Deixa

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Melissa falando
"Preciso de tempo"  e já se passaram dois meses desde então.
O André não se afastou de mim, muito pelo contrário, aproximou-se, bastante. Acho que para me voltar a dar confiança. Começou a comportar-se de uma forma mais fofa comigo, mais cuidadosa e carinhosa para diminuir o meu medo até ao ponto de me voltar a entregar a ele.

Não era fácil. Não conseguia esquecer.  A prática do bdsm é uma violenta, víciosa, de onde ambas partes têm que sair beneficiadas.

Dor e prazer. Duas extremidades que imbinadas, com a mesma dose, criam um perfeito cocktail de sentimentos e sensações.

Muitos dizem que no sexo não existe limites, talvez no sexo normal, corrente, mas na prática do bdsm, onde a violência e o extremo são as chaves que definem a essência do bdsm, há limites que precisam ser tomados em conta e respeitados.
Uma das regras básicas que o dominador tem que respeitar é o limite físico e psicológico da submissa e o André passou por cima disso:

- Melissa! —de tão ligada que estava aos meus pensamentos não tinha ouvido as dezenas de vezes que o André tinha chamado por mim. São os dedos dele a estalar á frente dos meus olhos que me devolvem a realidade—

- Hmm?! Que foi?

- Em que pensas? —encolho os ombros—

- Em nada... —não posso dizer que estava com medo dele. Não estava. Estava com medo de voltar a entrar no jogo de submissão. Não posso dizer que me negava completamente a isso mas estava insegura de mim mesma. Da minha capacidade como submissa e da confiança que tinha no André—

- Babygirl... —"babygirl"...á meses que ele não me chama assim. Lembro-me que da última vez que me chamou assim não obteve resposta. Porque? Não sei, trauma, talvez—

- Hmm? —desvío o olhar da parede em branco, por tanto analisada por mim e pelo meu olhar perdido, para procurar, e encontrar, o olhar dele de sorpresa por ter respondido ao chamado dele—

- A minha bebygirl está de volta?

Respiro fundo tentando encontrar a resposta certa a essa pergunta. Estava? Estava disposta a entrar de novo neste jogo de sedução perigoso?

- Suponho... —inseguridade. Era o que o meu rosto e a minha voz transmitiam... "Tenho que mudar isso" —

- Tens a certeza?

- Não —digo assim que oiço a pergunta e volto a desviar o olhar—

Não conseguia entender o porquê deste meu conflito interior, mas sabia perfeitamente que dar tantas voltas ao assunto só me ia fazer sucumbir mais na inseguridade. Estava a piorar sozinha o meu estado de medo e a aumentar os dilemas que tanto atormentavam a minha mente:

- Deixa-me dar-te prazer de novo —não tinha percebido o momento em que ele se aproximou desta forma. Estávamos, literalmente, a milímetros de distância, com ele a acariciar o meu rosto com tanto cuidado que dava-me a entender que tinha mais medo do que eu... "É possível isso?"

- André...não...

- Quero senti-te Babygirl, quero ouvir-te. Ouvir-te implorar por mim e ver como o teu corpo pede, a gritos, para me ter dentro e fazer-te delirar de tanto prazer.

>> Tenta. Deixa-te levar Melissa. Relaxa e disfruta do momento.

E decido tentar. Não sei se pelo o que ele disse ou por vontade própria a mais uma tentativa de prazer mas deixo-me levar.
Permito-me disfrutar as carícias e os pequenos beijos que ele vai espalhando pelo meu decote e pescoço até chegar aos meus lábios e devora-los com um desejo que não tinha presenciado, dele, até agora.

Durante o beijo o André aproxima-me dele até ficar sentada sobre ele, com as minhas pernas posicionadas uma de cada lado e logo asseguir interromper o beijo com uma leve mordida de lábio.

Não tinha percebido até esse então, a pressão que ele fazia sobre as minhas coxas com a ponta dos dedos e a intensidade com a que me olhava.
Pega-me ao colo e começa a subir as escadas, levando-nos para o segundo andar, ou seja, para um dos quartos.

Não fazia falta falar. Neste caso as palavras eram substituídas por atos. Atos que ele encarregava-se de demonstrar da melhor forma.

Ultima porta da direita, o quarto dele. É a primeira vez que entro no quarto dele. Um pouco exagerado, na minha opinião. Sei que é amante da cor negra mas ter as paredes pintadas de negro e a decoração da mesma cor é exagero...

Observava tão atentamente o quarto do André que só percebo que não estava mais nos braços dele, no momento em que o corpo dele para de me dar calor ao se afastar um pouco e ajeitar-se melhor entre as minhas pernas:

- Apenas relaxa. Tira qualquer dúvida ou pensamento da tua mente e disfruta —o tom de voz dele era muito calmo, os toques e as palavras eram fofos e transmitiam confiança e o sorriso perverso dele exatamente o oposto...um contraste muito grande—

Acho que foi a primeira vez que ele não exagerou na força soltando o lado sádico dele. Contrôle? Com certeza. Força de vontade? Muita. Desejo? Nem se fala.

Tinha sido o daddy mas não parecia ter sido. Foi muito diferente a tudo o que tinha vivido antes como babygirl.
Nessa noite tinha dormido no mesmo quarto que ele, abraçados:

- Bom dia Baby girl! —oiço a voz do André, ainda sonolenta, atrás de mim—

- Bom dia Daddy!

- Vou trazer o pequeno almoço, queres vir também?

Dedico-me exclusivamente a negar com a cabeça. Ele deixa um pequeno beijo na minha testa e sai do quarto.

A noite passada pode ser catalogada como uma noite de amor, but...

"Can I call it "love"?"...

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