13. capítulo treze

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A semana se arrastou durante os dias que estive em Londres. A companhia da minha mãe não era das melhores nesse momento, já que ela insistia em perguntar o que havia acontecido com Lance. Agradeci aos deuses e todas as forças superiores quando chegou a hora de embarcar para o próximo grande prêmio.

Agora, minhas pernas se moviam rapidamente em direção ao box da McLaren. O circuito de Marina Bay é conhecido como o mais desafiador, principalmente por ocorrer a noite, dificultando a visibilidade da pista, mesmo com os milhares de refletores espalhados por ela.

Era um desafio encontrar a cor laranja no meio daquela multidão. Mas, por outro lado, a cor rosa era muito fácil. Lance ainda usava seu jeans escuro que combinava com a sua polo azul e rosa. Seu riso encantava os milhares de fotógrafos que se espremiam diante da grade de metal, enquanto sua lábia ganhava os repórteres sedentos por uma notícia sobre o grid. No entretanto, eu me perguntava como ele podia viver bem depois do que havia acontecido entre nós.

Deixei os pensamentos de lado e continuei caminhando até a garagem que me interessava. O medo de levar uma bronca pelo atraso me fez passar reto pela equipe. Mas não fez nenhum efeito. Os olhos ofuscantes e azuis de Lya me fuzilaram quando, finalmente, me sentei na cadeira designada à mim.

Antes que ela me alcançasse, tirei todas as anotações da mochila, e silenciei meu celular a fim de não ser incomodada durante a corrida. Coloquei o fone sobre minhas orelhas, e mesmo sem nenhum carro na pista, visualizei os gráficos a minha frente, com toda atenção, procurando algum erro referente aos treinos dos dois dias passados.

— Atrasada novamente, Knightley — sua voz estridente finalmente saiu — espero que não se repita.

Não a respondi. Balancei a cabeça como um sinal de ter captado seu recado, e esperei que ela saísse, mas não aconteceu, pelo contrario, seus saltos bateram algumas vezes sobre o piso bruto, como se fosse sair dali, mas depois de girar sobre os calcanhares, ela voltou a tagarelar.

— Por sinal, fiquei sabendo que terminou o relacionamento com o canadense — sua voz era de desdém, e um sorriso irônico formava-se em seu rosto fino — essa é a minha engenheira.

Senti meu sangue ferver e passear a 300km/h por todo o meu corpo. Meus punhos cerraram-se, e minha respiração estava descompassada, mas não ousei gastar palavras com ela. Ao invés disso, fechei os olhos por alguns segundos, tentando recuperar minha paciência, e voltei a atenção à tela na minha frente.

— Está tão calada, não sei o que houve, mas espero que não interfira na corrida de hoje, Stella. Temos que pontuar.

Zak, que sentava exatamente ao meu lado nesse momento, me olhava preocupado pelo canto dos olhos. Odiava perder a paciência, mas Lya, praticamente, sugava-a de mim. Então, com cautela, deixei meus afazeres de lado, e o fone na bancada, antes de girar sobre a banqueta, e ficar de frente para a mais velha.

— Você, praticamente, acabou com o meu namoro, e me faz repensar sobre meu emprego todos os dias. Espera que eu sorria o tempo todo e seja gentil? — minha voz era trêmula, não estava acostumada a ser imponente, mas as palavras apenas saíam — não posso viver minha própria vida, e agora não posso ficar calada, na minha? Por que não aproveita e liga pra minha mãe? Talvez assim consiga tomar conta do mísero resto particular da minha vida.

Senti meus músculos se aliviarem, junto com a agonia que me perseguia durante todos os dias da semana. Lya estava paralisada diante de mim, não sabia o que fazer, muito menos eu. Então, sem dizer nada, ela deu um sorrisinho amarelo, e saiu, indo atrás dos dois pilotos que logo estariam em prova. Zak, por outro lado, mesmo com sua atenção direcionada aos gráficos, riu baixo, tentando não demonstrar sua felicidade em ver Lya derrotada.

Felizmente, a corrida começaria alguns minutos depois, e toda minha raiva se transformou em concentração. Singapura não era nada fácil. Além de ser um circuito noturno, era uma das pistas mais extensas e quentes, chegando a sessenta graus dentro do cockpit, o que desgastava muito os pilotos.

Mas, diferente das corridas passadas, essa nos trouxe um pouco mais de felicidade e esperança. Depois de uma largada não muito favorável, Lando havia terminado em sétimo, uma de suas melhores posições na temporada, enquanto Carlos, terminou em décimo segundo, seguido de Stroll.

Seu nome havia me perseguido durante toda a semana, e agora, durante a corrida. O fato de não podermos ser vistos juntos, e o quanto isso impedia de nos reconciliarmos, me matava internamente. Com isso, resolvi pedir socorro para a única pessoa que poderia entender e me ajudar nessa situação, já que Josephine não tinha ideia da condição em que Lance e eu nos encontrávamos.

Por má sorte, Lando não estava mais na garagem. Depois de levar alguns minutos procurando o piloto pelas instalações internas, Zak me informou de que ele havia saído do local assim que retornou das pistas. Agradeci ao mais velho, e depois de recolher meus materiais e guarda-los em minha mochila, parti em busca do britânico.

Já era quase madrugada quando a corrida chegou ao fim, então deduzi que o vento gelado que fazia meus cabelos loiros esvoaçarem era por conta do horário. Sem muito esforço, corpo de Lando estava há alguns metros a minha frente. O paddock já estava praticamente vazio, mas o fãs fissurados ainda transitavam pelo local.

Quando estava quase próximo do piloto, pude ver que havia alguém em seus braços, e não demorei a identificar a jaqueta laranja que a garota vestia.

— Stella! — lando disse animado ao me ver — já está indo embora? — ele parecia desconfortável diante de mim, e de sua companhia.

— Hum, sim — dei um sorriso contido — queria te parabenizar pela corrida hoje, foi muito bem, e seu desempenho foi muito importante — menti, e Lando pareceu acreditar.

O piloto me puxou para um abraço desajeitado. Enquanto seus braços rondavam minha cintura, os olhos do canadense, que estava apoiado ao motorhome de sua equipe, queimavam sobre mim e Lando.

— E parabéns também, Hazel — estendi minha mão à morena, que apertou sem hesitar — fez um ótimo trabalho com aqueles cálculos.

Lando parecia feliz em ver eu e sua nova amiga interagir. Sua animação era tanta, que logo começou uma conversa sobre a pista, e como havia sido difícil pilotar naquela noite. Enquanto isso, os braços de Lance se cruzaram diante de seu corpo, e ele parecia imóvel, mas seus olhos nunca me deixavam. Por um descuido meu, não vi quando se juntou a nossa conversa.

— Já podemos ir? — ele perguntou impaciente à mim, depois de agarrar bruscamente minha cintura, e selar nossos lábios em um beijo rápido.

Lando e Hazel pareciam tão desconfortáveis quanto eu diante da cena. Os olhos de Lance ainda estavam sobre mim, mas agora, havia incerteza e impaciência pela resposta que ele esperava.

— Vocês voltaram a... hum, não sei, achei que tinham parado de... — Lando tentava conter suas palavras enquanto coçava sua nuca.

🖤

Roller Coaster • Lance StrollOnde histórias criam vida. Descubra agora