Xeque-mate.
Fernando olhou a imagem em choque. Seu coração foi parar na boca em um segundo. Giovani, ainda parado à sua frente, com as mãos nos bolsos da calça, sabia que, desta vez, era ele quem havia dado o golpe final.
— Onde você conseguiu essa foto? — Fernando perguntou em voz baixa, tentando dar sentido, montar uma narrativa qualquer que explicasse o que seus olhos viam.
— Eu tava lá, ué. Fui eu que tirei essa foto. Ficou ótima, não ficou?
Pânico era a única palavra que existia. Na imagem, tirada de cima para baixo, via-se, em um enquadramento quase profissional, o exato momento em que Lorenzo beijou Fernando no vestiário. A qualidade era alta o suficiente para identificar o rosto deste, mas o daquele estava em direção oposta à da câmera, de forma que sua identidade se mantinha preservada. Se o que Giovani dizia era verdade, a única forma de ele ter conseguido aquela foto era tendo se escondido em uma das cabines do vestiário enquanto Fernando e Lorenzo conversavam e tirado a foto, ou gravado um vídeo, no momento em que aconteceu o beijo.
— Então foi tudo... uma armação — Fernando concluiu sem demora.
— Claro. O Lorenzo é meu parça e me devia uma, nada mais justo do que ele me ajudar nessa.
— Por que você fez isso, Giovani? — Fernando tirou os olhos da imagem pela primeira vez, afastando o papel do rosto para encarar, estarrecido, o rival.
— Você achou que não ia ter volta o que você fez comigo?
Tanto tempo parecia ter se passado desde a suspensão e a volta de Giovani ao Santa Luz que demorou um segundo para Fernando entender que o que você fez comigo se referia à sua responsabilidade sobre a punição de Giovani pelo que fez com Yuri, e essa compreensão o fez acreditar que Giovani fosse ainda menos inteligente do que ele imaginara.
— Tá. Agora você usa o mesmo truque outra vez, tira mil cópias dessa foto e espalha pela escola de novo. Não sei se você sabe, mas eu ser gay já deixou de ser notícia por aqui; você não vai conseguir ir muito longe com essa bomba.
— Mas quem falou em espalhar a foto pela escola? — Giovani parecia estar esperando ansioso por aquela brecha, aquela fala. Sem entendê-lo de imediato, Fernando se calou, tentando interpretar as palavras sinuosas do garoto. — Eu sei que aqui no colégio todo mundo já sabe, por isso eu pensei em alguma coisa... maior. "Maior" não: melhor. Que tal... se os seus pais vissem essa foto?
Foi um daqueles momentos em que há um quase-encontro com a Morte, quando uma vida inteira se passa em flashes diante dos olhos de alguém que não sabe se vai estar vivo nos próximos instantes. O enunciado atingiu Fernando de forma tão poderosa que pareceu que não só sua vida como ela era, mas vidas que ele nunca viveu cruzaram sua mente em clarões ultrarrápidos, tão claros e tão violentos que o cegaram de brancura e o preencheram de um medo primordial que ele jamais havia sentido.
— Giovani...
— Pelo que eu fui informado, apesar de você pagar de valentão por aqui, seus pais não sabem que você dá essa bundinha. O que será que eles iam achar se eles ficassem sabendo, hum?
E, pela primeira vez desde que Giovani se tornou personagem atuante na narrativa de Fernando, seu sétimo sentido o alertou de um perigo cataclísmico, disparando alarmes e sirenes e luzes vermelhas que causavam um terror claustrofóbico; e a única informação que o rapaz conseguia extrair de todo aquele alarde era que, não importava o que acontecesse, Marta e Valério não podiam descobrir a verdade sobre o filho. Não naquele momento, não daquela forma, não naquelas circunstâncias. Não.
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De Volta ao Santa Luz (romance gay)
Romantik🏆 VENCEDOR DO WATTYS 2021 NA CATEGORIA ROMANCE! 🥇 Se você pudesse voltar no tempo, você faria tudo de novo? Ao pronunciar em voz alta o desejo de voltar ao passado no exato momento em que um misterioso corpo celeste atravessava o céu, Fernando é...