6. capítulo seis

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"Pensa, Stella. Pensa!" Eu repetia para mim mesma enquanto estava estática no alto da escada.

Minha mãe cumprimentou o canadense com um abraço meio desconfortável por serem de tamanhos extremamente divergentes, e fechou a porta atrás dele. Eu corri a me vestir. Larguei a toalha em cima da cama e passei pelo corpo, novamente, o vestido florido.

Respirei umas quatrocentas vezes antes de prender o cabelo em um coque alto e descer as escadas.

Lá estava ele. Totalmente à vontade em frente a tv da sala de minha casa. Seus dedos tateavam o braço da poltrona no ritmo de alguma música que tocava apenas em sua cabeça. Seu jeans escuro combinado com a jaqueta de couro que usava, fez meu lábio inferior parar entre os dentes.

— Bom, vou preparar alguma coisa pra vocês — minha mãe se levantou do sofá, e antes de entrar na cozinha, me deu um sorriso combinado com uma piscadela.

Assim que seu corpo sumiu pelo cômodo ao lado, eu caminhei rápido até a sala de estar. Lance arrumou sua postura diante da minha presença, e eu puxei a gola de sua jaqueta, o levando até o canto da sala, onde não era possível sermos vistos da cozinha.

— Pelo amor de Deus! O que você está fazendo aqui? — perguntei quase em um sussurro, enquanto encarava seu rosto.

— Vim te ver — ele deu um risinho sarcástico e ajeitou a jaqueta no corpo — não gostou da surpresa, Stella?

— Não — respondi ríspida — como descobriu meu endereço?

Lance apoiou uma das mãos na parede atrás de mim, e instintivamente, dei um passo para trás. Mas, ficou apenas nisso, pois minhas costas já tocavam a parede. Merda.

— Hum... — minha mãe apareceu na divisa dos cômodos, e Stroll se afastou de mim, rapidamente — o chá está pronto — ela anunciou e voltou à cozinha.

Ótimo, nada poderia ser mais constrangedor do que tomar chá com a minha mãe e Lance, agora.

Sai em direção à cozinha, pisando duro, e Stroll se divertia com a cena enquanto me seguia. Assim que cheguei no cômodo, muito mais claro que a sala, meus olhos se estreitaram para se acostumar com a luminosidade. Haviam três xícaras postas sobre pires em cima da mesa. A chaleira já apitava no fogão, e minha mãe procurava alguma coisa nos armários a sua frente.

Sentamos um de frente para o outro, e minha mãe entre nós, ao meu lado. Ela serviu o chá, extremamente quente, nas três xícaras de cerâmica, colocou um pouco de leite, e começou a mexer o líquido com a ajuda de uma colher, enquanto esperava algum de nós iniciar um assunto.

Fiz o mesmo que ela, sem a parte de adicionar leite ao chá. Nunca entendi essa tradição grotesca de chá com leite. Assoprei um pouco o líquido quente, e com uma mão apenas, levei a xícara até a boca. Senti o vapor adentrar minhas narinas enquanto o líquido queimava minha língua e o céu da minha boca.

— Stella me contou sobre você — minha mãe descansou sua xícara na mesa e iniciou o assunto com Lance.

Senti o líquido quente parar em minha garganta. Antes de tossir desenfreadamente, engoli com dificuldade o que restava. Depositei a xícara na mesa, e cobri a boca com as mãos, enquanto procurava o ar que me faltava. Os dois pares de olhos estavam sobre mim.

Lance, depois de beber alguns goles rápidos de seu chá, com certa classe, agora ria do meu constrangimento.

Minha mãe me olhava preocupada, e eu apenas retribuí seu olhar com outro, a repreendendo. Ela entendeu, e logo continuou:

— Falou sobre você e os outros pilotos, principalmente o que ela trabalha. Lando? — ela me olhou e eu assenti, quase furiosa — muito gentil ele.

Lance concordou. Ele deu mais alguns goles no seu chá, e adicionou um pouco mais de leite. Eu o encarava, esperando alguma fala a respeito do assunto que minha mãe havia iniciado.

— Gente boa. Trabalho com ele, mas somos rivais — ele encarou minha mãe, enquanto usava as mãos para segurar a xícara apoiada na mesa — já o conheceu pessoalmente, dona Kate?

Filho da puta. Então era isso que ele queria, e conseguiu.

