Cap. Bônus Miguel

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Olhava para ela dormindo, meu anjinho esculpido só para mim, toquei na pele macia e arrepiada pelo frio, cobria-a melhor, o semblante descansado e os cabelos encolhidos pela manhã com o cheiro de côco que me embriagava todos os sentidos.

Normalmente Amélia é que me despertava mas no último mês tudo mudou,o estúdio precisava da minha atenção e o melhor caminho para o sucesso é acordar antes da cidade despertar, não?

Dei um beijo em seu pescoço e ouvi-a balbucear algumas palavras possivelmente sonhando, sorri inspirando o seu cheiro, como queria que tudo voltasse a ser como a poucos meses atrás.

-Amélia, eu já vou para o estúdio.-sussurei envolvendo-a em meus braços e ela resmungou preguiçosa.

-Querida acorda... Eu não quero ir embora sem te ver sorrir para mim.-disse dando beijinhos nela e aos poucos ela abriu os olhos bocejando.

-Tu tens mesmo de sair tão cedo Miguel? Ainda são...-virou-se para encarar o despertador e voltei-se para mim.-Um quarto para às 6.-disse assustada.

-Eu sei...eu sei ...-tentei tranquiliza-la.

-Miguel, tu não tens dormido direito. Olha para as tuas olheiras.-falou segurando meu rosto como se de um menino se tratasse e acariciou as minhas bochechas.

-Sabes Amélia, quando tu fazes isso fica ainda mais difícil sair daqui.-disse olhando para ela com desejo, eu sabia onde aquilo iria terminar, havia um ímã sexual entre nós e se aquilo começasse me iria atrasar.-Eu acho melhor eu ir andando.

-Ei...-segurou-me pelos ombros impedindo que fosse.-E o meu primeiro beijo da manhã?-perguntou sedutora e quase que automaticamente debrucei-me para beija-la.

Como aquilo era bom, paz e sossego entre nós depois da tempestade. Nossas línguas dançavam em sintonia, seu corpo pequeno e frágil por baixo de mim, ela me enlouquecia tanto.

-Amélia...-disse ofegante e ela concordou percebendo no que aquilo iria dar.

-Vais conseguir voltar a tempo do jantar?-perguntei para ela lembrando do evento beneficente de que me havia falado, em Sintra.

-Claro... Bom trabalho Miguel.-respondeu sorridente e guardando aquela imagem dela na cama em minha mente fui embora.

Estava aliviado para falar a verdade, se ela soubesse que era o meu aniversário tentaria fazer alguma coisa especial, quando soube que iria para Sintra só foi mais um motivo para não dizer nada, aquele dia só recordava coisas tristes.

Passei do quarto de Ana Paula, depositei um beijo em sua testa e finalmente saí. Era estranha aquela sensação, de calmaria e bem-estar, sentia que estava no lugar certo com a pessoa certa e não conseguia parar de pensar na possibilidade de criar uma família com ela para sempre.

Mas não queria ser precipitado,depois de Valéria o medo de ser magoado e dar passos maiores que as pernas me prendia, paralisava todo o meu ser, era melhor assim, tudo estava perfeito do jeito que estava.

Cheguei à empresa mal disposto, por muito que quisesse ignorar aquela data, a mente maldita continuava a insistir em me recordar de tudo todos os anos.

Flashback on:

-Pai não vás.-disse com a voz de menino segurando-me á sua calça.

-Larga-me seu fedelho.-disse meu pai irritado enquanto continuava a chorar.

A exportação do vinho Vasconcelos havia começado e é claro que o sétimo aniversário de seu primogénito não tinha a mínima importância para o ser António Vasconcelos naquele momento.

Amélia 2 [CONTINUA]Onde histórias criam vida. Descubra agora