Capítulo 5: O Crime

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Na sexta-feira daquela semana, Laura e Rodrigo tiveram um encontro. Vinham se aproximando cada vez mais, e aquela era a segunda vez em que saíam sozinhos. Fernando nunca perguntou, mas sabia em seu coração que a irmã e o pretendente já estavam a caminho de se tornar mais que bons amigos. Laura era tímida para essas coisas; Fernando não queria forçar a barra e constrangê-la com perguntas, mas tinha certeza de que pelo menos um beijo já tinham trocado—afinal ninguém vai ao cinema aos dezessete anos para beijar pela primeira vez: ou vão para ver o filme ou para beijar em paz. No caso da irmã, provavelmente a segunda opção, já que ela era uma garota reservada e não gostava de demonstrações públicas de afeto no colégio.

O namorico ainda não era oficial; só algumas amigas dela e Fernando sabiam dos pormenores. O caçula, por outro lado, falava pouco sobre a própria vida com a irmã, que se informava da maioria das coisas por meio de Rodrigo, que era a ponte entre eles, Giovani e Lorenzo. O motivo da visita noturna de Laura ao quarto do irmão quando voltou do cinema com Rodrigo foi exatamente uma dessas informações cruzadas que chegou a ela sem que ela estivesse esperando.

— Posso entrar? — ela perguntou abrindo a porta do quarto de Fernando, que assentiu com prontidão. — Pensei que você já tava dormindo...

— Não, ainda não, tô falando com a Rafa aqui no celular.

Ele deixou o aparelho ao lado do travesseiro e deu espaço para a irmã se sentar no colchão. A TV ligada gerava a pouca iluminação e os sons distantes que preenchiam o quarto. Laura se sentou e escondeu as mãos entre as coxas, fixando o olhar na TV, tomando os segundos de que precisava para escolher as palavras certas para começar a falar o que tinha ido ali falar.

— Que foi? — Fernando percebeu a estranha hesitação nos gestos e nas feições da irmã, que dificilmente fazia cerimônia quando precisava dizer alguma coisa. Isso só podia significar que o assunto era importante.

Virando apenas o rosto para encontrar o do irmão, sem tirar as mãos de entre as pernas, em voz baixa e serena, para não assustá-lo, ela começou:

— O Rodrigo me fez uma pergunta hoje que me deixou... curiosa. E preocupada.

— Que pergunta?

Outra pausa para formular a frase certa.

— Ele me perguntou... se você era assumido em casa. Homossexualmente assumido, no caso.

O que causou o arrepio na espinha e a sensação estranha no estômago não foi a pergunta em si, mas o fato de ter sido Rodrigo o responsável por ela.

— Como assim? De onde ele tirou isso?

Fernando não estava preocupado com o subentendido que as palavras de Laura carregavam. Não se preocupava com o fato de ela e o ficante terem determinado arbitrariamente que ele era gay. O problema era que Rodrigo, por conta própria, dificilmente teria chegado àquela indagação, e a proximidade dele com Giovani e Lorenzo só podia levar a crer que esses dois tinham alguma coisa a ver com a dúvida do mais velho.

— Eu vou te explicar, pode ficar tranquilo, mas antes eu queria saber se... — Laura parou por mais alguns segundos, desta vez não por hesitação, mas porque percebeu que seria trabalhoso demais ter aquela conversa seguindo o roteiro tradicional. Trabalhoso, constrangedor e excessivamente longo todo o discurso que envolvia acolher alguém que saía do armário para a família. Ela não era mãe de Fernando; não era com ela que ele teria que ter a conversa difícil. Sua pausa foi para rebobinar e escolher o caminho menos percorrido, que um dia faria toda a diferença: — Fernando, eu sei que você é gay, ok? E tudo bem, tudo bem mesmo; não foi por isso que eu vim aqui falar com você. É que eu ando preocupada com você ultimamente.

De Volta ao Santa Luz (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora