Capítulo 12: O Terno

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— Tenho uma missão pra você hoje à tarde, fru — Giovani anunciou quando Fernando o encontrou na entrada do colégio. — Você vai no shopping comigo.

— Fazer...?

— Me ajudar a escolher uma roupa. Vou dançar com a Maitê na festa de dezesseis anos dela e descobri que não tenho roupa pra isso.

— A Maitê ainda olha na sua cara?! — Lorenzo exclamou, tirando o pirulito da boca.

— Lógico. Nosso rolo segue firme e forte.

Outra notícia pela qual Fernando não esperava; não depois do que se passou na festa em que Giovani beijou tanto ela quanto a prima dela. Saber que eles ainda estavam "juntos" fez o coração encolher um pouco dentro do peito.

— Hein? — Giovani prosseguiu. — Cê passa lá em casa pra gente ir?

— Por que eu? — Fernando não costumava questionar, mas, dado seu desapontamento com a situação e com tudo que vinha acontecendo nos últimos tempos, ele não pôde evitar.

— Porque vocês gays entendem de moda, ué.

— Seu pai é um homem muito elegante e não é gay. Por que não pede pra ele te ajudar?

— Porque eu quero que você vá comigo, caralho.

Fez-se um silêncio amargo. Olhavam-se nos olhos; Giovani interrogativo e começando a se contrariar com a relutância inesperada de Fernando; Fernando implorando que Giovani entendesse no silêncio o que ele não podia dizer em palavras; Lorenzo perplexo, entendendo menos do que qualquer um dos dois.

— Vocês são o casal mais bizarro deste colégio — ele declarou, rompendo o silêncio.

Foi imediatamente fuzilado por dois pares de olhares hostis. A resposta foi um sonoro tapa no pescoço acompanhado de um vá se foder vindo de Giovani.

— Quatro horas lá em casa?

Fernando deu de ombros para não ter que continuar a discussão.

— Vocês vão demorar? — Lorenzo questionou.

— Acho que não. Por quê?

— Tem trabalho de Inglês pra essa semana, hoje seria um bom dia pro Fernando me ajudar, se ele puder.

— Vem com a gente, ué, depois a gente vai pra tua casa estudar.

— Não, não quero atrapalhar o encontro de vocês. Cês passam lá em casa na volta.

Ajudar Lorenzo a estudar seria a parte menos pior do dia, por incrível que parecesse. Fernando não se sentia nada bem naquele início de semana, e aquela pequena conversa conseguiu deixá-lo pior. Os momentos em que se sentia mais feliz eram os que passava com Giovani, mas, desta vez, a ideia de passar mais uma tarde com ele só trouxe aflição. Ajudá-lo a escolher uma roupa para que ele dançasse com Maitê no aniversário dela. Não bastava que eles ainda estivessem saindo: ele precisava dançar no baile dela. Mesmo depois daquela festa. Mesmo depois de Giovani se deitar com Fernando e mesmo depois de todo o tratamento afável que vinha dispensando a ele, mesmo depois de qualquer coisa, Fernando continuava sendo o vassalo ingrato, sonhando agora não mais com a liberdade, mas com a piedade, a compaixão, o amor de seu senhor, que jamais o veria como algo além de um instrumento de ascensão social, uma utilidade.

Encontraram-se na casa de Giovani às quatro, conforme o combinado.

— Você se importa de ir de ônibus? — Giovani perguntou. — Meu pai deixou dinheiro pro táxi, mas tô querendo economizar.

— Não, por mim tudo bem.

O ponto de ônibus mais próximo ficava a três quarteirões. Sob o ar gelado da tarde nublada, os dois caminharam lado a lado em silêncio, com as mãos nos bolsos, olhando para o chão. Havia uma energia estranha, um clima ruim entre eles, e Giovani percebeu que Fernando não estava em seus melhores dias logo, logo. O que ele parecia não saber era que o causador daquele desconforto era ele, que também não fazia ideia de como maltratava os sentimentos de Fernando.

De Volta ao Santa Luz (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora