[1] Dicentra spectabilis

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Gumiho: espírito de raposa vivo há mais de mil anos. Possui nove caudas e é um ser metamorfo, portanto, capaz de se transformar como bem entender. É dito que gumihos são criaturas más que consomem carne humana.

 É dito que gumihos são criaturas más que consomem carne humana

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Imortalidade não é uma bênção.

Mesmo que seja assustador pensar na morte, depois que se vive dez vezes mais do que uma pessoa normal, cansa. Cansa ver aqueles que você ama se afastarem de você ou morrerem sem poder fazer nada, quando nos sentimos impotentes a imortalidade perde o sentido. Dá pra chamar uma existência dessas de amaldiçoada?

Como um gumiho, estou vivo há mais de mil anos e confesso que estou cansado de ser imortal. Olho pros humanos com inveja da vida que eles têm, olho pra vida deles com desejo. Quero ser feliz ao lado de alguém, ter uma família e me preocupar com coisas banais tais como a lista de compras do supermercado, ou com os tomates da hortinha que fica nos fundos da casa. O meu desejo desesperado de viver essas experiências me levou ao presente momento, a fazer uma coisa da qual não sinto orgulho: devorar o coração de um humano.

Há uma crença de que nós, gumiho, precisamos comer cem corações humanos em cem dias para reverter a nossa imortalidade. A primeira vez que arranquei o coração do corpo de uma pessoa e o devorei, nem sequer pisquei, estava cegado pelo meu próprio objetivo. A vontade de uma vida normal e o egoísmo eram muito maiores do que a empatia por uma vida já existente.

A segunda vez foi um pouco mais problemática. Cometi o erro de me disfarçar e conversar com o alvo, o que fez com que a execução da tentativa fosse um desastre. A terceira e última vez foi a pior de todas. Matei um homem, comi seu coração e agora, banhado em seu sangue, sinto como se meu peito tivesse afundado. Sua última suplicia, seu último choro por misericórdia parece gravado nos meus tímpanos, sua expressão de pavor está colada na minha retina.

Atirado na poltrona em minha sala, a sensação de vazio me invade por completo me fazendo encarar o teto sem conseguir esboçar sequer uma emoção, e não por não sentir nada, mas por não saber o que sentir primeiro.

— Você parece péssimo.

Me assusto e levanto um pouco meu torso para encontrar Taehyung encostado no batente da porta da sala.

— Quando que te dei permissão pra entrar aqui sem avisar? — me acomodo na poltrona de novo e fecho os olhos.

— Senti cheiro de sangue, quis ver se você estava bem. Pelo que vejo, fisicamente sim.

Murmuro uma concordância e ouço o som de passos se aproximando.

— Sei que está sofrendo, Kookoo. — solto um grunhido insatisfeito como reação ao apelido ridículo que ele me deu — Descobri algo que pode acabar com isso sem que você tenha que continuar comendo corações humanos.

Abro os olhos e encaro meu amigo.

— Do que está falando?

— Bom, você vai ter que comer um coração, mas será apenas mais um e o dono não será um humano indefeso.

DOOMED | jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora