7. capítulo sete

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Uma cama de solteiro, definitivamente, não foi feita para dormirem duas pessoas ao mesmo tempo. Cheguei nessa conclusão depois de abrir meus olhos, e me sentir encurralada. Os braços de Lance contornavam meu corpo, enquanto eu encarava a parede branca à minha frente.

Com cuidado, sai de seus braços, e usando todo meu equilíbrio, pisei entre os espaços vagos da cama tentando não acordá-lo.

— Bom dia — sua voz de sono ecoou pelo quarto, e suas mãos seguraram minhas coxas, antes que eu pudesse sair de perto — dormiu bem?

— Dormir? Lance, nós dormimos, no máximo, duas horas — o olhei desacreditada enquanto prendia meu cabelo com o elástico que estava no meu pulso — mas, bom dia.

Desvencilhei minhas pernas de suas mãos, e sai em direção ao banheiro. Enquanto escovava os dentes, me perguntava mentalmente em frente ai espelho como seria encarar minha mãe depois de dormir com o piloto.

Quando sai do banheiro, Lance não estava mais no quarto. Senti uma sensação esquisita. Talvez uma mistura de preocupação e tristeza por pensar que ele podia ter me deixado sem ao menos se despedir. Essa sensação logo passou quando ouvi sua voz do lado de fora do quarto.

— Bom dia, dona Kate.

— Pode me chamar só de Kate. Se Stella gosta de você, eu também gosto — eu podia imaginar um sorriso amigável no rosto de minha mãe — e, Bom dia!

Quase fui amassada pela porta quando Lance a abriu, pálido, e a fechou novamente tão rápido, que mal pude ver o corredor.

— Meu Deus, Lance! — eu segurei em seus ombros, tentando não rir — você está bem?

Ele balançou a cabeça, apenas. Procurou por sua camisa que estava jogada em algum canto no quarto, e a vestiu. Seus dedos adentraram os longos fios de cabelo, e logo seu topete estava feito. Dei a ele uma escova de dentes reservas que guardava para viagens, e o vi entrar no banheiro.

Decidi esperar por ele, não tinha forças para encarar minha mãe sozinha, não podia imaginar o discurso que ela faria dizendo que não se via com netos, e toda a história sobre se cuidar, e sobre meu futuro promissor. Então, enquanto Lance usava o banheiro, resolvi arrumar meu quarto.

Abri as cortinas e deixei o vento fresco da manhã — quase tarde — da cidade inglesa entrar pela janela. Lance voltou ao quarto enquanto eu ajeitava os travesseiros na cama já feita. Ele usou as mãos para responder algumas notificações no celular, e o guardou no bolso antes que saíssemos do quarto.

Minha mãe estava em frente a bancada que havia na cozinha, guardando as comprar que, provavelmente, havia feito mais cedo. Ela nos recebeu com um sorriso, e indicou a cafeteira, que por sorte, ainda havia um pouco de café quente. Eu distribui o líquido em duas xícaras e entreguei uma ao piloto.

— Stella — a voz doce e calma da patriarca chamou pelo meu nome — preciso de um favor seu... ou de vocês.

Com essas palavras, Lance passou a encará-la também, observando atentamente as próximas palavras que ela diria.

— Fui ao mercado mais cedo, mas esqueci de comprar leite — ela deu uma risadinha — fariam isso por mim? Sem ele não posso fazer o jantar de vocês.

Ambos concordamos, o que me fez achar graça da cena, deixando uma risadinha escapar. Depois de terminar o café, e beliscar algumas frutas frescas que mamãe havia trazido, agora, estávamos diante de sua mercedes, estacionada perfeitamente em frente à calçada.

Em poucos minutos de silêncio, — não mais constrangedor — Lance estacionou em uma das vagas próximas à entrada do mercado. Assim que colocamos nossos pés para fora do automóvel, o um barulho ridículo de câmera tomou conta do nosso trajeto até o estabelecimento.

Com o braço rondando meus ombros, Lance até acenava para as fotos que o paparazzi insistia em tirar. Nossos passos se alargaram, e eu levei minhas mãos ao rosto. Assim que passamos pela porta, Lance se afastou de mim, e retomando o fôlego, se colocou a rir.

— Meu Deus, coitada da Rose — citei sua agente de imagem, que com certeza, depois do episódio, teria dores de cabeça — ela vai te matar, e depois, me caçar.

— Ela se vira bem — Lance deu de ombros, como se não se importasse, mas concordei com ele.

Caminhamos entre os corredores algumas vezes em busca do leite, que acabamos encontrando nas prateleiras dos refrigeradores aos fundos do mercado. Lance algumas vezes se sentia perseguido, com varios olhares sobre ele, e eu entendia isso. Passeamos mais alguns minutos diante de todos os produtos, e sem hesitar ou se importar com os preços, Stroll pegou chocolates e uma garrafa de vinho, depois de muito analisá-la.

Ele pagou a conta, mesmo depois de eu insistir algumas vezes. Ao voltar para o carro, fizemos o mesmo percurso, mas dessa vez, sem o paparazzi chato, — agradeci mentalmente por isso — e com as sacolas em mãos.

Quando pisamos novamente em casa, minha mãe pediu imediatamente o leite para que ela pudesse finalizar o macarrão com molho branco que preparava, sua especialidade. Lance me ajudou a tirar o restante das compras de dentro das sacolas, e esperamos pelo jantar enquanto a TV da sala nos entretinha.

— Ficou muito bom — Lance levou o guardanapo de pano até a boca, e a limpou.

— Obrigada, Lance — mamãe o respondeu com um sorriso contido — quando vamos nos ver novamente?

Eu abaixei a cabeça enquanto brincava com o garfo entre os pedaços de massa que ainda havia em meu prato. Minha mãe, como havia terminado sua refeição, levou seu prato e sua taça até a pia, e agora os lavava, esperando pela resposta. Lance arregalou os olhos e me encarou procurando ajuda. O piloto pigarreou algumas vezes, nervosos, mas logo a respondeu:

— Em breve — ele sorriu, antes que ela saísse da cozinha.

O piloto esperou um pouco, afastou seu prato, e levantou da cadeira. Com uma das mãos, segurou as nossas duas taças, enquanto com a outra ele segurou a garrafa de vinho. E, apenas com um sinal, ele me fez o seguir até a sala. Ele se sentou em um dos sofás, e eu me sentei no outro, a sua frente.

Lance encheu nossas taças, mais do que o recomendado pela etiqueta, mas nenhum de nós ousou se importar com isso. Depois de alguns minutos de conversa, contando sobre sua rotina em dia de corrida, e o quanto ele se sentia mal por parecer dependente do pai, Lance agora estava deitado, com a voz já consumida pelo álcool.

— Stella? — ele me chamou, fazendo eu abrir os olhos, que já se fechavam com o efeito do vinho misturado ao sono — vou voltar, não mentiria para sua mãe, você sabe.

Se me conheço bem, nesse momento meu coração estaria prestes a sair pela boca, e minhas mãos tremendo e soando frio, mas como o o cansaço percorria meu corpo, e eu não havia mais forças para ter alguma reação exagerada, eu apenas resmunguei, assentindo sobre sua ideia.

— E além do mais, gosto de passar meu tempo com você.

🖤

Roller Coaster • Lance StrollOnde histórias criam vida. Descubra agora