Capítulo 18: O Reencontro 🦋

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É uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro em posse de boa fortuna deve estar a fim de gastar dinheiro à toa, comprando roupa que não precisa, por exemplo, Fernando pensou enquanto olhava para o armário abarrotado de peças sem saber por onde começar a escolher o que usaria para o encontro de logo mais. Por que diabos era sempre tão difícil escolher um look quando o evento era minimamente fora do radar? Boa parte daquelas peças ele nunca sequer havia usado, mas todas pareciam batidas, repetidas, inapropriadas, fosse pelo excesso ou pela falta. Como estariam vestidos os outros? Ninguém falou nada sobre o dress code. Será que a parte hetero estaria de bermuda e chinelo? Ou de bermuda e sapatênis? Não, pelo amor de Deus! Eu não posso ir de blazer num calor desses, mas também não posso ir de camiseta e calça jeans. Se eu for de camisa social vai ficar parecendo que eu tô tentando provar alguma coisa? Se eu for de bermuda vai ficar parecendo que eu não ligo? Se eu for de calça cáqui vai ficar parecendo que eu sou um senhor? Decisions, decisions...

Não tinha ninguém para pedir uma segunda opinião. Se perguntasse à mãe, ela diria que ele ficaria lindo em qualquer modelito. Yuri não poderia se importar menos com moda, pois já se importava o mínimo possível. Rafaela estava viajando a trabalho, ele não queria incomodar. Laura estava de plantão, tinha mais o que fazer. Fernando teve que se resolver consigo mesmo, e no final acabou fazendo o que sempre fazia: passou horas navegando pelo guarda-roupa para, no final, escolher a combinação que fazia praticamente todas as vezes: camisa escura com a manga dobrada, calça jeans escura e bota. Nem demais, nem de menos; ficaria bem tanto entre os mais básicos quanto entre os mais sofisticados.

Ficou combinado que iria de carona com Yuri, pois Fernando emprestou seu carro para o pai, que estava sem por terem batido no dele no início da semana. A intenção era que todos chegassem entre as sete e meia e as oito, mas isso, no dicionário de Yuri, significava qualquer momento entre oito e meia e as dez. Pontualidade nunca foi seu forte, mas Fernando já estava tão acostumado que nem se irritava mais. O que fazia as palmas da mão suarem naquela noite era a antecipação, a curiosidade e certa empolgação em rever aquelas pessoas que, de um jeito ou de outro, marcaram sua adolescência de forma mais positiva do que negativa.

Inspirado por alguma força divina fora do comum, Yuri enviou mensagem informando que estava na porta do apartamento de Fernando às oito em ponto, ocorrência raríssima.

— Tomei banho mais cedo — ele justificou enquanto saía da vaga em que parou para esperar o amigo. — Cê tá lindo! Pra que se arrumou tanto?

— Imagina, isso é roupa de ir na padaria.

— Você sabe que a ala hetero vai estar tudo de bermuda e chinelo, né? E que o Giovani não vai.

— Sei, mas eles merecem que eu esteja bem vestido. E eu só lembrei do Giovani hora que ele mandou mensagem falando que não ia, acredita?

— Acredito.

Yuri e Rafaela foram os únicos que, depois de alguns anos, ficaram sabendo que a chantagem do colegial virou um mini romance problemático. Para Yuri não foi nenhuma surpresa, já que ele foi um dos primeiros a notar que existia uma simpatia forte demais por parte de Giovani para quem estava por trás de uma tramoia tão covarde. Rafaela, que sempre detestou Giovani no limite do possível, conseguiu detestá-lo no limite do impossível depois que Fernando contou alguns dos episódios por que passaram juntos, em especial o último, que ocasionou a separação definitiva dos dois. Só de lembrar que o namorico canalha deles existiu, ela se irritava e mudava de assunto. Yuri, no entanto, amava o fato de que Fernando conseguira pegar o mister Santa Luz sem fazer força.

De Volta ao Santa Luz (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora