19. capítulo dezenove

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A semana em Londres, depois do grande prêmio do Mexico, passou bem devagar. Talvez fosse minha ansiedade para a formatura, ou até mesmo os problemas que rondavam minha relação com Lance.

Estávamos eu e minha mãe, diante da porta de entrada do enorme salão onde iria acontecer a cerimônia de colação. Eu finalmente receberia meu diploma depois de anos na faculdade.

Um misto de felicidade, tristeza e incertezas circulavam pelo meu corpo, a fim de saber se ele compareceria ou não.

Alguns de meus convidados já estavam sentados em suas devidas poltronas enumeradas conforme os convites que distribui na semana anterior. Zak, Lando e até Lya, estavam lado a lado, concentrados nos convidados que passavam pela porta de entrada.

Lando e Zak me deram um pequeno aceno quando seus olhos me atingiram, e Lya continuou com sua atenção voltada ao enorme palco, onde não acontecia absolutamente nada, ainda.

Senti a mão quente e úmida de nervosismo da minha mãe segurar meu pulso e me puxar para dentro do local. Algumas câmeras focaram em nós duas, e meus olhos custavam a se acostumar com todos os flashs que recebiam.

Rapidamente, adentramos totalmente o local. O salão parecia ter sido preparado com muito esmero. Seu chão brilhava por conta da cera, e os lustres refletiam as luzes incandescentes dentro de si, fazendo meus olhos brilharem por esperarem tanto por esse momento.

Meus saltos finos faziam um barulho estridente quando meus pés fincaram no chão ao ver a silhueta de meu pai. Depois do termino conturbado do casamento de ambos, ele nunca mais havia me procurado, e eu nem tinha interesse em procurá-lo também. Mas, por sorte, ele e minha mãe sempre se respeitaram, talvez pelo sentimento que uniam os dois, ou até mesmo, por minha causa. Por isso, ele cumprimentou rapidamente e educadamente minha mãe, e logo depois, me parabenizou pela formação que estava prestes a acontecer antes de nos dar as costas e ir se acomodar na poltrona designada a ele.

Minha mãe pareceu transtornada e assustada por um momento, mas logo voltou a realidade, e decidiu que também precisava buscar seu lugar no auditório. Então, finalmente, havia chegado minha hora.

Todos aqueles discursos e juramentos me comoveram, mas nada o tirava dos meus pensamentos. Por sorte, meu nome logo foi chamado pela voz grossa do reitor, e novamente os barulhos chatos de meus saltos ecoaram até o palco. Foi um misto de sensações receber aquele canudo simbólico. Era como se eu estivesse terminado um enorme projeto, ou até mesmo, vencido uma difícil corrida. Meus olhos estavam encharcados com as lágrimas que eu insistia em segurar, e eu apenas sorri quando busquei pelos olhos dele no mar de poltronas, e não os enxerguei.

Com o diploma em mãos, desci os poucos degraus que haviam na saída do palco, e vi Lando e Zak me esperando. Infelizmente, Lya os acompanha ainda.

— Parabéns, Stella! — o piloto parabenizou animado, enquanto me puxava para um abraço.

Eu o agradeci com um vasto sorriso, e limpei com o dorso das mãos as lágrimas que finalmente escaparam. Zak também me parabenizou e me abraçou, enquanto dizia o quão orgulhosa era de ter uma engenheira do meu nível na equipe que comandava.

Lya, apenas observava todo o momento com um sorrido contido e irônico no rosto. Ela não havia dito nada, nem uma palavra se quer, mas eu sabia que sua cabeça formulava alguma péssima expressão, que poderia acabar com a minha noite, ou até mesmo com o meu dia. Mas, diferente dos outros dias, antes de sair de casa, prometi a mim mesma que não aguentaria mais desaforos e intrigas causadas por ela, mesmo que custasse minha vaga na equipe, e minha reputação no esporte.

Bom, agora com esse diploma, quem sabe não faz um trabalho decente? — ela perguntou com o mesmo sorriso que ainda se instalava em seus lábios.

Meus dedos apertaram fortemente o canudo de papelão que havia em minha mão. Senti cada gota de sangue circular por cada veia de meu corpo. Meus olhos piscaram algumas vezes, enquanto minha respiração se arrasta ao longo dos pensamentos que organizavam-se em minha mente, para que uma resposta a altura fosse despejada para Lya.

Quando finalmente formulei, e me senti pronta para responder, vi os olhos castanhos que persistiam em tirar meu fôlego toda vez que pairavam sobre mim.

