18° Capítulo

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Tomei de raspão um tiro de borracha que eu nem sequer senti, eu só queria ir embora, mas ainda tive que ir parar na delegacia para prestar depoimento. De frente à mim me encarava uma delegada filha da puta, desgraçada de tão séria que agia.
Micaella: Sim, desde cedo estava uma movimentação estranha e eu passando todo o ocorrido para o meu patrão. -conto meia cansada; sendo aberta com ela.
— E como você sabia que dali aconteceria um possível assalto?
Micaella: Eu vim de comunidade e posso te garantir que eu sinto quando algo está estranho, por acontecer.
— Sente, como assim? É vidente? — Pressupõe cruzando, entrelaçando uma mão à outra.
Engulo à seco, ela me encarava friamente -mais que o normal para sua profissão- como se eu fosse à  mandante daquela merda.
— Vejo aqui que seu pai era um homem de extrema periculosidade e era procurado com recompensa de cinco mil reais, suspeito de tráfico de drogas, mandante de trés homicídio doloso a policiais e também consta aqui formação de quadrilha, porte de arma ilegal,  hm... -Ditava enquanto analisava a tela do pc mordiscando a tampa da caneta- Atualmente com o cpf cancelado ou seja, morto, e seu corpo não encontrado.
Micaella: Eu não sou o meu pai, eu não sou bandida! -rebado -perdendo a linha- Sou trabalhadora pra cacete!!! -Digo me exaltando; ela me corta com um shhh- Jamais que eu iria mandar assaltar o meu estabelecimento de trabalho, se é isso que a senhora está querendo insinuar.
— Isso é você quem está dizendo... Eu não insinuou, será você quem não conhece interpretação!? Tudo bem Micaella, obrigada pelo seu depoimento e está liberada.
Me levanto com o braço latejando no local do tiro, um polícial me entrega o meu celular após dizer que corro o risco de ser chamada se caso houver suspeitas no meu depoimento. Agora tu vê, eu vítima dessa porra.
Micaella: Se quiser, podem agarrar o meu celular desde já. -Digo putaça, saturada ainda mais depois dessa delegada fodida com insinuações- Podem puxar o fundamento que quiserem que não vão encontrar absolutamente nada, não dá em nada! -enfeso.

Peguei uma van mesmo na Central do Brasil, pra casa. Só quero descansar a minha mente, esfriar a minha cabeça e esquecer esse ocorrido.

Ao chegar, minha rua estava lotada, minhas amigas tudo chorando, vizinhos fofoqueiros de montinho... Desci do moto-taxi já emocionada com aquilo, ah não... Fabí e meu viado vieram na minha direção me abraçando, minhas primas...
Fabrícia: Porra cara, como tu está amiga?? Que isso, tu tá bem? -perguntava com as mãos no meu rosto, visivelmente preocupada- Acompanhamos tudo pela televisão cara.
Micaella: Bem não tô, mas estou viva.
Daniel: Caralho mana, a gente já estava indo atrás de você nas delegacias.
Micaella: Obrigado amores, amo vocês! Só quero descansar, tire esse povo da minha porta e os avise que estou sem cabeça e só quero minha cama.
Daniel: Teu bofe está doidinho, ficou sem ter o que fazer né?! Dizem que ele chorou e tudo, falou que vai rodar as favela toda pra saber de onde veio esse assalto.
Micaella: Ele é demais, só quero entrar. -replico.
Agradeço a preocupação de todos, mas nesse momento eu só quero o meu lar de verdade, estou sem estruturas, demasiadamente abalada e sem estruturas nenhuma.

Tomei um banho e ainda nem chequei o meu celular, chorei à beça do mais puro desespero. Não consigo acreditar no que aconteceu, não fixa na minha mente uma coisa dessa, a ficha meio que não cai...
Fabrícia: Come alguma coisa Mimyca, pelo menos.
Micaella: Quero não amiga brigado.
Daniel: Mona tu vai comer sim, ficou horas refém daqueles lixo e sem comer, tá doida?
Me obrigaram à comer, ficaram comigo até tardes da madrugada e quando o Alexandre apareceu foram embora.
Xandinho: Que isso, nem sabia que tu já chegou amor. -Falou um tanto abatido.
Ele me abraçou nervosão.
Micaella: Foi horrível cara... Como vocês conseguem?
Xandinho: Filha não é hora de falar disso; como tu tá minha vida? Caralho, pensei que porra...na moral, eu te falo Micaella, larga essa porra cara...
Micaella: Alexandre, você tem alguma coisa a ver com isso? -indago, sendo direta.
Xandinho: TÁ MALUCA?? Loja da minha mulher rapá, tá louca porra! Viaja não oh.
Tornei à chorar numa angústia, num medo indescritível. Fomos pro quarto e eu me agarrei nele sem soltar.
Xandinho: Isso foi tiro no teu braço? Caralho que esculacho, que isso... Porra filha, olha pra mim. -Falou virando meu rosto; com os olhos poçados- Larga essa merda, olha só o preju pô olha o risco que tu, porra... Isso é vida não, sei que tu é correria também, mas tipo como, tu quer uma loja de jóia? Eu abro pra tu pô dentro da favela, né isso que tu gosta de fazer?
Micaella: Não Alexandre, não. -Digo cansada- Não é isso, não quero nada.
Xandinho: Abro pra tu pô, pra você não ficar se arriscando aí fora nessas loja sem proteção nenhuma, cana é proteção? Tomou um tiro porra, podia ter morrido caralho.
Ele pesou na minha cabeça de uma forma diferente e dessa vez ele dizia coisas que faziam total sentido, e mais uma vez ele tem razão! Só que não é por ele, é por mim, por mim eu vou abrir mão do emprego que eu tanto gosto... Estou decidida. Isso foi o ápice!
Basta!

Acaso Libertino 💣⚡- Concluída Onde histórias criam vida. Descubra agora