Capítulo 10

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Fernando foi levado para a porta do quarto de Lucero, onde o doutor se despediu para dar privacidade ao casal. O homem respirou fundo antes de entrar e se deparou com Lucero deitada na cama, pálida e encarando a parede. Assim que ouviu o barulho da porta, seu olhar encontrou o de Fernando, mas ela logo desviou.

− Como se sente? – Fernando se aproximou devagar.

− Bem, obrigada. – Lucero respondeu ainda sem olhar para Fernando.

− Que besteira você fez, Lucero. – Fernando negou com a cabeça.

− Eu o encontrei. – Lucero falou com os olhos cheios de lágrimas.

− Eu imaginei que aquele monstro tivesse alguma coisa a ver com isso. Mais uma vez ele ia conseguindo destruir a sua vida.

− A minha vida já está destruída há anos.

− Você é uma ingrata, é isso que você é. – Fernando enfatizou. – Você tem uma vida de rainha, é bonita, talentosa, conquistou o mundo inteiro, tem tudo o que sonhou, tem uma filha linda que é capaz de mover o mundo por você e não agradece por isso.

− Mas em compensação para ter tudo isso, eu o perdi.

− Dane-se! Não foi você que o perdeu, foi ele quem não soube valorizar o seu amor. Mas como você espera ser valorizada por alguém se nem mesmo você é capaz de se valorizar? Olha o que você fez, Lucero. – Fernando apontou para Lucero que já chorava. – Você ia tirar a sua vida, ia tirar a mãe de uma adolescente e o que é pior, no dia do aniversário dela.

− Eu não pensei nisso. – Lucero suspirou com a mão na testa.

− E qual é a novidade nisso? Em que momento você pensa nela? – Fernando ironizou.

− Não diga isso! Se eu fiz o que fiz foi pensando nela e em você também! – Lucero gritou.

Eles passaram um minuto em silêncio. Fernando estava chocado por Lucero ter admitido que pensava nele pela primeira vez na vida.

− Viviane não merece ter uma mãe como eu. Eu não sei demonstrar que a amo, eu a culpo pela desgraça que minha vida se tornou sendo que nessa história toda, ela é a mais inocente. – Lucero abaixou a cabeça chorando, mas logo levantou. – E você... – ela forçou uma risada. – Tudo que você tem feito esses anos é estar do meu lado, me apoiar, assumir e amar uma criança que não é sua. Eu nunca permiti que você seguisse sua vida, Fernando, você nunca nem sequer teve uma namorada e eu achava que se não existisse mais, você encontraria alguém que te amasse e fosse a mãe que a Viviane precisa.

− Você é a mãe que a Viviane precisa. – Fernando enfatizou. – Você não percebe que tudo que essa menina faz é para chamar um pouco da sua atenção? Ela sente falta do seu carinho e não é a primeira vez que eu tento fazer você se tocar disso.

− Onde ela está? – Lucero enxugou as lágrimas.

− Ela foi comprar flores para você. – Fernando falou e Lucero sorriu de leve. – Mas já deve ter chegado. Eu vou chamá-la. – ele saiu.

Lucero respirou fundo, fechando os olhos. Que Deus a ajudasse a conversar com a sua filha de uma forma sincera como ela nunca fez antes. Sua atenção foi voltada para a porta que se abriu e Viviane entrou carregando um buquê de flores vermelhas, as suas preferidas. Lucero estranhou por ela não se aproximar para lhe abraçar como sempre fez.

− Não vai me dar um beijo?

− É que você diz que não gosta de grude e eu não quis te estressar de novo. – Viviane abaixou a cabeça.

Lucero sentiu seus olhos se encherem de lágrimas novamente. Ela nem sequer dava abraços na própria filha, não sabia como Viviane seguia a amando apesar de tudo.

− Hoje eu não só quero como necessito do seu abraço mais do que tudo. Vem? – Lucero estendeu os braços.

Viviane deixou as flores em cima da cama e correu até Lucero, a abraçando com força. A mulher não se aguentou e começou a chorar enquanto a filha só acariciava seu cabelo.

− Me perdoa. – Lucero soluçou. – Me perdoa por ter feito isso justamente no dia do seu aniversário. – ela a soltou o suficiente para encarar Viviane.

− Mamãe, isso doeu como doeria em qualquer outro dia. – Viviane desviou o olhar. – Por que você fez isso? Foi alguma coisa que eu fiz?

− Não, você não tem culpa de nada. – Lucero respirou fundo. – É só que às vezes as pessoas fazem besteira sem se dar conta de que estão atingindo as outras.

− E quem era aquele homem que você viu no shopping?

− Ninguém. – Lucero desviou o olhar.

− Era ele que você gostava antes de ficar com o papai? – Viviane insistiu.

− Era, era ele sim, mas eu não quero falar disso.

− Mamãe, você não precisa sofrer por ele. O meu pai te ama. – Viviane encarou Lucero.

− Viviane, eu já falei que entre seu pai e eu não existe nada além de amizade. Essa história você já conhece desde que nasceu.

− Tudo bem. – Viviane suspirou e pegou as flores. – Eu trouxe essas flores para você. Espero que goste.

− Obrigada, eu amei. – Lucero sorriu cheirando as flores. – Mas esse presente devia ser seu, afinal é o seu aniversário.

− Meu melhor presente é ter a minha mãe ao meu lado.

Lucero sorriu emocionada. Cada dia tinha mais certeza de que não merecia uma filha como Viviane.

− Vem, fica aqui comigo. – Lucero se afastou dando espaço para Viviane se deitar ao seu lado na pequena cama do hospital e assim ela fez, a abraçando apertado.

Lucero ficou horas acariciando o cabelo da filha até ela adormecer. Tinha certeza de que se Manuel desse uma chance de se aproximar, se encantaria pelo jeito doce e amoroso da menina que ela sabia que devia isso a Fernando e a Ana que davam amor à sua filha porque se dependesse dela, Viviane nunca teria conhecido o amor. Seus pensamentos foram interrompidos por Fernando que entrou no quarto devagar e sorriu ao ver a moça dormindo lindamente nos braços da mãe, sabendo que ela sonhou muito em ter a Lucero daquele jeito.

− Como se sente? – Fernando perguntou baixo.

− Bem. – Lucero suspirou. – Já posso ir embora?

− Não, o médico achou melhor que você ficasse por aqui hoje em observação, por isso que eu vim buscar a Vivi para levar para casa e volto para ficar com você.

− Deixa ela aqui comigo. – Lucero pediu olhando para Viviane.

− É mesmo?! – Fernando perguntou surpreso.

− Sim. Já está tarde e olha como ela está dormindo gostoso. – Lucero sorriu. – Faltar um dia de aula não mata ninguém.

− Tudo bem então. Boa noite, até amanhã.

− Até amanhã.

Fernando saiu e Lucero se ajeitou na cama, colocando o lençol por cima da filha e de si mesma. Ela acariciou o rosto de Viviane devagar, percebendo como elas se pareciam, Lucero quase podia vê-la aos dezessete anos de novo. De tanto pensar, a mulher acabou adormecendo.

                                                                                      ~ * ~

Fernando falou tantas coisas a Lucero que ela terminou aceitando o amor de Viviane, mas até quando???


Peço desculpas pelo horário do post, aconteceu um imprevisto por aqui e só agora consegui resolver. Enfim, espero que tenha valido a pena a espera para vocês <3 

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