Cap.26-Comadre

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-Procuro por uma moça, ela vai dar parto ou já deu de gêmeos, não deve ter dado entrada a muito tempo, eu sou a... A madrinha.-dizia atrapalhada na recepção do hospital e a senhora de óculos enormes continuava a escutar sem se abalar.

-Acalme-se, qual é o nome da parturiente?-perguntou séria.

-Suzana, ahm... Suzana Sagres.-disse por fim e ela digitou algumas coisas no computador.

-Terceiro piso, quarta porta á esquerda.-disse simplesmente e eu agradeci já correndo para lá.

Assim que cheguei ouvi um berro audível, seguido do barulho duma maca sendo arrastado pelo chão, as portas abriram e vi uma Suzy suada, vestida da bata do hospital e a toca, seu rosto estava manchado de lágrimas com um semblante contorcido de dor. Corri para perto dela e esta apertou a minha mão com força.

-Suzy eu estou aqui!-falei enquanto a maca contornava para a direita.

-Eles prometeram...uff uff.-ela tentava falar.-Eles prometeram que seria um parto normal.-dizia apavorada.

-Eu não quero que seja cesariana, faz alguma coisa Amélia.-ela chorava tremendo e eu não sabia o que fazer.

-Calma Suzy, vai correr tudo bem. Se os médicos acham que é melhor assim eles devem saber o que estão a fazer.-disse tentando transmitir confiança mas a verdade é que eu estava para chorar também.

-O senhor é o pai?-perguntou a enfermeira para Dário que se encontrava do meu lado, quase caí na gargalhada ao ver a cara dele assustada.

-Não não, eu sou a acompanhante dela, este é o meu guarda-costas.-disse séria e ela pareceu levar algum tempo analisando se era verdade, é tão estranho assim uma negra ter um guarda-costas?

-Vai querer assistir o parto para tranquilizar a sua amiga?-perguntou e embora tivesse uma máscara percebi que sorria.

Estava apavorada, olhei dela para Suzy que continuava a chorar silenciosa e sem pensar mais de duas vezes concordei.

-Menina Amélia...-advertiu Dário que estava ao meu lado e eu olhei feio para ele.

Eu sabia o que ele queria dizer, Miguel disse que ele deveria estar de olho em mim e desde o momento em que ele me perdia de vista não estava mais a proteger-me.

-Está tudo bem Dário, isto é um hospital pelo amor de Deus.-disse aborrecida e ele se calou.

Larguei Suzy por alguns minutos, ela precisava ser anestesiada e preparada para a Cesária, eu porém precisava ser preparada para entrar na sala.

Devidamente vestida e desinfectada, fui encaminhada para a sala onde minha amiga parecia mais calma, havia um pano que a empedia de ver o que se estava a passar lá embaixo, tranquilizava-lhe como conseguia até que finalmente ouvimos o primeiro choro.

A emoção tomou conta de mim, as lágrimas caíram ao ver o pequeno gritar e gritar como se estivesse triste por finalmente sair do calor da barriga de sua mãe. Enquanto o limpavam escutamos o segundo choro e o riso de felicidade da equipe médica.

Não tardou muito e um deles me foi entregue, o outro foi entregue a Suzy que sorria agradecendo a Deus e a todos os santos por aquela dádiva.

Olhei para o bebé em meus braços e dele para Suzy, então era assim que eu me sentiria quando fosse mãe? Uma mistura de nostalgia e felicidade me atingiu, tudo poderia ser diferente se eu não tivesse escondido segredos.

-Parabéns mamãe.-disse para ela que agradeceu enquanto levava o outro bebé.

Aguardei na sala de espera para que ela fosse transferida para o quarto, segurava os joelhos com força enquanto pensava nos nomes que daríamos para eles.

Amélia 2 [CONTINUA]Onde histórias criam vida. Descubra agora