Cap.1-Recomeço

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Olhei para o relógio entediada enquanto aguardava o trem, minha entrevista deveria começar em uma hora. Pensava no quão cansativo aquilo seria para mim, sair de Alfama para Cascais e Estoril todo santo dia não seria fácil, mas um mal necessário se eu quisesse viver com Miguel e trabalhar numa boa empresa.

No caminho pensava em tudo que passei, imaginava se Liana não tivesse aceitado participar da emboscada para Luís, eu estaria tão lixada! Pensava em meus amigos da empresa, iria sentir falta deles, até de Raquel e a sua energia exagerada, sorri com o pensamento, tudo seria diferente agora.

O trem parou na estação, era hora de conquistar o mundo! " Vamos Amélia, tu consegues a vaga."-pensava enquanto descia trémula. Subi no primeiro táxi e indiquei o nome da empresa para o motorista que deu partida.

Vislumbrada observava tudo a minha volta, era uma cidade colorida e bastante movimentada. O carro parou a frente da empresa com as letras garrafais "OS VALVERDES" em branco e um enorme jardim vertical no mural inteiro.

Amei, bastante sugestivo!

Paguei ao taxista e desci apressada, o tempo fugia do meu relógio,embasbacada fui entrando no edifício sofisticado. Nada haver tinha com a antiga empresa onde eu trabalhava, era mais pequeno, as divisórias entre os diversos setores era mais interativa, pessoas corriam dum lado para o outro demasiado ocupadas para notar a minha presença.

-Amélia.-ouvi a voz dócil de uma mulher atrás de mim, virei-me sorridente e ela estendeu a mão para mim.

Olhei diretamente para ela, morena com cabelos curtos, um belo sorriso e a roupa executiva.

-Bom dia, o Sr. Valverde já aguarda por si, queira me acompanhar por favor.-disse simpática e eu concordei aliviada lendo em seu crachá o nome "Carol".

Não podia estar mais feliz, ela foi tão profissional, era tudo que eu precisava, um emprego sem gracinhas. A bela moça deixou-me do lado de fora e bateu na sala do meu mais novo chefão entrando de seguida. Dois minutos e ela voltou a sair dando-me sinal para avançar.

-Boa sorte na entrevista.-disse simpática e eu respirei fundo nervosa.

-Obrigada Carol.-respondi para a surpresa dela e ela se foi.

Decidida adentrei na sala, Afonso aguardava em seu cadeirão com um lápis em mãos, olhando para um ponto desfocado qualquer.

-Muito bom dia.-disse e ele voltou atenção para mim.

-Bom dia Amélia, queira sentar-se por favor.-disse ajeitando-se na cadeira mais concentrado, engravatado e com os braços sobre a mesa observava-me atento.

-Então vamos direto ao assunto?-perguntou sério e eu engoli em seco, não consigo descrever o quanto estava intimidada naquele momento, esta empresa não é de moleza pelos vistos.

-Claro Sr. Valverde.-respondi o mais séria possível, para não chorar de tão em pânico que estava.

-Eu estive a dar uma olhada nos teus últimos trabalhos e na sessão da exposição e devo dizer que...-disse abrindo a pasta de documentos e eu segurei a respiração.-Tu tens bastante talento.-disse sorridente e eu respirei aliviada.-Porém muito trabalho precisa ser feito ainda,isso claro se estiveres disposta a começar já.

-Sim, sim... Claro.-disse feliz e ele concordou sorrindo pensativo.

-Sabe Amélia, por anos que a nossa empresa tem competido com a Agência Alcântara.-disse sério e levantou-se pensativo.-Infelizmente o apelido de um antigo modelo de renome vale mais do que o empenho no mundo em que vivemos.-falou enraivecido de costas e eu tentava assimilar o que ele dizia.

Amélia 2 [CONTINUA]Onde histórias criam vida. Descubra agora