O Fim Do Começo

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- E o que te faz pensar que eu quero ser tua sócia?

- Melissa, precisas de um sócio e um capital. Eu tenho esse capital e posso ser o teu sócio. Conformo-me com qualquer percentagem de ações que me deres.

- André, eu tenho esse capital e não te quero como sócio. Mete isso na cabeça e para de andar atrás de mim como uma criança medrosa á procura da mãe.

- Melissa, para de ser casmurra e orgulhosa e aceita o meu trato. A minha oferta é muito boa.

- André, para tu de fazer figura triste. Olha bem para ti —dou uma repasada rápida enquanto digo isso...esta nervoso e algo inquieto. O batimento constante de pé, por baixo da mesa, os músculos tensos, a força com a que segura as chaves e o movimento contínuo dos olhos dele demonstram isso— estas desesperado André

- Não é verdade...

- Além do mais...ofertas como a tua encontro ao virar da esquina. Para de te intrometer na minha vida e tentar ter algum controle sobre ela —levantó-me, irritada e ele repete o gesto de forma apressada para me apanhar—

- Tu és minha Melissa e eu não vou desistir de nós. Vais voltar para mim, garanto.

- Tua? —uma expressão neutral é a qué substitui a minha raiva momentânea. Ainda de costas para ele, começo a olhar para um ponto fixo no momento em que a minha memória involuntária "ativa" vários flashbacks de nós que invadem o meu cérebro numa fração de segundo— define "minha", André...

Se há algo que eu apreciou, é a incapacidade de esconder sentimentos, expressões, pensamentos, reações. Ver, a apenas uns centímetros de distancia, a dilatação das pupilas, causado pelo medo refletido na intensidade presa entre aquelas barreiras de cor, chamadas "íris".

>> Não consegues? Queres que te diga eu o que significa para ti ser-se "tua"? Tu achas que tens o direito de controlar as pessoas, achas-te no direito de decidir tudo por elas. Priorizas o teu lado de dominador para te impor, para impor um respeito e um domínio que na realidade não tens. Rebaixas uma mulher porque fizicamente é mais fraca do que tu e tomas isso como vantagem para poder aceder ao psicológico dela. Mas o teu lado fraco acaba por te dominar e apaixonas-te pelo o teu "brinquedo sexual". —digo essas duas últimas palavras de um modo mais carregado para expor uma ideia que, de certeza, não entendeu— Fizeste merda, aceita e vive com isso.

- Já falamos sobre isto antes...

- E volto a repetir. Perdeste André. Não vais voltar a ter ou a tocar num ser que nunca te pertenceu. Ser "tua" não significa teres o meu corpo, dominares o meu ser ou estares ligado a mim por intermédio de uma filha. Para ser "tua" terias de ouvir isso sair da minha boca de livre e espontânea vontade, não por obrigação, não por resposta mas sim porque assim me sentia e isso queria.

Dizer que chamei a atenção seria pouco. Todas as pessoas daquele restaurante estávam atentos á conversa, de igual forma que sorprendidos e intrigados e o André não sabia como reagir. Parecia que estava num estado de bloqueio psicológico, um congelamento emocional que nem ele conseguia controlar

>> Hoje, de ti, eu já não quero nada. Não preciso de ti nem muito menos do teu "amor" tóxico e obsessivo. Não soubeste manter do teu lado aquela que caiu no teu jogo de submissão e que um dia aceitou o teu pedido de casamento...Queres uma demonstração de como eu não te pertenço?...Pois bem, enquanto tu lutas para não perder a dignidade que nunca tiveste, desde um canto, vê-me a mim a crescer na luz do dia e a brilhar nas sombras.

*Foi uma das pessoas que mais impacto teve sobre a minha vida, talvez aquela que mais me afetou. Mas não, não sou capaz de perdoar, não sou capaz de apagar tanto erro consciente ou inconsciente, voluntário ou involuntário.

Vou superar tudo isto e demonstrar, uma vez mais, que não preciso de ninguém para ser...eu*.

Saí do local sem dizer mais nada, disposta a mudar e viver uma vida que não tive, aparentemente, do lado errado.

Fim.

...

*2 years later*

Vivemos num mundo onde o certo e o errado são divisados por dois extremos promovidos pelo ser humano, onde a escuridão é reprezentada pelos vilões e a luz pela população restante.

As pessoas são idealizadas umas pelas outras criando-se apenas um estereótipo integrado numa das esferas criadas.

E, vão conhecer a mudança de uma mulher cuja vida, antes primordizada pela "luz" passou de ser "Sombra".

Can I call it "love"? Onde histórias criam vida. Descubra agora