Depois de sair da biblioteca fui “estudar para prova de história da magia” no banheiro da murta que geme, infelizmente ali era o local ideal pra se fazer algo escondido, nunca foi agradável ir até lá por causa da fantasma, mas nunca tivemos alternativa. Sim, digamos que já tive que fazer do banheiro um “recanto de afazeres não autorizados” várias vezes, é o que acontece quando se faz parte d’Os Marotos.
Abri a porta do lugar (quase) abandonado e entrei. Nenhum sinal da murta, por enquanto. Peguei o frasco de polissuco e retirei a rolha, aquele cheiro bem conhecido logo invadiu o banheiro inteiro, apanhei o fio de cabelo de Lauren que tinha guardado no bolso.
– QUE CHEIRO É ESSE – Disse alguém de voz muito fina.
Era a Murta. Logo depois saindo de uma das cabines do banheiro, a fantasma saiu flutuando pelo lugar e parou a quase um metro de mim perto da pia.
– Quebrando regras de novo, Remus? – Disse Murta com uma voz manhosa.
– Não é da sua conta. – Disse eu virando de costa para ela.
– Não me ignore – Disse a fantasma engrossando a voz, ela me atravessou com seu corpo gasoso e gelado, foi como levar um balde de água fria. Então se pôs na minha frente.
– Acho que você vai arrumar problemas com essas coisas – Disse murta voltando ao normal com sua voz irritante.
– Problema meu. Vá cuidar da sua... Morte. – Então joguei o fio de cabelo por cima do líquido gosmento.
Eu poderia estar acostumado já, mas não, foi como antes: a ânsia, o estômago revirando, a pele fervendo, a cabeça girando. Senti como se estivesse sendo esticado e como se algo sugasse toda minha massa corporal. Consegui me recuperar levemente, olhei para minhas mãos, eram tão pálidas quanto a murta, e as unhas estavam, desnecessariamente, grandes. Percebi que tinha algo errado. Depois de alguns segundos me dei conta que a murta não parava de rir.
– Em quem você queria se transformar mesmo? – Disse rindo.
Eu corri para frente do espelho. Levei um susto. Tentei me lembrar como isso aconteceu, então recordei que o fio de cabelo que tinha pegado estava solto no ombro de Lauren.
– Theresa... Theresa Haase?! – Tentei não entrar em pânico.
Eu carregava dentro do casaco aquela bolsinha com feitiço de extensão de Lily que tínhamos usado para guardar o troféu, lá dessa vez botei uma das capas da Slytherin de Lauren que ela sempre esquecia comigo (“segura pra mim, esta calor, depois eu pego”); e desça vez eu consegui uma gravata verde e prata, porque esses dias atrás, graças a James que implicava com o Ranhoso, no meio da confusão o nareba deixou a gravata pra trás. Quem sabe talvez eu devolva, apesar que, nunca se sabe quando se vai precisar...
Conformei-me que agora eu era Theresa e não Lauren, não tinha tempo para voltar atrás. Vesti a capa (dei um jeito de abotoar até o final, me recuso a vestir saia) e dei o nó na gravata. Olhei-me no espelho de novo, em vez de ver um garoto magro de cabelos castanhos claros e uma cicatriz que descia pelo olho esquerdo até a altura do nariz, vi uma garota magrela, esbelta, de pele muito pálida, tinha os olhos amendoados e cinzentos, sobrancelhas angulosas e seus cabelos eram compridos e pretos... Naquele momento fiquei se perguntando o quanto burro eu era, como pude pegar um fio de cabelo preto sendo que Lauren era loira. Distração, pura distração.
– Se eu fosse você, evitaria falar com as pessoas o máximo possível – Disse Murta pensativa enquanto flutuava pelo banheiro.
– Por quê? – Perguntei sem expectativa de uma resposta coerente.
– Todos irão perceber essa sua voz grossa de garoto, e não adianta afinar, a voz de Theresa todos conhecem, não sei se você sabe, mas além duelar no clube, a Haase canta muito bem. Sua voz é tão suave quanto uma nuvem. – Disse Murta, que parecia estar falando sério, ela finalizou tentando cantar... Não queiram ouvir.
Eu levei em conta o que ela disse, porque já tinha ouvido a voz da menina.
– Obrigado, Murta. – Resmunguei, ela esperava que eu dissesse algo.
Sai do banheiro, tentei incorporar o jeito da Theresa para que parecesse mais real: Empinei o nariz, ajeitei a postura e ergui uma das sobrancelhas.
Fui a caminho das masmorras, durante o percurso umas cinco pessoas veio me cumprimentar, para ambas fiz sinal de que estava com pressa e nem ao menos parei de andar. Até que para meu desgosto, avisto alguém que odeio com todas as minhas forças, a pessoa notando o meu olhar de ódio soltou um sorriso de canto e foi até a mim, eu continuei andando como se não tivesse visto, até que a pessoa me pega pelo braço.
– Ei, ei. – Disse o garoto – Qual a causa de tanta revolta?
Fiz sinal de quem estava com pressa.
Ele revirou os olhos e mudou de assunto – Falou com a Lauren? – Perguntou.
Com muita raiva, sem entender do se tratava acenei com a cabeça em sinal de não.
– Você tem que falar, você é minha maninha, tem que me ajudar.
Fiquei em choque, e então notei que Theresa tinha muito em comum com o cara. Alto, pele pálida, olhos cinzentos e cabelos pretos. Esse era Darek... E era irmão de Theresa, nunca imaginaria.
– Escuta – Ele disse – Se você não falar, eu vou atrás dela sozinho.
Ah, nesse momento eu não consegui disfarçar.
– O que foi?! Está toda estranha hoje, o que eu te fiz?
Fiz sinal de que nada.
– Theresa Mitchell, o gato comeu sua língua?!
Fiz sinal de dor, e apontei para garganta e fingi uma tosse.
– Dor de garganta? Isso é um problema, como a minha celebridade favorita vai se apresentar amanhã?
Fiz sinal de sei lá. E outro de que eu precisava ir. Ele disse mais alguma coisa, algo como “te vejo depois”. Segui em frente e cheguei até as masmorras. Eu não sabia a senha e não tinha ninguém do lado de fora dessa vez para eu poder entrar junto. Não precisei esperar muito logo alguém apareceu, uma garota aparentemente do primeiro ou segundo ano, ela disse a senha “Pure-Blood”, entrei na frente e fui para o dormitório de Lauren (tagarela que ela é, eu já conhecia aquele salão comunal quase todo), que provavelmente era o mesmo que o de Alice. Desci uma escada, parei num corredor longo, o quarto era o penúltimo à esquerda, girei a maçaneta e entrei. Tinha gente.
– Mitchell Haase, tu por aqui, pensei que estava no ensaio. – Disse Moreau.
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The Time-Turner [pt-br]
Fanfic"...E quando olhei para trás vi os responsáveis pela bagunça, apenas a silhueta, pois a neblina tinha aumentado tanto que nem meus amigos, que estavam do meu lado, eu enxergava direito. Eu fiquei surpreso, eram formas pequenas e não brutamontes carr...