Capítulo 10: O Cordeiro

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Do ocorrido na casa de Lorenzo em diante, tudo mudou.

Giovani tinha razão: descobriu o ponto fraco de Fernando e não restava dúvida de que conseguiria, em tempo recorde, pensar em mil formas de usá-lo contra ele. Fernando ainda não sabia o que esperar disso, mas algo—que não era seu sétimo sentido—lhe dizia que era melhor se preparar para o pior.

A mãe de Lorenzo, tia Lu, como diria Giovani, era uma pétala, o contrário do filho, que cochilava quando ela chegou. Fernando foi apresentado como um amigo do colégio que estava ali para ajudá-lo, e isso bastou para conquistar a simpatia da mãe, que adorava qualquer um que tratasse bem seu filho.

Ficaram para o café, depois foram embora, assim que Lorenzo acordou. Despediram-se com alguma formalidade, influenciados pela presença de Lúcia, e seguiram seus rumos, cada um para um lado. Giovani não voltou a mencionar o que aconteceu no quintal, nem verbalmente, nem por mensagem, nem no MSN, mas Fernando tinha certeza de que aquilo se voltaria contra ele de alguma forma, cedo ou tarde.

Enfim vieram as Olimpíadas Interclasse. Três dias de jogos, quinta, sexta e sábado; três dias em que o Santa Luz inteiro ocupava o ginásio e as arquibancadas jogando, assistindo ou torcendo. Fernando geralmente preferia ficar em casa, dormindo, já que não era adepto aos esportes, mas dessa vez decidiu ir, pois queria assistir às lutas de Giovani, mesmo não tendo recebido ordem direta para fazer isso. E, também sem terem necessariamente sido recrutados, Yuri, Marina e Rafaela se prontificaram a acompanhá-lo, mais para passarem algum tempo de qualidade juntos—o que se tornou raro depois de Giovani—do que por quererem vê-lo em ação.

A primeira luta dele foi quinta-feira à tarde, e lá estavam os quatro na arquibancada, invisíveis no meio dos outros alunos, assistindo-o de longe, em sigilo.

— Sabe o que mais me irrita no Giovani? — Marina perguntou.

— O quê?

— O tanto que ele é gostoso. Fala sério. Olha isso!

Não era bem o comentário que esperavam que fosse sair da boca de Marina, o arauto da sensatez e da sobriedade no grupo. Se da boca dela, que, apesar de ainda não ter experimentado, se autodeclarava lésbica, saíram aquelas palavras, significava que o negócio era sério.

— Eu preciso concordar, infelizmente... — Yuri respondeu.

A roupa de luta ajudava: uma espécie de collant masculino azul/vermelho e branco, que abraçava os músculos e deixava pouco espaço para a imaginação, era o que os participantes vestiam do tornozelo para cima. Cada relevo e cada declive da geografia do corpo de Giovani se apresentavam imponentes, em contornos mais ou menos reveladores, mas sempre magnéticos, hipnóticos. E o que Fernando mais queria era dizer que já havia percorrido todos aqueles caminhos de músculos com mãos aflitas, e que era indizivelmente mais gostoso tocar do que olhar... mas ele resistiu ao impulso e preferiu ficar calado, sem concordar nem discordar, pois sentiu que, se compartilhasse seu momento sublime com os amigos, ele seria menos seu; que um momento como aquele era precioso demais para dividir com quem quer que fosse.

Giovani acabou não vencendo a competição. Ganhou a primeira luta na quinta à tarde, a segunda na sexta de manhã, mas foi eliminado no mesmo dia à tarde, ficando em quarto lugar em sua categoria (o time de Lorenzo foi vice no basquete). Apesar de tudo, no fundo, Fernando torcia por ele, fosse movido por algum vestígio de Síndrome de Estocolmo ou por imaginar ingenuamente que o bom humor advindo da vitória o deixaria um passo mais perto da liberdade.

"Vc não foi me ver lutar?", Giovani questionou Fernando no MSN, sábado.

"Fui"

"E pq não foi falar cmg??"

De Volta ao Santa Luz (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora