14. capítulo quatorze

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Os bancos caramelos não tinham mais o mesmo brilho e encanto de antes. Desde o nosso último encontro, eles pareciam frios e desconfortáveis.

Lance não ousou ligar o rádio, muito menos cantarolar suas músicas chicletes como sempre fazia. E mesmo que estivesse sentindo ódio dele, eu sentia falta. Como sentia.

Talvez tenha sido a semana mais difícil durante os três anos trabalhando com fórmula um. Durante eles, experimentei todas as sensações e todos os picos de adrenalina possíveis, mas nada se comparava ao que eu sentia agora distante dele.

Sua Mercedes parou dentro do estacionamento do enorme hotel em que quase todos os pilotos estavam instalados. Desci do carro, e apenas segui o piloto que andou a todo instante a minha frente, até adentrarmos o elevador.

Depois de longos segundos aturando a musiquinha ridícula por mais de quinze andares, finalmente estávamos no último andar, onde localizava-se seu quarto. A porta de madeira não demorou a ser destrancada pelo cartão inserido na maçaneta. Lance entrou primeiro, como esperado, e atravessou o pequeno corredor até o quarto. Eu fechei a porta atrás de mim, que trancou automaticamente.

— Espero que tenha uma boa explicação para aquele beijo repentino — senti minhas costas atingirem a madeira fria, e cruzei os braços, esperando sua resposta.

Lance não respondeu. Ele sentou na beirada da cama, mais precisamente nos pés dela, e começou a desamarrar os cadarços de seu tênis. Sua mão direita apoiou sobre o colchão, que agora estava afundado pelo peso do seu corpo sobre sua palma. Assim, ele começou a passar os canais da TV, um a um, mesmo que não tivesse interessado nas programações.

— Foi extremamente egoista da sua parte. Você já pensou se fôssemos vistos? — comecei a caminhar em sua direção — sabe-se lá se o Lando vai manter a boca fechada, Lance.

Stroll respirou fundo e passou a mão pelos fios de cabelo antes de se levantar. Ele caminhou algumas vezes pelo quarto. Parecia procurar uma resposta.

— Só de pensar que alguém pode ter tirado alguma foto, e isso chegar na Lya... — continuei nervosa enquanto olhava pela enorme janela a madrugada iluminada — não quero perder essa vaga, e eu nem posso.

— Exatamente, Stella — sua voz saiu alta e forte pela primeira vez — ninguém viu, e tenho certeza que o Norris não vai contar, ou vai? Vocês não são tão amigos assim?

— Ah, era só o que me faltava! Pelo amor de Deus, Lance! — meus olhos rolaram — lá vamos nós, outra vez, com essa história.

O piloto estava parado atrás de mim, eu podia sentir. Então, em um gesto só, girei meu corpo até o encarar. Lance havia desligado a TV. O silêncio fazia tudo parecer mais difícil e insuportável. Seus pés estavam descalços, e o calor deles deixava marcas sobre o piso laminado.

Talvez essa história dure até você se decidir, Stella.

Sua mandíbula estava travada, e a tensão que percorria seus corpo, exalava. Ele pareceu desistir da discussão, e percebi isso quando tirou sua jaqueta e jogou-a por cima da poltrona bagunçada com algumas roupas.

Sem que eu conseguisse prever, um riso me invadiu internamente, tornando-se alto e em uma gargalhada em instantes. Eu não conseguia conter, o que fez com que os olhos do canadense se voltassem, novamente, para mim.

— Fala sério! Você tá com ciúmes? — minha cabeça tombava para trás, enquanto eu procurava fôlego entre as palavras e as gargalhadas — Lance Stroll com ciúmes? de mim? essa é nova.

Depois de algum tempo convivendo com Lance, uma de suas maiores inseguranças era a paciência. Aprendi que, quando a perdia, Lance dizia tudo o que não tinha coragem, e tudo o que lhe incomodava diante de algum problema. Talvez meu plano de rir da situação estivesse dando certo.

O piloto respirou fundo enquanto seus olhos fechavam. Ele caminhou mais algumas vezes, enquanto procurava alguma resposta para rebater minha provocação.

— Não estou com ciúmes, só não gosto desse joguinho que você faz pra cima de mim — disse ríspido, enquanto se aproximava.

Tentei conter a risada, mas ela insistia em me trair. Não entendia como podia ser tão cômica a situação, mas aproveitei para aumentar a quantidade de serotonina do meu cérebro.

— Tá com ciúmes, sim! — afirmei mais uma vez, enquanto gargalhava diante dele, e sem conseguir conter, dava alguns tapas involuntários em seu peito, no ritmo das risadas.

Sua expressão nunca esteve tão fechada. O piloto sequer se movia diante de meus toques inofensivos.

Mas sua paciência chegou ao fim. Meu riso frouxo e forçado finalmente acabou quando as mãos de Lance agarraram firmemente meus pulsos. O sorriso em meu rosto desmoronou, e deu lugar a uma expressão gélida, mas curiosa pelo o que viria a seguir.

Seus olhos fitavam os meus, um de cada. Seu rosto estava próximo demais, me dando a oportunidade de sentir seu hálito mentolado causado pela pastilha que chupava. Em curtos passos, senti minhas costas atingirem o vidro gelado da janela enorme agora atrás de mim.

— Quando vai acabar com isso, Knightley? — ele sussurrou tão próximo a minha boca, que pude sentir como um beijo.

Após semanas sem vê-lo, e muito menos toca-lo, ficar proximo demais, como estávamos agora, era tortura.

Quando você perceber que eu já me decidi — sussurrei com um sorriso divertido no rosto.

Bastou isso para que ele matasse a distância entre nós. Em segundos, sua boca atingiu a minha com voracidade. Devia ser a saudade e o desejo juntos que nos proporcionavam essa nova e maravilhosa sensação.

Suas mãos, antes que seguravam meus pulsos, agora estavam sobre minha nuca. Não demorou para que ele afastasse dali os longos fios loiros que caiam sobre meu pescoço e depositasse todos os beijos que havia guardado.

Em pouco tempo, suas mãos ágeis fizeram as roupas que eu vestia deslizarem pelo corpo e atingirem o chão. Nossos corpos, juntos, dançaram em uma perfeita sintonia até a enorme cama que compunha o centro do quarto.

Assim que meu corpo encontrou-se com o colchão, Lance continuava a trilhar seus beijos pelo meu colo descoberto. Alguns gemidos involuntários insistiam em escapar de minha boca, provocando o melhor dos sorrisos no piloto.

Ótima escolha, Knightley — ele sussurrou sobre o lóbulo da minha orelha.

Lance sorriu, sorriu como se estivesse me olhando pelo primeira vez. Seus olhos passearam por todo meu corpo, e o brilho que surgia junto com suas pupilas dilatas me fazia sentir-se especial. E eu não entendia como ele ousava pensar que eu desejasse que qualquer outro olhasse para mim daquela forma.

E foi nesse exato momento, que tive certeza do que sentia por ele.

🖤

Roller Coaster • Lance StrollOnde histórias criam vida. Descubra agora