18. capítulo dezoito

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O restante dos dias foram, mentalmente, exaustivos. Por mais que eu tentasse, o clima na casa dos Stroll havia pesado desde o desentendimento de Lance com o pai. Eles passaram os demais dias ignorando totalmente a existência um do outro, enquanto eu tentava apenas fingir que nada tinha acontecido.

Por sorte, durante minha estadia, Chloe se aproximou bravamente de mim, e descobrimos muito mais coisas em comum do que imaginávamos, até mesmo seu relacionamento com um dos pilotos da fórmula dois.

Claire, como sempre, manteve sua educação e simpatia durante todos os dias em que permaneci com sua companhia. A matriarca foi extremamente gentil em me confortar todos os dias, dizendo que não tinha porquê me culpar pelo ocorrido, e que era típico de Lawrence ter tal atitude.

E o Lance? Bom, o Lance parecia distante, mas não ousei questiona-lo, não queria piorar a situação.

Agora, diante das telas ligadas com as estatísticas e gráficos, que subiam e desciam a todo momento, mostrando o desempenho dos dois carros laranjas na pista, a McLaren parecia ter um de seus melhores resultados do ano. Lando e Carlos ficaram em sétimo e oitavo lugar, respectivamente, enquanto Lance, com muita má sorte, terminara em décimo terceiro.

Depois de anos no mundo automobilístico, eu havia aprendido que o mundo exterior pode chegar a influenciar na qualidade da corrida de um piloto, e dessa vez, tinha certeza que isso ocorrera. Depois da semana caótica, Lance não teria condições de ter um bom desempenho, não com a cabeça cheia de pensamentos que também perambulavam pela minha mente.

Zak foi extremamente gentil ao me liberar mais cedo. Como de costume, desliguei o aparelho a minha frente, e em um salto, desci da banqueta que usávamos durante os torneios. Atravessei a pista do pit stop, e em pouco tempo, já adentrava o box da equipe para apanhar minha mochila, que sempre me acompanhava onde quer que eu fosse.

Meu celular vibrou algumas vezes, e respondi as notificações que tinham meus pais como remetente, e em alguns segundos, meus dedos ágeis digitaram uma breve mensagem à Josephine, perguntando se poderíamos almoçar juntas. Ela não hesitou em responder positivamente, e eu caminhei em direção ao lounge onde sempre costumávamos almoçar.

O saguão do ambiente se encontrava vazio, por sorte. Caminhei entre as poucas pessoas que haviam ali, enquanto sentia o gelado dos vários ar condicionados instalados atingir minha pele quente pelo tempo exposta ao sol. Decidi que dessa vez, daria uma chance as milhares de opções de lanches que haviam no cardápio do restaurante, e sem pensar duas vezes, pedi o que mais me chamava atenção nas páginas que corriam pelos meus dedos.

Enquanto esperava, de frente para o balcão, eu terminava de ver as notificações que enchiam a tela do meu celular. Mesmo com o relacionamento escondido das mídias e das pessoas relacionadas ao paddock, eu ainda tinha minha imagem relacionada a do canadense, o que continuava gerando críticas e comentários negativos, que quase sempre, eram falsos.

Mas, fui desvencilhada dos meus pensamentos imersos quando senti o hálito gelado da loira em minha nuca descoberta. Meus cabelos estavam presos em um rabo alto, o que facilitou o movimento de Josephine. A loira se aninhou ao banco que havia ao meu lado, e animadamente, pegou um dos cardápios na mão, antes de folhea-lo.

— E então? Qual a novidade? — ela perguntou animada depois de deixar o libreto em cima da madeira escura, e ver o atendente sair para preparar seu pedido.

Eu apontei com a cabeça para as mesas vazias atrás de nós. Ela entendeu rapidamente o meu sinal, e pegou sua bolsa preta que costumava usar antes de descer da cadeira e caminhar com classe até uma das mesas próximas.

