Cap.25-Anjinhos

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Acordei decidida na manhã seguinte, mesmo que Miguel insistisse para eu ficar em casa e repousar me recusaria. Precisava enfrentar o medo e voltar para a minha rotina, se eu queria que parassem de olhar para mim como a vítima precisava parar de agir como uma.

Vestida para matar, maquiagem chamativa e os cabelos avolumados desci as escadas ouvindo o salto da bota castigar cada degrau.

Os risos deles preenchiam o espaço, um leve sorriso formou-se em meu rosto, aproximei-me da cozinha e lá estavam eles, tomando o pequeno-almoço.

-Bom dia.-disse para eles.

Silêncio, Miguel olhou para mim de cima a baixo e franziu a testa, eu conhecia aquele olhar, era o prenúncio de que meu bipolar estava de volta mas eu estava pronta para a briga.

-Bom dia filha.-disse minha mãe descontraída levando a chávena à boca.

-Aonde pensas que vais?-perguntou Miguel irritado e eu engoli em seco.

Olhei dele para a minha mãe que ficou um tanto séria prevendo que algo bom não estava por vir.

-Ah... Vou trabalhar.-disse descontraída abrindo o armário para retirar a barrinha de cereais, não que eu realmente quisesse comer aquela barrinha, mas precisava afastar-me daquele olhar chateado.

-Não, não vais.-disse sério e eu virei-me para ele aborrecida.-A tua licença ainda não terminou e mesmo que tivesse terminado eu não deixaria na mesma.-continuou e eu ri sarcástica.

-Tu não deixarias?-perguntei em retórica.-É a minha vida!-disse irritada.

-Amélia!-berrou.-Não sejas teimosa.-disse levantando da cadeira, vi com o canto do olho minha mãe pousar a chávena.

-Eu vou... deixar-vos sozinhos.-disse ela chamando a nossa atenção, levantou-se e então desapareceu da cozinha.

Eu sabia que ele tinha razão, não podia arriscar-me tanto só para provar para mim mesma que era forte. A imprensa iria cair em cima de mim assim que cruzasse a agência, não sabia se aguentaria a pressão da mídia mas só iria descobrir se passasse por aquilo.

Miguel caminhou para perto de mim, coçou a cabeça e inspirou fundo, eu sabia o que ele ia dizer ou pelo menos imaginava.

-Miguel, eu estive trancada por duas semanas naquele galpão fedorento, mal via a luz, não posso continuar trancada aqui.-disse apelando.

-Tu não estás trancada, sempre que quiseres dar uma volta com a tua mãe, Dário vos levará e...-começou mas rápido cortei o seu discurso.

-Eu preciso retomar a minha vida.-disse sincera.-Eu sei que tu estás com medo que alguma coisa aconteça, eu também estou. Mas é exatamente isto que Luís quer que aconteça, que eu pare de viver e sofra a cada dia recordando-me dele.-conclui lembrando de seu rosto, os cabelos grisalhos e aquele sorriso implacável.

-Amélia...-tentou refutar mas segurei-o pelas mãos.

-Miguel por favor.-disse baixinho como uma adolescente que pede à mãe para ir a festa de uma amiga.

Demorou algum tempo para ele responder mas quando finalmente concordou com a cabeça expirei todo ar contido em meu pulmão e abracei-o.

-Mas... Dário vai continuar a acompanhar-te para onde quer que seja, isso não está em discussão.-disse sério e eu concordei séria também mesmo que meu coração estivesse a dar pulinhos de alegria.

-Agora toma o teu pequeno-almoço, vou só buscar o casaco e já levo-te.-disse depositando um beijo na minha testa e saindo em direção ao quarto.

Amélia 2 [CONTINUA]Onde histórias criam vida. Descubra agora