XVII

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Andar pelos corredores com meu melhor amigo armado foi surreal. Ele adotava uma postura diferente, como se pudesse fazer pose no meio de uma explosão. Tipo um super herói.

Encontramos Yelena perto de onde a granada explodira, encostada na parede, com as pistolas nas mãos, o rosto fechado. Ela falou baixo em russo com Alexei, e exatamente por isso, presumi que a situação estava preta. Ele fez uma careta e segurou firme a sniper nas mãos.

- A situação não é das melhores, não é? - eu sorri.

- A gente vai dar um jeito.

E foi então que a ideia veio. Uma ideia simples, boba, singela.

- Aquelas cordas de rapel ainda estão penduradas na nossa sala?

Yelena virou a cabeça para mim como se tivesse uma mola embutida. Seus olhos brilharam.

- Fogo cruzado... - Alexei murmurou.

- Mas rota de fuga direta, e não é tão longe do chão.

- Escute o que está dizendo Yelena! E nós podemos ter que abrir caminho até a sala, só para chegar lá e não termos mais cordas.

- Quer enfrentar o que está no fim do corredor?

Eles travaram uma luta silenciosa entre olhares. Sério, eles seriam capazes de lançar raios. Ele xingou em russo. Yelena me puxou pelo braço e começamos a nos mover, em direção as escadas internas do prédio. Preferimos descer pelas escadas de emergência, pareciam mais seguras. Passamos por elas sem encontrar ninguém, e somente na hora de sairmos em nosso andar é que sentimos uma certa tensão. Aquele lugar estava vazio demais.

- O que tinha no fim do corredor? - perguntei.

Yelena olhou brevemente para mim antes de abrir a porta.

- Uma bomba, sensor de movimento.

Ela abriu a porta e tudo explodiu.

Havia uma bomba ali também, não uma muito grande, mas certamente eficiente. Eu bati com as costas na parede e senti o ar ser expulso do meu pulmão. Yelena voou tão longe quanto eu, mas o pior foi Alexei, que por estar de costas para os degraus, acabou rolando escada abaixo.

Eu estava atordoado, sentia minha cabeça latejar, meus ouvidos zuniam e eu estava com a vista turva. Yelena também se esforçava para levantar, mas suas pernas estavam bambas. Alexei não se mexeu.

- Alexei... - Yelena murmurou e bambeou até ele, descendo até o lance de escada em que ele havia parado.

Eu me forcei a ir com ela, sentindo meus membros gelatinosos protestarem a cada passo. Ela se ajoelhou ao lado dele e tocou seu pescoço. Ela balançou a cabeça negativamente, e tocou de novo. Minha mente começou a registrar o gesto dela. Ele não tinha pulso.

Yelena virou o corpo flácido de Alexei e vimos seu rosto congelado, olhos abertos. Ninguém vivo teria aquele tipo de olhar. Era como se ele estivesse olhando o horizonte, mas sem vê-lo de fato. Ela xingou várias vezes e começou a fazer massagem cardíaca nele, respiração boca a boca.

Inútil.

Meu melhor amigo estava morto. Ele nunca voltaria a se mexer.

Alexei jamais me ensinaria a me defender, jamais riria comigo outra vez. Seus olhos estavam vidrados. Eu jamais seria capaz de me esquecer daqueles olhos.

A assassina mais competente do mundo parecia perdida quando viu meu amigo morto. Eu sabia que um dia seria capaz de chorar, mas naquelas escadas, também sabia que éramos alvos fáceis. Eu me ajoelhei ao lado dela e peguei uma de suas pistolas. Aproveitei para entrelaçar meus dedos nos dela e beijar sua mão. Senti gosto de sangue, mas não sabia se era meu ou dela, e para mim, tanto fazia.

Eu não ia me calar mais, ser o alvo indefeso. Não deixaria que ela sofresse por minha causa. Todo aquele dia era um pesadelo, e eu estava louco para acordar, para ver que eu ainda estava na minha cama, e ainda escutaria Alexei me chamando de 'cara'.

Me controlando ao máximo para parecer forte, eu estiquei meus dedos e fechei os olhos de Alexei. Aquela não era a hora para chorar.

Eu já havia perdido meu melhor amigo, não permitiria que mais ninguém que

eu gostasse fosse tirado de mim.

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