Cap.28-Adeus

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Uma semana nunca passou tão rápido, passei os últimos dias com a minha mãe como se de luto se tratasse, olhava para ela com antecipada saudade como se nunca mais nos voltaríamos a ver.

Miguel tentava animar-me, levou-nos a passear nos melhores lugares, a comer as melhores especiarias da sua terra mas nada poderia diminuir aquele vazio que eu sentia. Eu sabia que estava na hora dela ir, precisava preocupar-me inteiramente com o maldito do Luís e com o futuro da minha carreira agora que os Valverdes haviam me enxotado como uma cadela para os EUA, mas ainda assim não estava pronta para a despedida.

A última manhã da Dona Rita em Portugal chegara, lá fora um frio de rachar os lábios. Malas feitas e o coração desfeito em pedaços tomamos o último pequeno-almoço juntos em silêncio, não haviam sorrisos ou piadas, o ambiente imitada o clima gélido que nos aguardava do lado de fora.

Antes que decidissem levantar da mesa ganhei coragem e finalmente retirei o envelope da minha bolsa, há dias que pensava em entregar-lhe mas sempre recuava, conhecia bem a minha mãe, ela não iria aceitar de qualquer jeito mas precisava tentar.

-Mãe...-comecei por dizer entregando o envelope para ela que com o olhar desconfiado largou a chávena para recebê-lo.-Isso é para a senhora começar o negócio que lhe bem apetecer.

A minha mãe abriu com cuidado o envelope e observou o cheque com os inúmeros zeros, demorou algum tempo para que respondesse, olhei para Miguel procurando amparo e ele segurou a minha mão por baixo da mesa tranquilizando-me.

Depois dos longos minutos ela devolveu o cheque para o envelope e arrastou-o na mesa de volta para mim e olhando diretamente nos meus olhos disse: -Minha filha eu agradeço bastante mas eu não posso aceitar, já fizeste até o que não devias por mim e eu agradeço bastante mas esse dinheiro é teu e tu mereces usá-lo.

-Mamã pelo amor de Deus. Esse cheque não é nem a metade do que eu ganho.-falei mentirosa tentando convencê-la a aceitar.-Para além do mais eu não me sentiria bem sabendo que vivo do bem e do melhor aqui em Portugal enquanto a minha mãe continua a viver no antigo bairro de lata na periferia da cidade de Maputo.-falei séria e ela encarou-me zangada.

-Tenho muito orgulho do lugar onde vivo e da casa onde eu e a tua tia vos criamos, nunca passaste fome ou dormiste ao relento Amélia, pobre ou não se chegaste aonde chegaste foi graças ao nosso sacrifício no dito bairro de lata como chamas agora.-falou irritada e eu engoli em seco.

-E agradeço bastante por isso mãe mas agora é a minha vez de retribuir esse esforço, eu quero proporcionar-vos uma vida melhor, qual é o problema nisso?-perguntei chateada e o silêncio foi a única resposta que obtive.-Mamã, com esse dinheiro pode abrir o restaurante que tanto queria e finalmente mudarem para uma casa melhor.-disse arrastando o envelope na mesa para que chegasse perto dela.

-Por favor mãe, por favor não rejeite o meu presente, senão tudo que eu venho fazendo não terá sentido algum.-implorei e ela olhou para mim e de mim para Miguel.

-Dona Rita, sem querer meter-me Amélia sempre disse que era o seu sonho abrir um restaurante e ela faria de tudo para concretiza-lo, acho que deveria aceitar, ela esforçou-me muito para chegar onde chegou e a senhora não usufruir dos frutos deste árduo trabalho seria mesmo uma decepção.-disse sério meu amor e eu sorri agradecida.

Silêncio...

-Tudo bem filha, mas vou precisar da vossa ajuda, não sei como gerir tanto dinheiro.-riu nervosa e nós também.

-Pode deixar, trataremos de tudo.-disse Miguel e eu não sabia mais parar de sorrir, meu amor continuava a ser uma caixinha de surpresas.

Amélia 2 [CONTINUA]Onde histórias criam vida. Descubra agora