— Por que não procura alguém a sua altura, Lya? Não acha que está aqui por ser bem vinda, acha? — Lance perguntou a mais velha, que virou rapidamente seu corpo para encara-lo. Ela não o respondeu, e então ele prosseguiu — imaginei que soubesse.

Sua classe nunca era perdida. Lance vestia perfeitamente um smoking que, com certeza, havia sido desenhado a mão por algum alfaiate renomado. Seu colarinho parecia firmemente passado a vapor, e suas abotoaduras continham suas iniciais.

Lando e Zak logo se aprontaram a sair dali, mas não sem antes se despedirem e me parabenizarem mais uma vez. Lya os seguiu, pisando duro sobre os saltos grossos que combinavam com seu vestido longo azul.

— Podemos conversar? — ele perguntou baixo, enquanto seus olhos encaravam os meus.

Eu apenas concordei com a cabeça, sem dizer uma palavra. Lance saiu em minha frente, desviando dos convidados que esperavam pelos formandos. Enquanto os seguia, procurei pelo enorme salão, a figura de minha mãe, e fui surpreendida ao vê-la rir enquanto conversava com um dos engenheiros chefes da McLaren. Não quis incomoda-la, muito menos atrasar minha conversa com Lance, por isso, digitei uma mensagem rápida e a enviei antes de me sentar no banco do carona da Mercedes que eu havia sentido falta.

Lance me levou ao hotel onde estava hospedado, no centro da capital inglesa. O caminho não havia sido muito empolgante, já que o silêncio entre nós havia se tornado constrangedor novamente. Ao colocar o cartão na fechadura eletrônica, e a porta se abrir, Lance caminhou rapidamente até a cama, onde se sentou na beirada.

Eu fechei com cuidado a porta, até ouvir o barulho da trava. Com cautela, desafivelei a tornozeleira dos saltos que vestia, e os deixei no canto do quarto, perto do aparador embaixo da enorme TV. Caminhei até a cama, e me sentei ao lado do piloto, que agora encarava a palma das mãos.

— Estou muito orgulhoso de você, sabe disso, não sabe? — ele subiu seu olhar drasticamente, o que fez com que uma mecha do seu cabelo caísse sobre sua testa.

— Hum, obrigada, eu acho... — me permiti ajeitar a mecha que havia se desvencilhado de seus demais fios, e o choque entre nossos corpos, fizeram ambos estremecerem — Lance, você sabe que pode falar comigo, sempre, não foi assim que combinamos?

O piloto, que havia voltado sua atenção a suas mãos, agora me encarava novamente. Seus olhos pareciam perdidos, e marejados. Segurei suas mãos, com certa forças, e lutando contra minhas lágrimas, respirei fundo enquanto o via concordar em silêncio com a minha pergunta.

— Então, por quê não me questionou sobre a fala do seu pai? Sabe que não sou nada daquilo do que ele falou, Lance. Eu realmente te amo, e gosto de você, e só de você.

Minhas últimas palavras pareceram o atingir em cheio. Lance abaixou novamente o rosto, e eu o fiz me encarar, levantando-o pelo queixo, com cuidado. Seus olhos antes marejados, estavam vazios, já que as lágrimas rolavam por suas bochechas. Meu coração parecia poder despedaçar a qualquer momento.

Usei meus polegares para limpar cada gota quente que descia pelo seu rosto. Depois de um tempo nesse processo, ele finalmente parecia pronto para me contar tudo o que assombrava seu coração e sua mente.

— Sinto muito, Stella, de verdade. Tudo o que meu pai disse a mim, eu já passei inúmeras vezes. É difícil conseguir acreditar que você realmente gosta de mim, mas eu sinto isso, e quero que a gente dê certo, eu quero você.

Um sentimento cresceu dentro de mim. Não saberia explicar exatamente, mas algo como emoção e paixão, juntos. Em segundos, vi Lance tirar o casaco do seu smoking, que cobria a perfeita camisa social branca. Suas mãos logo buscaram minha nuca, me puxando delicadamente para um beijo.

Instintivamente, me vi em seu colo. Minhas mãos trabalhavam firmemente em desabotoar sua camisa, levando um tempo até exibir o peitoral trabalhado do piloto. Ele fez o mesmo, mas necessitou de menos tempo até ver o tecido do vestido percorrer toda minha pele e cair sobre o chão de carpete.

— Eu quero você, sempre quis, e sempre vou desejar cada parte sua, cada pedaço do seu coração.

🖤

Roller Coaster • Lance StrollOnde histórias criam vida. Descubra agora