IX

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O subsolo da nossa querida Academia nada mais era do que um depósito de materiais. Havia de tudo, desde material de construção, até adubo e ração. Tudo era guardado ali, em caixas ou sacos, e tinham até pequenos automóveis, para transporte, como mini tratores. Parecia um estacionamento subterrâneo, com colunas, mas era usado para outros fins. Nós havíamos usado a escada de emergência, que descia por dentro do prédio, mas tinha a entrada principal, um portão automático que dava numa rampa para a parte dos fundos da escola.

A academia até poderia ter construído um celeiro, sei lá, mas já que aquele espaço existia, nada mais justo do que aproveitá-lo.

Além do prédio com as salas de aula, haviam os dormitórios feminino e masculino, onde, inclusive, dormiam os professores. Não tínhamos muita liberdade, se é que me entendem, mas pelo menos, podíamos fazer o que quiséssemos nos fins de semana.

Bem, eu estava perto de sair do esconderijo, e sabia que em segundos entraria no fogo cruzado, mas eu pouco me importava. A mão de Yelena era quente, deliciosamente encaixada na minha. Não era uma mão pequena e delicada, tinha cicatrizes e marcas, e parecia um tanto calejada. Mas juro, se fosse para morrer, que fosse com a mão dela presa à minha. No último segundo, ela soltou nossas mãos e tirou a arma da sua cintura, colocando nas minhas costas. Eu esperava que isso fosse alguma espécie de plano.

Eu saí na frente e ela veio logo atrás, escondendo a arma com seu corpo. Andamos cinco passos para longe da porta e ela me parou, colocando as mãos nos meus ombros.

- É esse aqui que você quer, Matthew?

Eu olhei em volta e vi que haviam homens em todos os cantos, usando fuzis e pistolas. Eu não sabia se sairíamos daquela sem virar uma peneira. O inimigo, ou amigo, sei lá, de Yelena, estava parado na nossa esquerda, o corpo meio escondido numa pilha de ração de cavalo.

- Estava quase indo te buscar, minha querida. - ele não usou o megafone para falar conosco.

- Você não me deixou muitas escolhas, sabe?

- Agora, por que não vem vocês dois até aqui, sim?

As mãos dela apertaram meus ombros. Eu sabia que estava vindo.

Alexei saiu da escada parecendo o Rambo, atirando para todos os lados sem mirar, mesmo tendo derrubado dois homens. Eu me encolhi e senti ela me empurrando para a escada, enquanto puxava a arma das minhas costas e começava a atirar também. Logo Alexei lhe entregou o fuzil e eles começaram a derrubar homens como se fossem maçãs.

Eu cheguei na escada são e salvo, mas fiquei assistindo enquanto o Sr. e Sra. Smith lá fora acabavam com os homens de Matthew. Juro, eles eram imbatíveis, adivinhando de onde viriam os tiros, onde estavam os homens. Vi um tiro de raspão passar pela perna de Alexei, sem acertá-lo. Eles pareciam exalar algum feromônio que os protegia. Era batalha mode on, com escudo level 100.

Eu estava imóvel, os olhos fixos na batalha que se desenrolava. Eu estava passado pela maneira que tudo ia acabar. Que Yelena era o Rambo encarnado eu sabia, mas sequer imaginava que Alexei pudesse fazer as mesmas coisas que ela. Minha ficha ainda não tinha caído sobre quem ele era. mas de uma coisa eu sabia, Alexei era tão perigoso quanto ela.

Mas justamente quando eu achava que eles estavam ganhando, que tudo ia acabar ali, uma bomba de gás lacrimogêneo foi lançada e ela a chutou para longe. Mas a cada bomba chutada, mais duas vinham e logo ficou insustentável. Já era tarde, eles estavam indefesos e tiveram que voltar para a escada. Ela tossia, seus olhos estavam vermelhos. Se antes tínhamos vantagem, agora estávamos de novo numa situação desesperadora.

- Desista Yelena! - Matthew usou o megafone.

- Cale a boca! - ela gritou.

- Já chega disso! - ele gritou, sem o megafone.

Eu ouvi passos se aproximando, olhei para os meus colegas em pânico, Yelena vermelha, Alexei tossindo como se estivesse sem pulmões, e percebi que tudo aquilo era culpa minha. Eles iam morrer, porque por algum motivo que eu não sabia, eu era um alvo.

Eu sabia que meu próximo passo era burrice, mas tomei a arma que pendia fracamente da mão dela. Yelena gritou e tentou ver pra onde eu estava indo, mas com seus olhos como estavam, ela estava cega.

Eu apontei a arma para minha própria cabeça e esperei, ficando satisfeito quando vi o rosto surpreso de Matthew.

- Mais um passo e o alvo morre.

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