina - Rafa / You G!pOnde histórias criam vida. Descubra agora