O calor brasileiro fazia meus fios claros esvairem. Interlagos tinha uma energia boa descomunal. O circuíto sempre era um dos mais cheios, rodeado de fãs de toda a América do Sul, deixando o Paddock mais colorido e preenchido.
Meus pés corriam pelo asfalto quente enquanto eu guardava minha credencial na mochila. Não tinha sido fácil enfrentar o transito paulista, mas com a ajuda do bom taxista que contatei, em minutos havida sido levada do hotel ao autódromo.
A sensação que me preenchia era incrivelmente boa, e nada poderia acabar com ela, nem mesmo a dona dos olhos fulminantes que me encaravam assim que pisei na garagem da equipe britânica.
Carlos e Lando pareciam preocupados enquanto eu revirava os arquivos sobre os treinos dos dias passados no meu computador. O espanhol havia tido um péssimo resultado no treino classificatório e, infelizmente, largaria dos boxes.
Já Lando, foi desclassificado no Q2 no dia anterior, alcançando a posição de décimo primeiro, seis posições a frente de Lance.
Meu coração começou a bater mais forte quando vi os dois carros laranja serem levados até a pista. Toda a movimentação fazia minha respiração descompassar sabendo do que viria a seguir.
Eu sentia que depois de formada, a cobrança e esperança de que eu fizesse um bom trabalho triplicasse. Esse era um dos meus maiores problemas: a auto cobrança. Nada poderia me deixar mais nervosa do que eu mesma e os olhos fervorosos de Lya sobre mim.
Eu já estava posta em frente a maquina que tinha a tabela do grid e os gráficos da fricção dos pneus. Zak me passou cada detalhe pensado pelo nosso estrategista, e eu, como encarregada das trocas de pneus, já formulava os momentos na minha cabeça.
Finalmente as luzes vermelhas sumiram da vista de todos, e os carros largaram. Carlos logo alcançou uma boa posição deixando as duas Haas e Williams para trás logo no início, enquanto Lando segurava sua posição mais a frente.
Era incrivelmente lindo como os dois carros corriam pela pista, principalmente pelo famoso S do Senna. Eu poderia dizer que essa era uma das curvas mais bonitas de toda a temporada.
As trocas dos pneus saíram perfeitamente, exatamente da maneira como pensei e esperava que fosse. Mas isso não foi o suficiente para tamanha alegria que me invadia agora ao final da corrida.
Depois de uma batalha contra quase todos os carros do grid, Carlos havia terminado suas voltas em quarto lugar, e agora, diante de meus olhos e de toda equipe, esperávamos ansiosamente pela decisão da FIA sobre a punição de Hamilton, que caso fosse confirmada, traria para a equipe — e para o espanhol, o primeiro pódio do ano.
Assim que o aniversariante do dia, Lando, voltou das pistas, Lya chegou logo atrás dele. Em um abraço rápido com o piloto, o felicitei pela data especial e também pelo oitavo lugar, que nos renderia bons pontos para brigar pelo pódio na classificação de construtores.
Assim que o piloto saiu em direção a seu quarto privativo, Lya indicou com a cabeça a sua sala. Ela passou na minha frente, e em passos calmos e espaçados, adentrou o local.
Senti todo meu corpo se enrijecer, e a mesma ansiedade do início da corrida tomar conta do meu corpo novamente.
Quando pisei na sala, a mais velha logo fechou a porta atrás de mim. Ela caminhou até sua mesa, e sentou-se na poltrona laranja que acolheu muito bem seu corpo. Eu apenas a segui, ficando em frente o tampo de madeira que nos separava, enquanto sentia os pelos do meu corpo se ouriçarem por conta do ar condicionado gelado.
— Fez um ótimo trabalho hoje, Stella. — ela sorriu ironicamente enquanto girava sob as rodinhas da poltrona — mas ainda não é o suficiente. Carlos e Lando tiveram baixas constantes nas temperaturas dos pneus, que sempre foram de sua responsabilidade.
Lya, então, sabia exatamente o que fazia. Seus cotovelos apoiaram-se sobre a mesa, e sua cabeça sobre suas mãos. Ela me olhava sob os cílios esperando ansiosamente pela minha resposta.
