Cap.29-Sem Fim

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Sem Fim era o nome do restaurante que Miguel insistia ser onde deveríamos jantar àquela noite. Depois de uma longa soneca pela tarde por causa do cansaço da viagem nunca o tinha visto mais elétrico. Estava frio e apetecia-me ficar em casa, colada à lareira com um copo de vinho partilhando a manta cinzenta como sempre via nos filmes.

Mas não! Miguel não estava disposto a ceder pelo que fui obrigada a levantar da cama e preparar-me para a farra. Coloquei as botas, o cascol e um enorme hoddie que passava os joelhos, por baixo do vestido preto a lingirie, sim a tão esperada do aniversário de Miguel.

Não queria esperar mais, não podia esperar mais e mesmo fingindo bem eu sabia que Miguel também não, seus olhos em chamas me devoravam e a almofada que usava entre nós em algumas madrugadas o delatava, aquela noite seria o máximo com certeza.

As pequenas lâmpadas espalhadas pela ruelas estreitas me encantam, como se pequenas estrelas sobrevoassem nossas cabeças iluminando até os mais terríveis pensamentos. Pensamentos esses que não me deixavam relaxar completamente, talvez Miguel acreditasse que Luís tivesse desistido mas eu tinha um mau pressentimento, quanto mais silencioso e sorrateiro o inimigo for mais certeira a morte.

Ignorei veementemente o medo que me assombrava, estávamos distantes de tudo e todos, podia respirar a vontade e aproveitar um pouco da minha viagem.

-Uma flor para uma flor.-entregou-me um empunhado de gérberas amarelas da florista ambulante que sorriu com o seu gesto.

Agradeci sem graça enquanto a senhora fazia um arranjo rápido e as devolvia para mim.

-Formam um lindo casal.-seus lábios proferiram com a fumaça típica do inverno enquanto Miguel recebia o troco e corríamos como se chovesse para o tal restaurante.

-Wau, isto é bem mais animado que o resto da vila.-disse enquanto nos sentávamos.

Monsaraz era uma cidadela bonita, calma e harmoniosa mas nada tinha haver com o pub restaurante onde estávamos. O contraste da calmaria estava por detrás daquelas paredes espessas e alcatifadas com favos de ovos escuros.

-E tu querias ficar em casa...-julgou meu amor provocativo e eu afinei os olhos ameaçadora enquanto o garçom chegava.

Escolhemos o que queríamos enquanto eu olhava para as pessoas na pista um tanto distantes de nós, pareciam tão despreocupadas, daria tudo para ser como elas só aquela noite.

-E por quê não?-ouvi a voz de Miguel questionar meu pensamento e assustei-me, se calhar tivesse falado em voz alta ou simplesmente ter levado muito tempo para responder pelo que ele continuou.-Porquê não dançar enquanto esperamos?-perguntou sorridente e eu sorri de volta.

Miguel estendeu a mão para mim e saiu arrastando-me para o meio da pista, o DJ como se tivesse adivinhado colocou alguma música slow a tocar nas colunas abafadas, as luzes vermelhas néon envadiram o espaço e o pedaço de mau caminho abraçou o meu corpo com cuidado como se de algo frágil se tratasse.

Começava a sentir calor, as pernas malditas começaram a vacilar enquanto ele guiava nossos pés pela pista, vi pela visão periférica alguns solteiros desistirem da pista e voltarem para as suas mesas enquanto os apaixonados tentavam cada um do seu jeito fundir-se à metade da sua laranja.

O cheiro de madeira e terra fresca do perfume de Miguel invadiu as minhas narinas, seu nariz se colou ao meu pescoço e a mão que antes estava no meio das costas agora descera mais um pouco, a ansiedade tomou conta de todo o meu ser, meu coração batia descompassado ao ritmo da música.

-Miguel.-queria pedir-lhe para irmos embora o mais rápido possível mas antes  sequer de fazer o pedido Miguel empurrou-me num giro esplêndido que me fez sorrir.

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⏰ Última atualização: Feb 20, 2021 ⏰

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