XI

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Às vezes, na vida, nós somos jogados de um lado para o outro como marionetes e temos que lidar com as cordas embaraçadas da melhor maneira possível. Eu me sentia como se estivesse num daqueles sonhos vivos demais, em que você fica boiando no oceano. É aquele tipo de sonho, que inclusive, você acorda mijado.

Eu vi, parado onde estava, meus colegas descerem os degraus e seguirem Alexei para fora das escadas. Alguns olharam para mim com pena, mas outros sequer me encararam. Aparentemente, eu era o pobre condenado. Eu me mantive firme, olhando para Matthew e segurando a arma, imóvel. Meu braço começou a doer, a arma pesava. Não estava muito certo de que tomara uma boa decisão, mas manteria meu plano patético até receber a ligação de Yelena.

Ela foi a última a sair. Ela olhou para mim com aquela mesma promessa nos olhos castanhos. Para Matthew, ela olhou com ódio. Se ela olhasse daquele jeito para mim, eu teria trancado as janelas de casa antes de dormir.

Não que isso a segurasse.

Depois que eles se foram, ficamos num silêncio pesado. Um encarando o outro por um bom tempo. Ele me olhava com um misto de divertimento e algo mais. Suspeitei que fosse respeito. Talvez eu fosse o primeiro em muito tempo que tivesse conseguido negociar de verdade com ele. Comecei a me sentir mais forte, a ter mais certeza do que estava fazendo.

E na boa, eu estava muito curioso sobre quem estava pagando aquele sequestro.

- Agora que estamos sozinhos, me diga – comecei, tentando transparecer a confiança que sentia –, quem é que te contratou?

- Você não espera que eu diga, não é mesmo?

- Você fez tudo isso pelos resgates, ok, mas já que sou eu o alvo principal, quero saber pra quem vou ser entregue.

Matthew adotou uma postura despreocupada, encostando no batente da porta. Ele cruzou os braços.

- Seu pai tem inimigos, garoto, e alguns bem poderosos. - falou. - E ele não é o mocinho da história, como toda essa situação faz parecer. Ele tem uns negócios meio sujos por ai, e o seu sequestro, só faria com que ele voltasse para o seu lugar.

- Chantagem.

- Exatamente.

- E quem é?

- Eu estaria quebrando meu contrato, e sinceramente, se não quero você com um buraco nos miolos, também não quero que saiba mais do que já sabe.

Ele estava certo, e até eu reconhecia isso. Informar ao sequestrado quem era seu algoz era imprudência, e falta de profissionalismo. Matthew tinha uma ética estranha, mas mesmo assim era ética.

- Você tem uns amiguinhos interessantes... - Matthew sorria, e eu não gostei do rumo da conversa.

Mas estava tão desesperado por um assunto que pudesse manter minha mente no lugar, que resolvi morder a isca.

- O que quer dizer? - perguntei, minha mão tremendo levemente.

- Uma assassina de aluguel contratada pela inteligência mais competente do mundo... Um agente da inteligência russa... Até que pra um riquinho qualquer, seus amigos são bem influentes.

- Alexei é da KGB? - eu perguntei e eu mesmo respondi. - Mas ela foi extinta no final da guerra fria!

Ele riu.

- Isso é história para meninhos como você poderem dormir em paz. – ele desencostou do batente. - Francamente, você realmente acreditava que só por que caiu um muro as potências iam sossegar? A KGB como você conhece apenas mudou de nome.

Eu estava para perguntar qual era o novo nome, quando o celular no meu bolso vibrou. Eu o atendi com a mão esquerda, apenas para ouvir a voz de Paul do outro lado.

- Estamos bem, beleza?

- E ela?

- Cara, você realmente achou que ela ficaria aqui?

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