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A cidade não era bonita aos olhos, mas tinha um toque de nostalgia e mistério devido às casas antigas com seus telhados marrom avermelhados. Havia vielas que levavam a casas pequenas e simples, e nas ruas principais haviam casas maiores de dois e três andares, mas tudo estava desgastado pelo tempo. As pinturas das construções eram desgastadas, o amarelo era pálido, o verde, o vermelho e o azul. Fazendo parecer que ninguém se importava em passar uma nova camada de tinta pelas casas. Quase todas tinham aquele mesmo estilo. E tudo contribuía para deixar a cidade com um ar triste e melancólico.
As ruas não tinham pavimentação, mas várias crianças corriam pelos quintais com grama verdinha na frente de seus lares.Nas varandas de estilo vitoriano, mulheres fofocavam tomando chá, homens fumavam charutos e senhores de idade se balançavam em cadeiras de balanço lendo jornais. Além de triste e melancólica, a cidade era abandonada. Será que havia como isso piorar? Freya descobriu que sim quando o carro passou por um lugar que aparentemente era um hospital abandonado:
Então o táxista disse:
— Talvez vocês estranhem quando passarem na frente de construções e prédios abandonados como esse - ele disse apontando para o hospital que Charlie olhava abismado e curioso -. Não se assustem...
— Olha filha, parece cenário daqueles filmes de terror que nós assistíamos!
Charlie disse sorrindo. Freya assentiu uma vez com a cabeça, engoliu em seco e disse impassível:
— Sim, papai.
E como não tinha mais nenhum comentário à acrescentar, ela se calou, sentindo um enjôo na boca do estômago. O motorista não pareceu incomodado pelo fato de ter sido interrompido, pelo contrário, prosseguiu calmamente como se nada tivesse acontecido:
— Como eu ia dizendo, não se assustem, a cidade é muito antiga e os moradores são extremamente conservadores. Por isso o hospital, a escola, a igreja e algumas mansões foram preservadas. Houve quem quisesse derrubar essas construções para construir outras, mas como eu disse, os moradores são muito conservadores e não permitiram que ninguém fizesse isso.
— E porquê não? Seria melhor para a população da cidade.
Daphne perguntou, observando as construções com visível curiosidade.
— Bem, sabemos que sim, mas prédios como esse demoraram muito para serem construídos pois o governo não dava a mínima para Crying Village, e quando finalmente resolveram fazer essas construções, todas elas ficaram marcadas na história da cidade. Por isso os cidadãos não permitiram que as destruíssem quando elas começaram à se desgastar.
— Faz sentido.
Enquanto Charlie e o homem do táxi tagarelavam a respeito da história da cidade, Freya notou que a chuva havia cessado. Foi mais do que um ótimo motivo para que ela abrisse a janela do carro, querendo ver o lugar com mais nitidez. E então o carro foi andando mais devagar e com mais cautela, pois à frente se encontravam muitos buracos. Enquanto a garota observava tudo com atenção, o táxi foi passando bem lentamente em frente a uma quitanda de frutas.
Uma senhora parada ao lado das muitas frutas atraiu a atenção de Freya. Ela deveria ter entre 70 e 80 anos no máximo, era baixa e esguia, e sua pele branca e cheia de manchas da idade era flácida sobre o velho e desgastado corpo. Seus cabelos eram lisos e grisalhos e extremamente longos, quase batendo em sua fina cintura. Usava um vestido de algodão com mangas longas verde escuro quase preto, e botas de couro marrom que não combinavam em nada. Sua mão esquerda segurava uma sombrinha muito velha, e sua mão direita estava apoiada sobre uma bengala de madeira.