II

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Mas como eu dizia, aquele era um dia chuvoso e sem graça alguma, e eu estava determinado a fazer meu primeiro contato com a misteriosa russa. Enquanto me vestia, pensava que a melhor hora seria durante a aula de história da Ásia, já que me sentava do lado dela. Eu improvisaria se necessário, pediria para tirar uma dúvida, o que fosse.

Não que eu fosse ruim nessa matéria, pelo contrário, mesmo sem ter crescido ouvindo histórias sobre esse continente, eu aprendia muito rápido.

Passei as duas primeiras aulas sem nada para fazer, apenas antevendo o momento em que finalmente falaria com ela. Alexei me dissera que com uma russa era melhor tomar cuidado, principalmente com uma calada como ela. Mas tudo bem, eu estava preparado.

Entrei na aula e me sentei, esperando pelo momento em que ela apareceria. Não tardou e ela veio, carregando seus livros nos braços e com uma mochila de couro nas costas, se movendo com delicadeza, olhando pela janela como quem quer ver além do que há. Ela sempre parecia tensa quando entrava na sala de aula, mas depois relaxava um pouco.

Nádia se sentou , e eu não pude deixar de ver a saia do uniforme subir um pouco pelas coxas brancas. Ela não percebeu meu olhar, ainda bem. E talvez os deuses estivessem trabalhando ao meu favor, pois ela puxou um mangá do meio dos livros e começou a ler. Era o primeiro de Death Note. Não me contive.

- Caramba! Um clássico!

Nádia olhou para mim como se pela primeira vez me visse.

- O quê?

- Death Note! - eu me virei na cadeira e a encarei, sorrindo estupidamente. - Praticamente todo mundo deveria ler esse mangá.

Ela sorriu de leve, entortando um pouco o canto do lábio.

- Um amigo me indicou.

- Ele fez muito bem!

Nádia sorriu para mim, tímida, mas seus olhos brilharam como se estivesse se divertindo imensamente. Talvez estivesse rindo do nerd que falava com ela.

- Desculpe, não me apresentei, eu me chamo Fred.

- Sou Nádia.

- Ah, eu sei.

- Eu também sabia.

O sorriso de Nádia aumentou e eu percebi que tinha falado demais. Primeiro o mangá, agora o nome. Se eu não tomasse cuidado, acabaria estragando tudo. Eu fiquei olhando para ela com cara de idiota, e percebi que o sorriso dela murchou. Em poucos segundos ela voltou a abrir o mangá e a chance que eu tive de falar com ela acabou.

Pensei desesperadamente em como retomar a conversa, mas o professor entrou na sala e a minha chance acabou. Ela fechou o mangá e olhou pela janela, virando o rosto na minha direção, já que a janela ficava à esquerda da sala. Aproveitei para observá-la ainda mais.

Por isso percebi quando o rosto dela ficou chocado, seus olhos se arregalaram e ela entreabriu os lábios rosados. Seu rosto logo se recompôs para uma frieza e ferocidade, que eu me vi obrigado a olhar para onde ela olhava.

Tudo não durou dez segundos.

Vindos não sei de onde, cordas desceram pelo lado de fora das janelas, e homens encapuzados e vestidos de negro desceram, quebrando as janelas com seus coturnos. Eu pensei que esse tipo de coisa só acontecesse nos filmes. Os que estavam sentados perto das janelas se jogaram no chão e começou a gritaria. Alguns tentaram correr para a saída, mas mais homens entraram armados na sala.

Eu vi, em pânico, nosso professor ser retirada da sala puxado pelo braço. A turma estava em suspenso, sem saber o que fazer. O silêncio era sepulcral. Estávamos sob ataque, e ninguém ali sabia quem era o alvo.

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