Cap.21-Resgate

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Miguel

Não conseguia comer, dormir, trabalhar, nem sequer tomar banho. Estava perdido e por várias vezes chorava em silêncio na madrugada. Nunca fui tão crente quanto naquelas semanas, rezava dia e noite por alguma notícia e pela primeira vez em muito tempo eu decidi visitar o carrasco do meu pai.

-Miguel, como estás filho?-perguntou minha mãe abraçando meu corpo como um menino, precisando de seu colo abracei-a de volta tentando amenizar a dor.

A notícia espalhou-se rápido, meio mundo sabia daquilo e a mídia caía encima de mim constantemente, estava cansado, tudo ruía num efeito dominó e só piorava.

Estava impaciente, a única coisa que sabia até então é que Raquel a levou e o carro foi encontrado numa rua abandonado. Não havia sinais dela, a polícia andava atrás de Raquel há dias mas ela não estava em casa nem em parte alguma, ninguém sabia onde ela poderia ter se metido, desesperava-me de tão preocupado.

-Como ele está?-perguntei ignorando a pergunta dela, não precisava responder, meu olhar perdido falava mais que mil palavras.

-Mal Miguel...Mal.-disse enquanto caminhavamos para o quarto dele.

Ignorava o frio que percorria a minha espinha, durante aquele tempo todo ignorava o que estava a acontecer com ele, não porque não me importava mas por medo de me importar demasiado, ele com certeza não merecia.

Adentrei pela porta e o vi estatelado na cama, seu rosto pálido e cansado com o suporte de oxigénio, tentava impedir o meu coração de apertar tanto ao vê-lo daquele jeito mas não conseguia.

-Mãe deixa-nos sozinhos por favor.-disse com a voz rouca e ela obedeceu em silêncio retirando-se.

Assim que a porta fechou atrás de mim deixei a lágrima seca cair de meus olhos, eu era um ser humano afinal de contas e ele apesar de tudo era meu pai. Sentei-me ao seu lado e segurei na sua mão com força.

-Pai.-sussurei.-Porquê?-continuei deixando o barulho intermitente dos aparelhos responder-me.

-Eu não sei o que fazer...-tentei segurar as lágrimas mas estava cansado de fingir.-Eu falhei, eu falhei como filho, como namorado, eu falhei como homem. O senhor tinha razão, eu sou inútil.-concordei sozinho e expirei o ar contido em meus pulmões.

-Eu só precisava estar lá do lado dela o teu tempo mas como sempre eu...-não consegui terminar.

O som descontrolado do monitor dispertou a minha atenção, o que estava a acontecer? Com o coração a mil levantei-me para chamar a enfermeira, minha mãe que aguardava do lado de fora assustada veio até a mim enquanto a equipe médica entrava no quarto.

Tudo aconteceu tão rápido que eu não consegui acompanhar com meus olhos, segurei na minha mãe que tentava entrar no quarto e então eles fecharam a porta, a última imagem era deles a ligarem aquela coisa de reanimar o coração, eu sabia porque já a tinha visto milhares de vezes nos filmes, é tão estranho passar pela mesma cena na vida real.

-Ai meu Deus Miguel, o que tu disseste para ele?-perguntou aos prantos minha mãe e senti a acusação em suas palavras.

O coração apertou, ela sempre ficava do lado dele no final das contas, seu marido era a sua primeira escolha em detrimento de todas as coisas.

Zum zum zum...

Meu celular vibrou em meu bolso despertando todos os meus sentidos, meu sangue começou a circular ao contrário, segurei-o desesperado e na tela o nome de Ross aparecia enquanto o celular continuava a tocar feito louco.

Amélia 2 [CONTINUA]Onde histórias criam vida. Descubra agora