Foram dois longos anos muito felizes na equipe, mas não valia mais a pena aturar Lya e todos os seus desaforos. Eu realmente não me importava mais com o risco que correria ao respondê-la. Não desperdicei palavras ao formular minha resposta, nem mesmo prestei atenção na maneira como as despejava, apenas a confrontei, de igual para igual.
— Sinceramente, Lya? Eu cansei. — apoiei minhas mãos com força sobre a mesa, o que a fez assustar um tanto — nada que eu faça é o suficiente para você, e só para você. É a única que reclama de qualquer passo que eu dou, ou de qualquer cálculo que eu faça. Fazem dois anos que eu finjo aceitar calada, mas não mais. — com as mãos trêmulas, tirei minhas credenciais do pescoço e as coloquei na mesa — sabe que sempre tento entender o outro lado das coisas, então se quiser se desculpar, ou voltar atrás, sabe onde me procurar. — meu coração batia tão forte, tão forte, que talvez só as lágrimas que rolavam pelo meu rosto fossem necessárias para expressar o misto de sentimentos que me invadiam — e parabéns pelo pódio de hoje.
Foi a última coisa que falei antes de sair da sala e puxar com força a maçaneta cromada da porta. Precisei de alguns minutos parada para assimilar tudo o que havia acabado de acontecer. E graças a todas as forças superiores, Lya não ousou sair de sua sala enquanto eu me encontrava parada em frente à ela.
A garagem se encontrava totalmente vazia quando decidi finalmente recolher minhas coisas, e as imagens de Carlos e toda a equipe no pódio que passava no televisor enorme acoplado a parede me informaram o motivo do sumiço geral.
Um sorriso bobo e orgulhoso se formou em meu rosto, mesmo em meio às lágrimas que rolavam sem cessar.
Era evidente o amor que eu sentia pela McLaren. Foi meu primeiro estágio, meu primeiro emprego. Foi a equipe que me acolheu, me ensinou, e me apresentou pessoas incríveis. Pensei em Zak e Lando, em como eles ficariam triste em saber da minha demissão, mas comparando com tudo o que havia de ouvir de Lya, eu sempre escolheria a mim e ao meu bem estar.
Minha mochila batia contra minhas costas enquanto eu corria pelo paddock. Meu coração apenas acalmou ao ver a silhueta dele, vestido inteiramente de rosa, como costumava ser.
Sem nenhuma preocupação, o abracei por trás. Pela primeira vez tive a liberdade de expressar publicamente meu amor e carinho por Lance, e isso fazia meu coração se curar aos poucos.
Ele não demorou a virar seu corpo, e me abraçar da formar mais convencional. Cada músculo meu agora relaxava sobre seus braços, que sempre me acolheram com tanto carinho, e eu nunca pude retribuir.
Ele levantou meu rosto com as mãos, calmamente, e vi sua expressão mudar ao me encarar. Lance selou rapidamente nossos lábios, finalmente sanando todas as minhas dores e as minhas mágoas.
Ele sabia como me fazer bem, como me fazer feliz.
Foram longos minutos nessa maneira, antes que ele ousasse me perguntar da maneira mais cuidadosa possível, o motivo do meu choro. Expliquei sucintamente. Lance não deveria saber de tudo, não com eu conhecendo seu lado impulsivo, que poderia resultar em uma discussão ridícula e desnecessária com Lya para minha defesa. Então, apenas o disse que havia me demitido.
— Talvez rosa seja sua cor.
Foi a única coisa que ele disse no fim. Um sorriso travesso se formou ao canto de seus lábios, e eu não ousei confronta-lo. Lance passou seu braço sobre meus ombros, e me puxou para mais perto de si.
💗
oi, como estão? espero que bem!
depois de 3 anos eu resolvi reescrever e repostar essa história, e cá estamos nós no último capítulo 🥹
agradeço imensamente a todo mundo que leu, votou e deixou um comentário em cada parágrafo, sem vocês, leitores, eu não teria voltado atrás dessa história tão bonitinha 🫶🏻além disso, queria dizer que tem um epílogo e uma potencial segunda temporada, o que acham?
enfim, obrigada mais uma vez a todos que leram e aos meus amigos que me apoiam! quem quiser falar comigo ou me conhecer mais de pertinho, pode me seguir no twitter: @ goldsnvfu 📍
nos vemos no epílogo
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Roller Coaster • Lance Stroll
Romance"We were up and down and barely made it over, but I'd go back and ride that rollercoaster with you." capa por @dybaladeiro