Capítulo 19: O Café [antepenúltimo!]

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Fernando ficou na cama até tarde no domingo. Acordou com a mensagem da mãe o chamando para almoçar, que Laura estaria em casa com Rodrigo para comemorar as bodas de prata dos pais. Junto da notificação, mais dezenas de outras no grupo Santa Luz 2019, onde todos que participaram mandavam mensagens carinhosas sobre o reencontro e os que não foram se lamentavam por não terem ido. Fernando aproveitou o ensejo para escolher qual foto colocaria no seu feed e silenciar o grupo, que certamente passaria os próximos dias naquele clima até que as mensagens fossem parando de chegar e logo todo mundo caísse no esquecimento de novo.

O passeio foi tema do almoço em família. Laura estava indiferente ao reencontro, mas Rodrigo gostaria de ter ido, pelo menos para rever Lorenzo, que não via há anos—com Giovani Fernando sabia que ele se encontrava esporadicamente, embora não soubesse ao certo quão próximos eles ainda eram depois do colegial. Marta tinha a impressão de se lembrar daqueles nomes, mas não se lembrava de ter visto nenhum daqueles personagens.

— Eles só vieram aqui uma vez — Laura explicou —, mas você e o papai estavam viajando.

— Mas esse rolê deve ter sido bom, mesmo, porque o Fê tá com uma cara ótima hoje — Rodrigo acrescentou.

— Tem nome e sobrenome o motivo, tenho certeza.

— Quem? — Valério perguntou, tentando pensar em algum candidato.

— O senhor não conhece, é do tempo do colégio. Ah! Minto! É o cara que o senhor disse que o Fernando tava experimentando quando ele saiu do armário, lembra?! — Laura relembrou tocando o pulso do pai com carinho, sorrindo. Já haviam se tornado piada interna dos Ávila os absurdos que Valério dizia a Fernando naquela época.

— Ué, e você experimentou, experimentou, experimentou e não levou pra casa, Fê?! — o pai indagou.

— Não, pai, ele saiu da escola, não lembra?

— Ah, não, isso eu já não lembro...

— Mas você tá com uma carinha boa, mesmo, amor — Marta concordou. — Ainda dá tempo da gente conhecer esse moço, hein?

Fernando não sabia o que fazer das brincadeiras nem daquele sentimento gostoso com que acordou no dia; mas também não queria pensar demais nisso; sabia que era passageiro e que dois, três dias depois, quando a vida voltasse ao normal, já estaria começando a se esquecer de todos outra vez, Giovani incluso. Ele se conhecia e era sensato com as próprias emoções: bastava tempo e paciência para deixar tudo se assentar e a vida seguir. O que ele não contava era com a surpresa que chegou na quarta-feira à tarde.

1 nova mensagem. Número desconhecido.

"Ei, tudo bem? Giovani aqui, peguei seu número lá no grupo (espero que não se importe!)

Queria falar com você pessoalmente. Será que a gente pode tomar um café qualquer dia essa semana?"

Ao contrário da primeira vez em que Fernando viu o número dele no grupo, agora sua foto aparecia. De óculos escuros, de braços abertos em uma selfie na praia. Impossível não reconhecer. Primeiro ele leu a imagem, depois a mensagem. Leu e releu umas sete vezes antes de pensar no que responder. Conversar pessoalmente. O que ele quer conversar pessoalmente, meu Deus?... Tocou na notificação para expandir a tela do WhatsApp e abrir a conversa. Ele estava online.

"Oi Giovani, tudo bem, e vc?" Visualizada quase imediatamente, enquanto Fernando ainda digitava a continuação da resposta. "Claro, vamo sim"

"Bem também! Você tá livre amanhã?"

Quinta-feira era o dia em que Fernando gravava para postar na sexta. Mas quinta-feira também era logo amanhã, ele não sabia se conseguiria aguentar a curiosidade por mais do que um dia.

De Volta ao Santa Luz (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora