14 | Natasha

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  Tomei um banho, coloquei um vestido largo, tampando a barriga que havia se formado. Não era tão grande, mas dava para perceber uma gravidez, se qualquer pessoa olhasse minha barriga. Calcei uma sandália, coloquei um casaco, fiz uma leve maquiagem.

  Um segurança veio avisar que todos me esperavam a mesa. Desci dez minutos depois, tomando coragem para desenterrar todo meu pesadelo. Assim que eu desci, meu pai conversava com Mattia, pelo visto minha viagem para Itália nem foi percebida ou questionada.

  Minha mãe desceu os olhos por todo meu corpo, analisando cada parte, seus olhos tomaram um brilho diferente. É lógico que ela perceberia. Revirei os olhos e os cumprimentei, jantamos e eles conversavam sobre coisas aleatórias.

— Bom, trouxe vocês aqui... Porque, eu quero toda a verdade. — minha mãe me olhou atravessado, papai olhou sem entender. Levei minhas mãos a cicatriz, entre meus cabelos, e enfim, meus pais entenderam. — Por qual motivo mentiram para mim? Sobre o sequestro?

  Mattia pareceu incomodado, se mexeu estranho em sua cadeira, enquanto meus pais decidiam quem falaria primeiro.

— Há dose anos, você foi sequestrada. — meu pai disse.

— Porque eu não me lembro? — perguntei receosa, sentindo meus olhos encherem de lágrimas.

— Você estava apagada, quando entramos com os seguranças no quarto. Sua cabeça sangrava muito, quando levamos para o hospital, você não lembrava de nada. — sua voz travou, mamãe continuou.

— Eu conversei com seu pai, filha. Achamos melhor que você esquecesse disso, para seu trauma não der grande.

  A dor que havia se instalado no meu peito, fazia com que minhas forças iam embora. Flashes de todo o assédio que sofri de Viktor, o maldito professor.

— Vocês tem noção do que fizeram com minha vida? — perguntei socando a mesa.

  Mattia ia se levantar para me abraçar, mas eu impedi. Não queria que ele me tocasse, estava com raiva dele ainda. Talvez nunca mais o perdoaria.

— Eu sofri abusos contínuos, isso eu não esqueci, passei a viver trancada. Reclusa do meu próprio medo, achando que aquele maldito voltaria para terminar o que prometeu. — gritei me levantando. — Talvez, se eu soubesse que vocês sabiam disso, eu teria dividido com vocês tudo que eu passei...

— Perdão minha filha... — meu pai me interrompeu, lágrimas queimavam o seu rosto.

— Tentamos evitar que sofresse... — minha mãe disse, não sofria tanto quanto meu pai, seu coração era duro demais para isso.

— Podem de retirar, já fizeram ela sofrer demais. — foi tão irônico ele dizer aquilo. — Se acalme, precisamos conversar.

   Respirei fundo tentando me controlar.

— Você sabia deste homem? — sentia a água que ele me deu, travar na garganta.

  Não aguentava mais essas mentiras.

No dia do nosso noivado, achei estranho sua atitude. Mandei investigarem o maldito, e sim, eu sabia que ele tentou fazer com você. Mas não sobre o sequestro. — se sentou na minha frente. — Depois que voltamos da lua de mel, fui pressionado pela cápsula, para que você engravidasse.

— Já sei, por isso me fez passar por toda aquela humilhação. — o desgosto de minha voz era tão amargo.

— Não, talvez um pouco na atitude impensada de ter discutido com você, por causa disso. Mas não foi por isso. Acredite! Eu quero que saiba que fiz tudo, pensando no seu bem estar... Só não pensei que a faria tão mal.

— Mattia, não quero mais saber. Vou subir... — tentei levantar, mas fui impedida bruscamente.

— Deixe-me explicar, depois toma suas decisões. — murmurou, confirmei me sentando. — Recebi um e-mail, indicando um link da Deepweb aonde havia fotos e vídeos seus...

  Meus olhos se arregalaram, neguei com a cabeça, Mattia me puxou para um abraço. Não recusei, seu gesto de tentar me confortar.

— Você falou sobre a lembrança, então tudo fez sentindo. O maldito do Viktor te sequestrou quando fez aquilo, eu tentei impedir que chegasse a você. Me perdoa, dei um tiro no meu próprio pé, achando que estaria te protegendo. Não pensei que te magoando dessa forma, a faria sentir ódio de mim.

— Eu tô grávida... Mattia! — suspirei alto, sentindo um alívio de estar contando isso a ele.

— Como grávida... — se afastou de mim, me olhando atentamente.

  Então, ele pareceu enxergar o quanto eu mudei, meu rosto mais magro, meu corpo com novas curvas. Os seios mais cheios e a barriga iniciando formato.

— Completei 21 semanas, ontem... — dei de ombros.

  Eu não conseguia descrever a sua reação, ele parecia um tanto confuso.

— Descobriu a gravidez a pouco tempo, por isso voltou? — perguntou, caminhando até mim.

  No fundo, não me sentia culpada por isso, ter escondido a gravidez me deixou forte. Pelo menos eu achava isso. Porém, agora... Com toda a verdade latejando na minha cabeça, tive um medo. De que talvez, as coisas não pudessem se resolver.

— No fundo, eu sei que é isso que você precisava escutar. — respondi sem me sentir por baixo, havia sofrido o bastante. — Antes de sua mãe aparecer aqui, eu já sabia, na verdade seus pais me ajudaram por isso. Mattia. Não te peço perdão, porque não fiz nada que pudesse ser levado a isso. Apenas segui o meu instinto protetor, de proteger o presente que a vida me deu. Meu filho.

— Nosso filho, Natasha. Nosso... — ele ficou enfurecido, mas não baixei a guarda.

— Não esqueci que independente de suas verdades ou mentiras, — dei de ombros. — eu fui presa, humilhada e totalmente proibida de sair do quarto. Não posso ser julgada por um ato incoerente que eu cometi, sendo que me fez sofrer como nunca. Fazendo eu me arrepender de ter me casado.

— Não diz isso, me perdoa... Por favor! — pediu com os olhos cheios de lágrimas. — Eu mereço que você me odeie, que me faça sofrer, mas não me deixe.

  Fiquei estática sem ação, Mattia se aproximou de mim pedindo que eu ficasse. Seu olhar era tão perdido, parecia um menino precisando de ajuda. Com segredos e medos, que ele guarda pra si, a sete chaves. Alisei sua bochecha com meus dedos, sentindo seu rosto se contorcer.

— Ahn, meu amor... — sussurrei sentindo meus olhos se encherem de lágrimas, que começou a escorrer pelo meu rosto. — não sou um mostro, jamais iria lhe fazer mal algum. Levante você é um mafioso, o chefe dos chefes... — sussurrei mostrando um sorriso casto. — Seus seguranças e ninguém, podem ver sua fraqueza. Você é forte, e sei que por este motivo. Vai respeitar meu tempo.

— Tudo bem, espero o tempo que for...

— Uma menina. — sussurrei o deixando para trás. — Vamos ter uma linda menininha em breve.

  O deixei sozinho, fazendo ele pensar em suas atitudes. Talvez resolvesse algo, ou não, chegou minha hora de sentar e esperar.

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Até amanhã

Mattia - Herdeiros da Máfia parte dois | Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora