Capítulo 6: O Castigo

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— Como assim? — Yuri perguntou. Todos entenderam exatamente o que Fernando havia dito; a pergunta foi para ganharem os segundos necessários para tentarem ao menos começar a entender como ele conseguiria executar um plano tão teatral.

— Assim sendo! A gente tem que encontrar um jeito de fazer eles confessarem e gravar isso e mandar pra diretora! Não tem outra solução.

— Tá, e como você acha que a gente vai conseguir fazer uma coisa dessas?—Aliás, "a gente" não, né, você, porque eu não ouso chegar nem perto desses moleques. — Rafaela fez uma careta e até se afastou da mesa ao se imaginar envolvida com um esquema como aquele.

— Não, essa parte pode deixar comigo, eu só preciso pensar em como chegar neles. Como, quando, onde...

— Não sei, não, Fê, eu acho muito perigoso... — Yuri ponderou. — Agora que a gente viu do que eles são capazes, eu tenho medo de sobrar pra você.

— O Yuri tem razão, Fê — Marina concordou. — Mas... você também tem. Seria a única solução, agora.

— Tá, mas como?!

— Não sei ainda, vocês têm que me ajudar a pensar. Eu posso pegar o celular, colocar no bolso da blusa de frio e deixar gravando a conversa, isso não é o problema; o problema é como fazer eles confessarem. Marina, você que é boa nisso, me ajuda.

— Não sei... — Marina levou a unha do dedão esquerdo à boca, mordiscando os cantos, fitando o centro da mesa enquanto tentava maquinar alguma ideia. — Talvez... Não sei... porque não adianta perguntar se foram eles, que eles não vão responder; você tinha que dar um jeito de fazer eles admitirem sem você ter que perguntar.

— Ah, mas isso é fácil — Yuri disse, atraindo todos os olhares. — É só chegar neles já sabendo que foram eles mesmo. Tipo, em vez de perguntar "Foram vocês que fizeram isso?", pergunta "Por que vocês fizeram isso?" ou alguma coisa nesse sentido.

— Já chegar acusando logo de cara — Rafaela reafirmou para garantir que havia entendido o raciocínio.

— Exato.

— Faz muito sentido — Marina aprovou.

— Mas, Fernando, é sério: não precisa fazer isso por mim — Yuri continuou, seu tom agora mais grave. — Nem foi tão ruim quanto eu imaginei. A diretora conversou com os meus pais, eles conversaram comigo, a galera tá dando umas risadinhas, mas não tá nem de longe tão mau quanto eu pensei. Eu não quero que você se meta em confusão por causa de mim.

— Mas eu vou, amigo. Agora só falta achar uma forma de eu falar com os dois sem ter ninguém por perto.

— Pede ajuda pro Rodrigo, ué. Ele não tá namorando sua irmã?

Mais uma vez, Rafaela resolveu o caso.

Fernando nem se deu o trabalho de conversar com a irmã e pedir que ela intercedesse no contato com o namorado. Ele já havia sido formalmente apresentado a Valério e Marta, já haviam até jantado juntos em família: não era como se Fernando precisasse da consciência e da autorização da irmã para falar com o cunhado—até o número do telefone dele ele já tinha, e essa foi a forma mais prática de articular o que aconteceria em breve.

Levou quase dois dias de queima intensa de neurônios para Fernando conseguir pensar e vislumbrar mentalmente todas as possibilidades do diálogo que pretendia ter com os rivais. Era fato que, na hora do vamos-ver, ele se esqueceria de praticamente tudo que tivesse ensaiado, mas uma ideia vaga e consistente do que precisava falar estava formada em sua cabeça. O que ele teve de fazer foi uma ligação a Rodrigo informando suas intenções. Por mais que soubesse que os garotos eram amigos dele, isso não foi um obstáculo.

De Volta ao Santa Luz (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora