Cap. 22-Vazio

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Miguel

Enquanto aguardava minhas mãos não paravam de tremer, aquelas foram as piores horas da minha vida, nossas memórias misturavam-se na minha mente, tentava impedir que as lágrimas caíssem, precisa ser forte: por ela! Suava frio e prometia que nunca mais sairia de perto dela, eu a protegeria dessa vez, se eu pudesse ter só mais uma chance eu faria tudo diferente.

-Amelia Cossa?-perguntou o homem de jaleco branco, levantei-me engolindo o pavor que paralisava todo meu ser.

-Sim Doutor.-respondi com os olhos molhados, conseguia sentir o rubor em meu rosto.

-O que é para a paciente?-perguntou sério.

-O mar... Quer dizer, o namorado!- respondi com a voz rouca diante da expressão triste do médico.

-Sr...-disse abrindo uma das fichas em sua mão e com a caneta anotou alguma coisa enquanto   eu engolia em seco.-Miguel.-leu por fim.-Bem... Amélia passou por um processo traumático e vai levar algum tempo para recuperar, é importante que a família tenha paciência com ela e faça parte do acompanhamento psicológico a que será submetida, evite fazer demasiadas perguntas quando ela acordar, sim?- ia dizendo enquanto eu o seguia para o quarto onde ela estava internada.

-Claro Doutor.-dizia com a postura de homem que era mas a minha vontade era de gritar para todo mundo ouvir que ela estava bem, minha amada ainda estava ali, eu ainda tinha uma chance de fazer tudo diferente, sentia-me vivo porque ela também vivia.

 -Nossa equipa fez tudo que estava ao nosso alcance para salvá-la, porém os exames revelaram uma alta quantidade de sedativo que infelizmente culminou em aborto, eu lamento muito!-disse sério segurando em meu ombro mas eu não consegui assimilar a informação.

-Desculpe? O que foi que disse?- perguntei sem querer acreditar no que acaba de ouvir.

-Amélia perdeu o bebé, eu sinto muito!-repetiu com pesar mas minha mente continuava a não processar, as palavras repetiam-se na minha cabeça mas mesmo assim não as compreendia.

-Amélia estava grávida?-perguntei um tanto alterado desta vez e o médico concordou confuso.

Transtornado dei-lhe às costas e comecei a correr para fora do hospital, a visão estava turva, segurei-me à  parede de um dos corredores, mal conseguia respirar. Meu filho estava MORTO! 

Enraivecido soquei meu punho na parede praguejando em todas as línguas, a dor irradiou-se por todo braço, com certeza havia fraturado uma das minhas falanges mas nada doía mais do que aquele vazio em meu peito. Como ela foi capaz?

Ao passo que me sentia traído por Amélia, sentia também culpa, se eu não tivesse acreditado naquela armação estúpida de Valéria tudo seria diferente. Precisava crescer! Assumir minhas responsabilidades e meu papel, naquele momento o meu papel era ficar ao lado dela, não havia tempo para choramingar... Amélia precisava de mim. Se aquela perda estava a doer em mim com aquela imensidão, não imaginava como ela ficaria.

Raiva, revolta, vingança.

 Eu iria matar Raquel, Luís e seja la quem mais tivesse contribuído para que aquilo acontecesse.

-Está tudo bem?-perguntou uma das enfermeiras que passava pelo corredor chamando a minha atenção e eu concordei dando meia volta para o quarto de Amélia.

Antes de entrar segurei no celular e liguei para minha secretaria:-Lin!-disse assim que a ouvi atender.-Prepare a passagem e todas as condições para a viagem da Dona Rita, eu trato do resto.-disse por fim e desliguei.

Amélia 2 [CONTINUA]Onde histórias criam vida. Descubra agora