Cap.23-Guerreira

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Amélia 

No dia seguinte tive alta e Miguel levou-me de volta para o seu apartamento, não tinha forças para refutar sua decisão pelo que deixei-me ser guiada por ele, trocamos poucas palavras naquele dia e assim foi pelo resto da semana. 

Segundo o médico deveria ficar em repouso absoluto então Miguel contratou uma diarista para fazer os trabalhos domésticos e um guarda-costa que guardava nossa porta, trocando com outro pela noite.

 Trancada em casa pois apesar de Raquel estar presa ela médico dizia uma palavra sobre o paradeiro de Luís, apenas saía de casa para ver meu psicólogo pois segundo meu médico precisava fazer terapia depois daquele processo traumático. 

Estava cansada de olhar para as paredes, quase todos os programas nacionais falavam sobre a mesma coisa, como se a minha vida fosse uma maldita telenovela todo mundo colocava a minha imagem ao lado das fotos de Luís contando aquele terror como se eles estivessem na minha pele.

Meu celular não parava de tocar e tinha a certeza que o de Miguel também, rápido tive de silenciar as notificações e redes sociais.

A cada dia que passava mais sufocada me sentia mas mal conseguia falar ou reagir aquela situação. Estava bastante quebrada para conversar, eu sabia que mesmo sem dizer Miguel não me julgava por não ter dito nada sobre a gravidez mas a culpa tamborilava na minha cabeça.

Todas as manhãs Miguel saía para trabalhar, sabia que estava sobrecarregado, seu olhar cansado e apagado demonstrava o fardo que ele estava a carregar.

Tendo de cuidar de mim, da Essência e da Vasconcelos, eu sabia que deveria apoia-lo, diminuir um pouco de suas preocupações mas não conseguia fazer nada além de observa-lo.

Nossa cama parecia enorme, ele chegava todos os dias a noite depois de um longo dia de trabalho, deitava do meu lado sem fazer barulho mas o sono não vinha, fingindo que dormia ouvia ele virar para o outro lado e depois de algum tempo levantar, sair pelo quarto e não mais voltar.

Nosso relacionamento estava por um fio assim como nossas vidas, queria poder abraçá-lo e dizer que tudo ficaria bem, mas minha dor continuava sendo egoísta.

Estava deitada na cama encarando o tecto quando Miguel saiu do banheiro sorridente, assustada pela sua felicidade depois de tanto tempo fiz menção de perguntar mas antes que abrisse a boca ele disse:

-Porquê ainda não te levantaste?-perguntou enquanto secava o cabelo com a toalha, olhei para ele confusa:-Vamos sair, vá levanta-te Amélia.-disse entusiasmado e curiosa para saber o que era fui preparar-me.

Juntos entramos no carro de Miguel enquanto o Sr.Dario, meu mais novo guarda-costas, escoltava-nos  no carro atrás de nos. Sentia a brisa gelada bater no meu rosto enquanto olhava a cidade, pessoas com os casacos de inverno e goro na cabeça caminhavam descansadas alheias aos problemas uns dos outros. 

O carro parou em frente ao aeroporto, sai do carro  sem entender nada e Miguel ainda sorridente foi puxando a minha mão para dentro.

-Miguel, o que fazemos aqui?-perguntei virando para ele e seus olhos azuis cintilantes indicaram-me para olhar para frente.

Não consegui reconhecer de primeira, não podia acreditar. Largando a mão de Miguel corri para os braços dela e a forca com que colidimos fez com que caíssemos no chão de joelhos. Chorava sem conseguir solta-la e minha me continuava a afagar meu cabelo dizendo em meu ouvido:-Miyela wa nyanga.

Não sei quanto tempo se passou mas rápido os flashes despertaram a minha atenção, como eles conseguiam chegar tão depressa? Segurei na mão de minha mãe e cobertas por Miguel e Dário entramos no carro. Aos poucos a consciência voltava ao lugar, como assim? Minha mãe estava mesmo em Portugal! Olhava continuamente pelo retrovisor para ter a certeza que não era um delírio, ela observava  e emocionada coloquei minha mão sobre a perna de Miguel sussurrando um obrigada.

Amélia 2 [CONTINUA]Onde histórias criam vida. Descubra agora