XV

17 4 2
                                    

Eu achei que estava sonhando quando, no meio da discussão com o homem o fim do corredor explodiu. Era uma bomba, uma granada, sei lá, só sei que meus ouvidos zuniram e os capangas trombaram comigo na tentativa de proteger o homem no terno. Eu acabei caindo no chão.

Foi uma gritaria só. Os rádios intercomunicadores não paravam de chiar, com vozes falando sobre a explosão, onde estavam os esquadrões, quem mais estava lá naquele lugar da explosão e tudo o mais. Pelo que a conversa sugeria, haviam bem mais homens do que a contagem inicial de Yelena.

E agora que um corredor inteiro foi pelos ares, eu tinha certeza de que ela havia cumprido sua promessa.

- Vamos voltar! - Matthew gritou, tentando organizar seus homens. - Leve-o para um lugar seguro!

Ele não estava falando de mim, eu supus, mas mesmo assim um brutamontes me puxou do chão bem pelo braço ferido. Gritei de dor, ficando flácido e incapaz de sustentar meu peso. Até poderia ser frescura minha, mas eu estava baleado, não iria facilitar a vida dos meus captores.

Então, no meio da confusão, o corredor se encheu de bombas de fumaça e começou a ficar difícil enxergar. Aquilo era obra de Yelena, ela estava cumprindo sua promessa, estava voltando para me buscar. Eu não sabia como ela iria fazer isso, mas eu sabia que ela conseguiria.

Do nada, o homem que me puxava caiu do meu lado e eu vi o sangue jorrando do meio de sua testa. Yelena tinha baleado o homem sem pestanejar. E no meio da confusão que estava aquele corredor, eu me sentia mais seguro do que nunca. Eu sabia que ela estava ali, que não me abandonara. E se antes meu platonismo atingira níveis extremos, agora estava pronto para ultrapassar a estratosfera.

Quando eu a vi, no meio da confusão, achei que não poderia ser mais feliz. Agora ela usava preto ao invés do uniforme, mas não era uma roupa preta como as das super heroínas. Aquelas eram puro fetiche para nós, homens recheados de hormônios. A dela era discreta, meio larga, parecia confortável. Seu cabelo estava preso num rabo de cavalo no topo da cabeça e ela tinha uma pistola em cada mão.

Ela estava sexy.

Yelena andou até mim em meio a fumaça e me puxou para longe da confusão.

Eu tinha noção de que tiros estavam sendo disparados, e que alguns homens estavam caindo. Não era ela que atirava, entretanto, era outra pessoa que eu suspeitei ser Alexei. Talvez ele tivesse voltado com ela. Não sei.

Ela me enfiou em uma sala de aula vazia e nós entramos num dos armários de casacos, um igualzinho onde Matthew havia sido trancado. Seu rosto estava tenso, e ela parecia que mataria qualquer um que respirasse perto dela.

Ok, ela matava, mas naquele momento parecia pior.

- Você está bem? - me perguntou, enquanto cortava a tira do meu pulso. – Mas que merda! Matthew atirou em você!

- Não, não foi ele... - eu estava tão feliz de ouvir a voz dela. - Foi o contratante, o cara de terno.

O rosto dela fechou ainda mais e os olhos dela escureceram.

- O que Hoffmann queria com você? - murmurou, enquanto delicadamente cortava a manga da minha camisa.

Eu abri a boca como um demente.

Mas é claro!

Aquele homem de terno me parecera familiar por um motivo muito bom! Ele já havia sido um senador muito importante!

- Eu sabia que o conhecia de algum lugar! - falei, e depois reprimi um grito quando ela tocou o ferimento. - Hey, isso dói.

- Me ignore. - disse, sem nem olhar para mim. - O que ele quer aqui?

- Ele conhece você, falou de você para Matthew. - eu mordi o lábio. - Ele quer que meu pai venda ações da empresa e deposite 500 milhões numa conta.

- E seu pai vai fazer?

- Não sei... Mas me diga, como ele conhece você.

Yelena olhou nos meus olhos por alguns segundos. Ela estava tensa além do normal.

- Eu trabalhei para ele.

Eu abri a boca, pasmado. Dizer que trabalho significa dizer que matou. Maravilha... A garota por quem eu estava apaixonado era mais perigosa do que o exterminador do futuro. Eu poderia ter pensado alguma coisa inteligente para dizer naquele momento, mas ela desviou os olhos dos meus e terminou de amarrar a atadura em meu braço.

Ela ficou bem perto, e eu pude sentir o cheiro do seu shampoo. Laranja. Cítrico como ela, cuja doçura sempre vinha recheada de acidez. O mundo estava prestes a acabar, mas eu pouco me importava. Se fosse para o mundo explodir, que fosse daquele jeito, com Yelena perto o bastante para que eu sentisse o cheiro de seu shampoo.

Meu mundo estava completo naquele fundo de armário, e sim, isso era loucura.

- Obrigado. - sussurrei. Ousadamente eu estiquei meus dedos e coloquei-os em volta do pescoço de Yelena. Ela parou de respirar.

Trezentas milhões de coisas poderiam ter acontecido se o momento se prolongasse, e eu estava disposto a correr todos os riscos para descobrir qual seria o

resultado se eu me debruçasse em sua direção. Mas então, ouvimos passos entrando na

sala e ela postou-se na minha frente, as pistolas em punho.

A porta do armário se abriu.

ExplosivaOnde histórias criam vida. Descubra agora