Cap.14-Precipitada

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Estar grávida é um avalanche, parecia que depois daquela confirmação meu organismo começou a adaptar-se à notícia, de repente todos os sinais e sintomas de gravidez vinham ao de cima e eu só queria que aquele tormento passasse.

A cada dia que se passava mais ansiosa ficava, queria saber se era menina ou menino, se teria os olhos de Miguel e me questionava se seria uma boa mãe. Os desejos vinham sempre pela madrugada: na sua maioria impossíveis de realizar, e os enjôos pela manhã: sem nenhum dia de descanso.

Dormia mais da conta e controlava a barriga no espelho esperando ver alguma coisa, seus contornos começavam a mudar lentamente, não via a hora de estar completamente redondinha mas tinha tanto medo desse momento também pois aí não teria mais como escondê-la. Ainda não tinha contado nada para a minha mãe, os únicos que sabiam eram Suzy e Moreno.

Estava preocupada, uma grande campanha se aproximava e era uma grande chance para eu me destacar na empresa, quem sabe até participar de alguns trabalhos fora de Portugal. Não queria que eles soubem até lá sobre o que estava a acontecer, Marília se passaria com certeza e Afonso já nem digo.

Mas acima de tudo preocupava-me com Miguel, ninguém sabia dele e a ansiedade queimava o meu peito. Onde será que tinha se metido? Doze malditos dias e nada dele!

Com o orgulho que tinha recusava-me a ligar para ele mesmo sabendo que provavelmente seu celular estivesse desligado pois várias pessoas já haviam tentado a mesma via, não queria correr o risco da minha chamada ficar pendente no seu registro de chamadas e dar-lhe o gostinho de achar que lhe estava a perseguir.

De Miguel eu não queria mais nada a não ser assumir o nosso filho e participar da vida dele!

Respirei fundo com o pensamento,era hora de trabalhar, rodeada de todas as maquiadoras e assistentes deixava que borrifassem meu cabelo, meu rosto, minha pele... Era horrível, o perfume de cada uma delas contrastava com o da outra, era tão tangível no ar, estava tão enjoada.

-Amélia passa-se alguma coisa?-perguntou-me uma delas e eu concordei engolindo o refluxo que vinha.

-Você vai querer alguma coisa antes de começarmos?-perguntou a outra.

-Uma água por favor.-pedi educadamente e ela saiu em busca do meu pedido.

Desta vez não iria fazer parte de nenhum comercial ou sessão fotográfica, eu seria a modelo de um vídeo clipe. Estava entusiasmada e assustada ao mesmo tempo, era um grande passo a dar, só eu fui escolhida entre tantas colegas quase que idênticas a mim em pele, altura e até cabelo.

Flashback on:

No dia seguinte à tremenda descoberta da gravidez cheguei atrasada na empresa, Marília gritando explicou-me o que se passava, um novo trabalho que estava a ser muito disputado.

É claro que o queria também!

Todas as migalhas eram importantes afinal de contas daqui para frente teria um bebé para sustentar, precisava de dinheiro: tinha de comprar um apartamento com condições para o desenvolvimento saudável dum bebé, precisava preparar-me com a viagem de volta para Moçambique para mostrar o bebé à família e aos defuntos e acima de tudo: organizar o parto e todos os cuidados para nós dois.

-Que trabalho é esse? Eu quero!-disse convicta e Marília riu.

Na fila várias modelos negras, inclusive Melissa... Todas olharam para mim com o olhar gélido, estaria eu a fazer alguma coisa de errado?

-Oi meninas!-disse entusiasmada juntando-me a elas mas a maioria não respondeu.

Estranho!!!

Amélia 2 [CONTINUA]Onde histórias criam vida. Descubra agora