Capítulo 20: As Verdades [penúltimo!]

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Do parque, foram direto para o mercado. Fernando não era de receber visitas em casa, e, quando recebia, não costumavam tomar bebidas de dose. Comprou uma garrafa de tequila, uma de vodca, sucos de dois sabores para misturar e mais alguma coisa para beliscarem antes da brincadeira começar. Estavam descomunalmente empolgados com o que estava por vir, como dois moleques prestes a beber escondidos dos pais em uma festinha no condomínio.

Chegaram ao apartamento de Fernando por volta das quatro da tarde. O sol a pino esquentava ainda mais os ânimos acalorados. Subiram o elevador comendo Ruffles e pensando no que Fernando faria de café depois da gravação, em nome dos velhos tempos em que ele preparava os lanches da tarde na casa dos meninos. Estavam entre bolo de cenoura, sanduíche ou qualquer delivery de McDonald's, para economizar em tempo e trabalho.

— Eu vou levar o equipamento pra sala, que lá é melhor pra gravar quando eu tenho convidado — Fernando disse, entrando no quarto que Giovani conhecia, mas não por aquele ângulo. — Me ajuda aqui, por favor. Leva a câmera, que eu levo o tripé e depois as luzes.

Giovani levou a câmera e, enquanto Fernando levava o tripé, voltou para pegar as luzes. Montaram tudo de frente para o sofá maior, que ficava debaixo da janela, e arrastaram a mesa de centro para perto, lá dispondo os copos de shot e as bebidas.

— A gente tem que tirar uma foto antes de gravar, pra eu anunciar no Insta — Fernando disse, tirando o celular do bolso. Giovani se aproximou. — Faz cara de... hm... de surpresa.

— Eu não sei fazer cara de surpresa.

— Você é modelo, Giovani, você faz cara de tudo—Aliás, não! Isso! Faz cara de modelo.

Quatro tentativas depois, saiu a foto. "Vídeo novo no canal amanhã às 15h! Verdade ou Bebe com meu primeiro ex-namorado!" Postada. De volta à montagem do equipamento, Fernando verificou se tudo estava funcionando, se a iluminação estava boa, e explicou enquanto Giovani beliscava a batata:

— Tem a câmera aqui e o monitor aqui. Dá vontade de ficar olhando pro monitor, mas tenta olhar pra câmera, porque é ela o olho do espectador. Se você ficar olhando pro monitor dá pra ver que você tá olhando pro lado.

— Tá bom.

— Se precisar parar o vídeo pra ir no banheiro, espirrar, tossir, reformular a frase, não se preocupa, pode seguir normal que essas coisas eu corto e arrumo na edição depois.

— Beleza.

— Tá gravando já.

Sentaram-se no sofá mantendo alguma distância entre eles. Giovani deixou a batata de lado e segurou uma almofada no colo, sorrindo de expectativa. Fernando respirou fundo, fez caretas para aquecer os músculos do rosto, murmurou rapidamente algumas coisas para si e logo o vídeo começou.

— Fala, galera! Eu sou o Fernando Ávila e o vídeo de hoje... tem um convidado muito especial. — Apontou para Giovani com as duas mãos. Este acenou para a câmera. — Giovani Falco, mais conhecido como... meu primeiro namoradinho—não, não era a essa palavra que você usava pra falar da gente na escola! Qual era? Rolo?

— Isso. A gente tinha um rolo.

— A gente tinha um rolo, e hoje nós vamos jogar Verdade ou Bebe.

— E eu tenho certeza que eu vou ficar bêbado... — Giovani riu de nervoso.

— Eu já não tenho tanta certeza, porque eu tenho compromisso com a verdade. — Fernando olhou rapidamente para os lados e percebeu que não tinha pegado as cartas. — Ih, caralho, não peguei as cartas! Peraí.

Não sabia onde estavam. Gastou uns bons dez minutos procurando, até que Giovani as encontrou em uma gaveta do armário da sala. O baralho ainda estava embalado, intacto, só tirado do pacote do correio.

De Volta ao Santa Luz (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora