8. capítulo oito

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Lance havia deixado a Inglaterra três dias atrás. Meus pés descansavam, agora, no apoio do banco da fileira da frente, depois de ter percorrido com pressa toda a extensão do aeroporto internacional da capital inglesa. Lando já dormia na poltrona ao lado, enquanto o avião preparava-se para decolar rumo a Bruxelas, Bélgica.

O circuito de Spa era sempre muito aguardado. A maioria dos pilotos do grid o tinham como favorito, por ser uma das pistas mais competitivas, desafiadoras e, principalmente, de grande tradição. Mentiria se dissesse que não é importante para mim também.

Meus olhos não pregaram um minuto se quer durante a viagem, mesmo que fosse curta. Desde o final de semana meu celular não parava de apitar com notificações. Depois que as fotos de mim e Lance no supermercados foram divulgadas, os fãs, não muito amorosos, do piloto e do esporte, resolveram que eu não sou a melhor companhia para ele. Assim, os comentários mais maldosos e inapropriados eram designados à mim em todas as publicações que envolviam nós.

Eu sabia que, se algum dia da minha vida, tivesse relação com algum dos pilotos do grid, eu teria que encarar o lado ruim da fama, mas não sabia que seria tão dolorido e devastador como estava sendo.

Lando me perguntou diversas vezes o porquê do meu silêncio enquanto esperávamos pelo voo. Disse estar cansada, e com enxaqueca. Ele pareceu não acreditar, mas também não insistiu em saber a verdade.

Cogitei varias vezes mandar mensagem pra Lance e acabar com tudo. Muitas das mensagens dos "fãs" diziam que eu não era o suficiente para ele, e talvez fossem verdade. Outras eram ridículas, onde diziam que eu era aproveitadora, e só estava usufruindo do dinheiro dele. Patético.

Assim que o avião pousou, custei a acordar o piloto, o que fez com que fôssemos os últimos a deixar a aeronave. Lando e eu pegamos um táxi, o primeiro vago que encontramos, e fomos para o hotel. Ele sugeriu que almoçássemos juntos, mas tive que recusar. Não queria estragar o momento com minha falta de animação.

A cidade belga parecia muito pequena diante da sacada do vigésimo andar do prédio. Meu quarto era enorme. A equipe inglesa sempre fazia questão de tratar bem seus funcionários, e principalmente, seus pilotos. E, agora que me tornei uma das engenheiras oficiais, esse tratamento não foi diferente. A suíte tinha uma enorme cama e uma vista incrível.

•••

O paddock parecia muito movimentado para apenas um treino livre. Sempre achei engraçado a maneira como os mecânicos corriam de um lado para o outro, aflitos e nervosos com os treinos. Enquanto isso, os engenheiros cuidavam dos carros que logo sairiam dos boxes para as pistas.

Carlos, que tinha seu nome cogitado na equipe italiana para a próxima temporada, parecia animado.

— Bom dia, Stella — ele me cumprimentou com um aceno rápido — sabe do Lando? Não o vi essa manhã.

Eu apenas neguei. Um desconforto invadiu meu peito, mas resolvi focar no que realmente importava. Eu havia deixado vários cálculos da aerodinâmica para fazer desde a semana passada, e agora, eu precisava terminá-los. Mas, toda vez que meu olhos fixavam na tela do computador a minha frente, o visor do celular acendia com outro comentário ridículo em alguma publicação na qual eu estava marcada.

Acionei o modo noturno, e coloquei o aparelho dentro da minha mochila, o que fez com que eu tivesse um pouco mais de concentração. Enquanto os carros percorriam diversas vezes a pista, eu terminava os cálculos baseados nos resultados obtidos durante o treino, para que as alterações necessárias fossem feitas até o treino classificatório.

Roller Coaster • Lance StrollOnde histórias criam vida. Descubra agora