— Não, exatamente — ela respondeu ingênua — ele veio buscar a Stella hoje, mas não saiu do carro — ela tomou o último gole de seu chá, e se apressou para encher novamente a xícara.

Lance voltou seu olhar para mim, enquanto sua expressão ficava extremamente gélida. Eu levei a xícara a boca, tentando disfarçar o nervosismo. Ele assentiu com a fala da minha mãe, e então, depois de aquecer novamente a garganta com o seu chá, ela voltou o olhar para mim.

— Falando nisso, Stella — engoli a seco — você não contou como foi sua tarde com ele.

— É... — dei um risinho sem graça.

Lance, automaticamente, pousou seus olhos em mim. Ele levou a xícara à boca, em câmera lenta, e tomou o seu último gole, fazendo um barulho horrível do atrito dos lábios com a cerâmica.

— Conta pra gente, Stella — ele empurrou a xícara em cima do pires para o centro da mesa, dando como satisfeito, e apoiou os cotovelos na madeira gelada.

Sem perceber, revirei os olhos, indignada com a sua falta de senso, e respirei fundo antes de continuar a contar minha história.

— Foi... bom — respondi, rápida.

Usei as forças que ainda tinha pra tomar o último gole do meu chá, e fiz como Lance. Empurrei os pertences até o centro da mesa, e relaxei na cadeira, cruzando os braços enquanto encarava friamente o piloto a minha frente.

— Bom... — minha mãe iniciou, enquanto recolhia as xícaras de cima da mesa — acho que deu minha hora.

Senti que podia respirar novamente, e assim eu fiz. Enquanto ela recolhia tudo o que havia em cima da mesa, e levava até a pia, eu tentava recontrolar minha respiração.

Em poucos minutos, ela havia deixado o cômodo, e finalmente, estávamos a sós.

— Foi mais fácil do que eu imaginei — ele iniciou, enquanto eu sentia meus órgãos todos se contraírem dentro de mim — então, você e o Norris? — ele se debruçou sobre os cotovelos, tentando me intimidar.

— Não há NADA entre nós, Lance. NADA! — dei ênfase em alguns termos, enquanto usava minha raiva pra bater na madeira da mesa.

Lance se afastou, sabendo da fúria que corria pelas minhas veias, e eu me levantei, saindo do cômodo, o deixando sozinho. Meus pés subiram rapidamente a escada de volta para o quarto, e sem me importar com o sono da minha mãe no final do corredor, deixei a porta bater.

— Stella, eu não queria... — Stroll abriu a porta do quarto, como se pedisse permissão, e depois que eu o olhei, ele entrou, e fechou a porta atrás de si.

— Esse seu ciúmes é ridículo, Lance —eu me sentei na beirada da cama, com os cotovelos apoiados sobre minhas coxas.

— Não é ciúmes — ele respondeu inexpressivo, enquanto caminhava lentamente em frente a pequena estante de fotos.

— Então o que é? — levei as mãos até o colchão, e me apoiei sobre elas, arqueando as costas.

Ele não respondeu. Continuou caminhando pelo quarto, com as mãos dentro dos bolsos da calça, enquanto olhava todas as fotos nos porta-retratos. A luz da lua era a única coisa que iluminava o cômodo, fazendo-me estreitar os olhos para conseguir vê-lo entre a penumbra.

Lance passou suas mãos por uma fotografia onde estava eu e meu pai. Senti um aperto no peito, e respirei fundo antes de perguntar novamente a questão que ele não havia respondido.

— E então, o que é?

Ele não respondeu novamente. Seus passos calmos o direcionaram até mim. Seu corpo alto e esbelto parou diante do meu, que estava sentado e em nível muito mais baixo em relação ao seu. Então, Lance se ajoelhou em minha frente, e colocou suas mãos sobre minhas coxas.

— Não sei, Stella — ele respondeu.

Seus dedos subiram a bainha de meu vestido, lhe dando uma perfeita visão do que ele queria. Seus beijos quentes sobre o interior da minha coxa fizeram meus olhos fecharem, e minha respiração acelerar. E antes que pudesse finalmente me tocar, ele me olhou sobre os cílios, passou os dedos entre os fios de cabelo que caiam sobre sua testa, e me pediu silêncio.

🖤

Roller Coaster • Lance StrollOnde histórias criam vida. Descubra agora