Cap.3-Desnuda

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-Liana Gonçalves fez muito por Portugal e agora chegou a sua hora de partir deste mundo, a sua morte deixou uma ferida profunda em nossos corações mas devemos lembrar dos bons momentos que com ela passamos e relembra-la pelos seus bons atos...-ouvia o desconhecido dizer enquanto as pessoas soluçavam a nossa volta.

Limpando as lágrimas disfarçadamente era consolada por Miguel que se encontrava ao meu lado, não aguentava aquele clima de morte e a culpa que apertava o meu peito.

-Ela não merecia isto, não merecia.-dizia uma senhora de meia idade ignorando o discurso enquanto soluçava, deveria ser a mãe dela, a moça ao lado a consolava como podia, mas a cena era de cortar o coração.

Na enorme catedral várias pessoas que eu só conhecia pelas revistas ou televisão, os rostos mortificados e os óculos escuros prestavam a última homenagem para aquela mulher que fez tanto pelo seu país, pela moda e por mim.

Sim, ela salvou-me de Luís e eu não fiz nada por ela, agora estava morta, retirou a própria vida com uma corda, eu sabia que ela tinha todos os motivos para se suicidar, o amor da vida dela destruiu-a e no final ela teve de fazer o mesmo com ele, mas não conseguia aceitar aquilo, não dava!

A cerimônia terminou e enquanto saíamos, meu amor tentava proteger-me dos flashes, estava triste, aquilo era notícia principal de todos jornais e é claro que o meu nome era arrastado em cada artigo, especulações e culpas eram atiradas para mim, aquele pesadelo nunca iria acabar.

-Estás bem querida?-perguntou Miguel preocupado e eu concordei com a cabeça mesmo sabendo que não ficaria bem por muito tempo.

-Ross.-vi-o saindo também e pedi um momento a Miguel.

-Ross.-repeti o alcançando enquanto ele falava com outra pessoa e este pediu licença virando a atenção para mim, afastamo-nos para ter mais privacidade.

-Amélia.-disse com pesar, ele deveria imaginar o que estava a sentir naquele momento.

-Eu não acho que ela se suicidou Ross, eu sei que ela tinha todos os motivos mas eu não consigo ignorar a ideia de que Luís esteve envolvido nisso.-disse perturbada e ele coçando o queixo olhava para os lados.

-Amélia...-tentou começar mas eu o interrompi:

-Pensa comigo Ross, a porta foi forçada e haviam vestígios de comprimidos na cama, porquê?-perguntava lembrando da reportagem do dia anterior.

-Provavelmente ela tenha pensado em usar remédios primeiro mas depois optou por se pendurar.-disse tentando conectar os pontos.

-Mas...

-Amélia... esquece esse assunto! Acabou-se Amélia, acabou-se...-disse sério e eu respirei fundo descontente.

-E mesmo se quiséssemos fazer uma autópsia, a família não iria aceitar, nem o caixão eles aceitaram abrir...-disse sincero.

-Ross, eu não consigo aceitar, eu... eu não pude ajudá-la.-disse com lágrimas nos olhos.

-Se calhar esta foi a melhor maneira dela ser salva Amélia, onde ela estiver vai poder recomeçar. Tu tens de deixar isso ir.-disse segurando meus ombros e por fim se foi.

Fechei os olhos, se calhar ele tinha razão, precisava preocupar-me com a minha vida, o meu recomeço e superar todo aquele terror.

Virei-me para ir embora quando alguém segurou o meu braço, olhei assustada para uma Raquel com os óculos gigantes de sol.

-Mas que raios Raquel?-perguntei confusa e ela retirou os óculos, seus olhos manchados de rímel borrado e as olheiras eram notáveis.

-Tu estás feliz?-perguntou soltando o meu braço e eu não sabia o que responder.-Deves estar não é... Enquanto tu pulas de empresa em empresa e bancas a heroína das oprimidas, pessoas como Liana estão a morrer,e pessoas como eu estão a ficar desempregadas, quem me dera nunca ter te conhecido.-disse estúpida com raiva em seus olhos.

Amélia 2 [CONTINUA]Onde histórias criam vida. Descubra agora