— Lance disse que me ama — disse logo de cara, enquanto puxava a cadeira a sua frente para me sentar. Vi seu rosto formar uma expressão de espanto, que logo desmoronou — mas, desde que viemos para os Estados Unidos, ele não tem me procurado.

O garçom prontamente apareceu ao nosso lado com os pedidos em mãos. Ele serviu o de Josephine, que olhou animada para a salada posta a sua frente, e depois, serviu o meu lanche, que não me causava nenhuma reação.

— Hm — a loira pensou — já conversou com ele sobre isso?

— Claro que não — tirei o plástico que envolvia o canudo e o enfiei no local indicado — não quero parecer desesperada, não depois do que aconteceu na casa dele.

Josephine, então, começou a garfar as folhas verdes e eu contei a ela cada detalhe da semana que se passou. Seus olhos azuis se arregalavam todas às vezes em que eu relatava as ações e falas de Lawrence.

— Bom, Lance não tem motivos pra te tratar com indiferença se ele ignorou o ocorrido, mas posso tentar descobrir o motivo desse mau humor dele — um sorriso ladino se formava em seu rosto angelical.

A loira tirou de dentro da bolsa em seu colo seu celular. Em alguns segundos, seus polegares digitaram alguma coisa impossível de ser vista pelos meus olhos. Ela bloqueou o aparelho, e o deixou em cima da mesa enquanto terminávamos nossa refeição em um silêncio não tão agradável.

De repente, o monegasco apareceu com o rosto avermelhado pela falta de ar. Suas roupas combinavam perfeitamente com suas maçãs coradas. Josephine cumprimentou o agora namorado com um beijo rápido, e cochichou alguma coisa em seu ouvido. Charles a questionou sem dizer nada, apenas franzindo as sobrancelhas.

— Por favorzinho!!! — Josephine quase miava.

O piloto se rendeu a seus truques, que convenhamos, eram iscas fáceis de serem abocanhadas. Charles sumiu de nossas vistas, e finalmente, Josephine recompôs sua postura, e voltou a me encarar.

— O que vocês vão aprontar? — perguntei preocupada e vi a loira a minha frente gargalhar. Ela parecia descontraída, e sem nenhuma preocupação, mas seu riso sumiu assim que o celular vibrou. Suas mãos, rapidamente, apanharam o aparelho, e em questão de segundos, ela levou o celular até a orelha. Não demorou muito para que colocasse no viva voz, e logo a voz de Charles se fez presente novamente entre nós.

— Não foi fácil, e você vai me pagar por isso, Josephine! — o monegasco iniciou irritadiço, e Josephine segurou o riso, levando a mão livre até a boca — mas depois de muita enrolação, Lance me disse que está como está por causa do que o pai disse, sobre a Stella estar com ele apenas pelo dinheiro, e bom, ele deve estar pensando sobre isso. Agora, me tira do viva-voz!

Em um toque sobre a tela, os dois voltaram a conversar com privacidade, enquanto minha cabeça tentava reorganizar todas as informações que eu havia recebido.

Não era fácil pra mim, muito menos pra Lance. Mal podia imaginar como era ter sua imagem associada apenas a fortuna do pai, que na realidade, era um enorme babaca.

Como ele não queria ser incomodado, resolvi que não o procuraria por ora, mas que isso não poderia ficar assim, nosso relacionamento não poderia terminar dessa maneira.

Me vi pegando a mochila pendurada no encosto da cadeira, e partindo em direção ao caixa, onde sem segredo, paguei a conta do que havia consumido. Josephine me mandou um beijo pelo ar, enquanto ainda conversava com o namorado pelo telefone, e finalmente, cruzei a saída do lounge.

Enquanto caminhava até a entrada do paddock, meus dedos digitavam e apagavam mensagens ao piloto. Nada do que eu dissesse agora poderia ajudar em relação a nós, ou pior ainda, poderia piorar tudo. Então, com os meus pensamentos na minha formatura que aconteceria em uma semana, me sentei no banco do táxi que havia chamado.

🖤

Roller Coaster • Lance StrollOnde histórias criam vida. Descubra agora