Cap.27-Arrependimento

128 19 3
                                    


A senhora de meia idade que conhecera no trágico jantar da outra vez abriu a porta com um sorriso largo. Assim que cruzamos o hall da entrada avistamos Luísa e Ana Paula.

-Boa noite, sejam bem-vindos.-disse a Dona Luísa dando um abraço em minha mãe.

-Boa noite.-disse Ana sem graça, desta vez ela não abraçou o irmão, não foi mal educada, tudo que seu rosto transmitia era vergonha.

-Prazer em conhecê-la finalmente Rita.-disse Luísa.

-Igualmente comadre.-disse minha mãe sorrindo.

Estava tensa, aparentemente Sr. António não iria se juntar a nós naquela noite, ou se calhar estivesse pronto para aparecer ao meio do jantar e estragar a noite, era melhor parar de pensar nele, dizem que se pensarmos no diabo ele aparece.

-Ana voltaste da Inglaterra...-tentei começar uma conversa enquanto nos sentávamos no sofá.

-Sim, é... é o final do semestre.-disse apenas sem olhar para mim..

-E foi difícil?-perguntei tentando desenvolver mais o assunto mas Luísa apressou-se em responder.

-Ela teve excelentes notas, as professoras sempre disseram que ela é um pequeno gênio.-riu do próprio comentário afagando o cabelo da filha como se de um bebé se tratasse.

-O seu marido como está?-perguntou minha mãe alheia ao desconforto que aquele tema traria em todos nós.

-Está a recuperar bem, de momento precisa repousar apenas.-disse sorrindo com esforço.

-Quando ele pode retomar o cargo na empresa?-disse Miguel interrompendo a conversa delas, a mãe olhou para ele com reprovação e a criada apareceu para avisar que a mesa estava posta.

-Queiram acompanhar-me por favor.-disse Luísa sem responder a pergunta que Miguel fizera.

Sentamos à mesa, desta vez a mãe de Miguel sentou-se na cabeceira, eu de frente para minha mãe e Ana de frente para Miguel. Rapidamente os pratos foram servidos, a apresentação do Polvo a Lagareiro era esplêndida.

Minha mãe olhou com certa estranheza para o tentáculo em seu prato e então para os diversos talheres dispostos na mesa, fiz um sinal para ela demonstrando o talher que eu iria usar e ela imitou meu movimento.

-Então Amélia, como te sentes?-perguntou Luísa quebrando o silêncio.

-Ah, totalmente recuperada.-respondi mentirosa.

-Confesso que fiquei ressentida por Miguel ter deixado o próprio pai entre a vida e a morte para ir a tua busca, mas depois que eu soube do motivo eu...-ela deu uma pausa e eu já não conseguia respirar, falar daquele assunto ainda doía.

-Um homem deve sempre proteger os seus, meu menino já é um homem com tantas responsabilidades. Ainda me recordode quando berrava em meus braços querendo mamar, ele sempre foi muito chorão.-disse pensativa.

-A minha Amélia sempre foi calminha, um bebé sereno que dormia toda noite.-disse orgulhosa, minha mãe.

-Eu sinto muito de verdade que tenhas perdido o nosso neto, mas mais virão.-disse enquanto tragava um pouco do vinho.

-Um brinde aos que virão para encher-nos de alegria.-disse por fim e todos levantamos as taças.

A comida passou atravessada pela minha garganta, ouvia-a falar com carinho mas meu sexto sentido continuava a teimar que havia algo errado. Estaria ela com ciúmes? Não era novidade que Miguel não se dava bem com o pai e se ele tivesse de escolher entre nós dois duvido que piscasse duas vezes.

Amélia 2 [CONTINUA]Onde histórias criam vida. Descubra agora